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26/03/2001 - 08h06

União Européia não deve impor sanções à Itália

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

O presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, afirmou, no início deste mês, que a União Européia (UE) não deve impor sanções à Itália se partidos de extrema direita fizerem parte de seu próximo governo e que qualquer administração européia deve ser julgada por seus atos, não por sua orientação política.

As últimas pesquisas de intenção de voto apontam a coalizão de centro-direita, liderada pelo megaempresário Silvio Berlusconi, como favorita na eleição legislativa de 13 de maio. Fazem parte dessa coalizão o partido pós-fascista Aliança Nacional e a Liga Norte, do controverso líder de extrema direita Umberto Bossi.

Há pouco mais de duas semanas, o ministro das Relações Exteriores da Bélgica, Louis Michel, atraiu a ira de conservadores e radicais italianos ao sugerir que a UE possa tomar medidas contra Roma caso a coalizão de Berlusconi conquiste a vitória eleitoral.

"A declaração do chanceler belga foi, no mínimo, precipitada. Estamos a pouco menos de um mês do pleito, mas a campanha nem bem começou. Quanto a Prodi, não creio que o fato de que ele seja italiano o tenha influenciado. O ponto central da questão é o exemplo austríaco", explicou Anne-Marie Le Gloannec, especialista em UE e diretora do Centro Marc Bloch, um instituto franco-alemão situado na Universidade Humboldt, em Berlim.

A UE aprendeu uma importante lição no ano passado, quando impôs sanções à Áustria em razão da entrada do Partido da Liberdade, do líder de extrema direita Joerg Haider, na coalizão governamental. À época, Bruxelas argumentou que alguns comentários de Haider sobre minorias raciais eram contrários aos princípios fundamentais da UE.

As sanções duraram poucos meses e foram suspensas depois que o parecer de uma comissão de "sábios", que havia visitado a Áustria para observar como se comportava o governo liderado por Wolfgang Schuessel (do conservador Partido do Povo), deu conta de um crescente sentimento antieuropeu no país.

Além disso, Bruxelas sabia que Viena poderia bloquear o funcionamento das instituições européias ao impor vetos retaliatórios consecutivos em várias delas.

Reuniões em Verona

Bossi e Haider tiveram encontros políticos em Verona, no norte da Itália, em outubro de 1999. Contudo o italiano tem tentado manter distância de certas declarações feitas pelo austríaco.

Haider, que já fez comentários simpáticos ao nazismo e campanha contra estrangeiros e contra a expansão da UE, anunciou, há duas semanas, a formação de uma coalizão de partidos conservadores (que, provavelmente, atrairá apenas os mais radicais) para concorrer a cadeiras no Parlamento Europeu, em 2004.

Bossi colocou seus aliados da direita italiana numa situação delicada recentemente, quando propôs a construção de um muro de 260 km de comprimento entre a fronteira nordeste da Itália e a Eslovênia, numa medida para combater a entrada de imigrantes ilegais vindos dos Bálcãs. Essa região enfrenta uma nova onda de violência entre comunidades albanesas e eslavas.

"Bossi não é tão radical quanto Haider, porém também é perigoso, pois defende algumas idéias contrárias aos princípios básicos da UE, que, aliás, também são válidos para qualquer país democrático", afirmou Le Gloannec.

Michel reiterou, em entrevista à revista austríaca "Profil", publicada há duas semanas, sua posição em favor de sanções contra a Itália em caso de vitória da coalizão de Berlusconi. Ele chegou a declarar que Bossi é um extremista que defende idéias fascistas e "estimula o ódio contra minorias".

No entanto Prodi, que foi premiê da Itália de abril de 1996 a outubro de 1998, mantém-se em compasso de espera. "Baseamos nosso julgamento em atos, não na configuração política de quem ganha as eleições", afirmou ao jornal milanês "Corriere della Sera".

"As tarefas da UE são a de observar o comportamento dos governos e a de julgar seus atos. Devemos garantir o respeito aos princípios fundamentais contidos na Carta Européia de Direitos", acrescentou Prodi.

Bossi participou do governo de Berlusconi em 1994, porém provocou sua queda sete meses depois ao deixar a coalizão em razão de disputas sobre a reforma do sistema previdenciário. Ora, esse é um dos problemas mais urgentes que o próximo governo italiano terá de enfrentar.
 

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