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24/03/2001 - 09h05

Chávez e Pastrana tentam acalmar tensões

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ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

O presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, chegou ontem à Venezuela para um encontro de dois dias com seu colega venezuelano, Hugo Chávez, numa tentativa de acalmar as tensões nas relações entre os dois países, prejudicadas nas últimas semanas pela revelação de dois casos que indicariam um suposto apoio de Caracas aos guerrilheiros de esquerda colombianos.

Oficialmente, Pastrana afirma que a reunião, na cidade de Guayana (500 km a sudeste de Caracas), tem o objetivo de tratar das relações comerciais entre os dois países, mas, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, eles discutirão casos recentes que provocaram o mal-estar diplomático.

Na semana passada, o diário venezuelano "El Universal" publicou a história de uma suposta ajuda do governo venezuelano ao guerrilheiro Germán Briceño, conhecido como "Grannobles". Ele teria sido resgatado na Colômbia após ter sido ferido e encaminhado para tratamento em Cuba, após ter passado pela Venezuela.

Grannobles, irmão de Jorge Briceño, o "Mono Jojoy", líder militar das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), é procurado pela Colômbia e pelos EUA, acusado de assassinar três indigenistas norte-americanos em fevereiro de 1999.

Chávez negou ontem que tenha dado proteção ao guerrilheiro. "Essa é uma grande mentira. Esse sujeito existe, mas nunca esteve na Venezuela", afirmou.

Pastrana, antes de embarcar para a Venezuela, também negou o incidente. "Em nenhum momento se tratou do senhor Grannobles" afirmou. Segundo ele, um outro guerrilheiro, do ELN (Exército de Libertação Nacional), foi levado a Cuba para tratamento médico a pedido da Cruz Vermelha Internacional.

A acusação se somou ao caso do guerrilheiro do ELN José Maria Ballestas, detido na Venezuela após passar mais de um ano ilegalmente no país.

A extradição do guerrilheiro, acusado de sequestrar um avião Fokker da companhia aérea colombiana Avianca com 40 passageiros, em abril de 1999, foi pedida pela Colômbia, mas negada pela Venezuela, que alegou que a prisão foi ilegal, porque teria sido feita com a participação do serviço secreto colombiano.

O incidente foi contornado com uma nova prisão de Ballestas e um processo aberto contra ele pelo uso de documentos falsos.

Ao ser indagado ontem sobre o caso Ballestas, Pastrana disse que a Venezuela deve "cumprir seus compromissos internacionais".

Os dois casos foram apenas os últimos de uma lista de incidentes que vêm gerando desconfiança entre os colombianos de que Chávez estaria ajudando a guerrilha _ele já fez declarações demonstrando condescendência em relação aos guerrilheiros.

"Se fosse somente retórica, já seria suficientemente grave, mas existem vários indícios de que o território venezuelano está sendo usado como santuário pelos guerrilheiros colombianos", disse à Folha de S.Paulo Oswaldo Álvarez Paz, ex-governador do Estado venezuelano de Zulia e candidato derrotado à Presidência em 1993.

O possível apoio de Chávez aos guerrilheiros já havia gerado preocupação na CIA (agência de inteligência dos EUA) de que o venezuelano estaria tentando exportar seu modelo, que chama de "revolução bolivariana", para outros países da região.

Os casos indicam ainda as diferenças nas relações dos dois países com os EUA. Enquanto Chávez desafia os norte-americanos e se aproxima de alguns de seus principais inimigos, como Cuba e Iraque, Pastrana tem se aproximado cada vez mais dos EUA, principais financiadores, com US$ 1,3 bilhão, do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico.

"A capital da subversão continental está se trasladando de Havana (Cuba) a Caracas. Chávez se refere sempre em termos muito elogiosos, numa retórica revolucionária e inflamada, a todos os símbolos da subversão política internacional, como Fidel Castro e Che Guevara", diz Álvarez Paz, membro do partido oposicionista Copei (democrata-cristão).

Para um dos maiores especialistas acadêmicos colombianos sobre relações internacionais e guerrilha, que prefere ficar no anonimato, o grande erro de Chávez foi politizar um tema _o conflito colombiano_ que deveria ser tratado na Venezuela somente do ponto de vista jurídico.

Segundo o acadêmico, a Venezuela passou a ser parte interessada no conflito. Os demais vizinhos, como Brasil, Peru e Equador, cuidaram de proteger suas fronteiras, mas se mantiveram neutros, o que não vem acontecendo em relação à Venezuela, disse ele à Folha de S.Paulo.

Como consequência, já estão aparecendo sinais de um avanço do conflito em direção ao território venezuelano, com sequestros na região de fronteira e a formação de grupos paramilitares formados por fazendeiros venezuelanos da região fronteiriça para combater possíveis invasões de guerrilheiros, com o apoio de grupos paramilitares colombianos.

Para o acadêmico colombiano, um conflito ampliado seria muito mais grave para todos, mas é o que pode acontecer se a questão não for tratada com muito tato e clareza.

 

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