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27/03/2001 - 08h18

Após lei de cotas, mais mulheres são eleitas na França

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do "Le Monde"

A paridade entre candidatos dos sexos masculino e feminino na França, aplicada pela primeira vez nas eleições municipais ocorridas em 11 de março (primeiro turno) e 18 de março (segundo turno), fez com que a porcentagem de mulheres eleitas para cadeiras de conselheiro municipal (vereador) passasse de 22% a 47,5% do total de eleitos.

Apesar de o número de prefeitas ter-se mantido baixo em relação à quantidade de prefeitos, ele também cresceu na França.

Em Marselha, no sudeste do país, a situação é inédita. A primeira sessão do Conselho Municipal foi dirigida pelas vereadoras Gisèle Weiss (Democracia Liberal, DL) e Myriam Salah-Eddine (Reunião para a República, RPR). Já em Paris, Anne Hidalgo foi eleita primeira vice do prefeito Bertrand Delanoë (ambos do Partido Socialista, PS).

No total, 44 mulheres foram eleitas prefeitas de cidades com mais de 15 mil habitantes. Nas 37 cidades com mais de 100 mil habitantes, quatro mulheres venceram: Fabienne Keller (União Democrática da França, UDF) em Estrasburgo, Martine Aubri (PS) em Lille, Brigitte Le Brethon (RPR) em Caen e Maryse Joissains-Masini (direita diversa) em Aix-en-Provence.

Segundo estatísticas do Ministério do Interior, que, por enquanto, ainda não levam em consideração os resultados de Departamentos e Territórios de Ultramar, 38.072 mulheres foram eleitas conselheiras municipais nas cidades de mais de 3.500 habitantes -a lei de paridade ainda não se aplica a cidades menores.

Sem dúvida, a "revolução branda", como o premiê Lionel Jospin (PS) chama o fenômeno, ocorreu. Ironia histórica, a paridade, que uma parte da direita havia criticado, deu melhores resultados para a oposição conservadora (RPR-UDF-DL-direita diversa) que para os partidos governamentais, que representam a chamada esquerda plural.

Figuras de ponta da esquerda francesa foram derrotadas. Catherine Trautmann -ex-ministra de Jospin- perdeu para Keller em Estrasburgo; Elisabeth Guigou -ainda ministra- foi derrotada em Avignon; e Adeline Hazan perdeu em Reims, no noroeste do país.

Direita feminina

Apesar de ser líder do Movimento de Libertação das Mulheres, Marie-Louise Fort (DL) dizia que não faria carreira política. Mas, após sua eleição para a Prefeitura de Sens, centro-norte do país, ela se transformou numa das "jovens esperanças" da direita.

Embora tenha sido criticada por seus adversários políticos durante a campanha eleitoral, Fort tornou-se uma outra pessoa na noite de 11 de março. Até mesmo o presidente Jacques Chirac (RPR) lhe telefonou para felicitá-la. E ele vai convidá-la a visitá-lo em Paris.

Para a cúpula da tríade oposicionista (RPR, UDF e DL), as mulheres conservadoras fizeram "milagres" ao conquistar cidades tradicionalmente controladas pela esquerda. Além dos sucessos eleitorais de Keller e Le Brethon, Caroline Cayeux (RPR) venceu em Beauvais (norte), e Brigitte Barèges (RPR) conquistou a Prefeitura de Montauban, no sudoeste da França, que era controlada pela esquerda desde 1971.

Embora ainda sejam majoritariamente desconhecidas, elas começam a ganhar espaço na cena política francesa e a conquistar uma certa popularidade. Keller, por exemplo, está com a agenda tomada por alguns meses.

Revanche

De uma certa forma, é uma revanche das mulheres contra os partidos de direita, considerados mais "machistas" que os partidos de esquerda, apesar de a RPR ser presidida atualmente por uma mulher, Michèle Alliot-Marie.

Barèges, por exemplo, homenageou anteontem uma "revolucionária" de sua cidade, chamada Olympe de Gouges, que escreveu o livro "Declaração dos Direitos da Mulher". Barèges também anunciou a criação de uma fundação em homenagem a De Gouges.

É verdade que a esquerda plural não estava no melhor de sua forma nas últimas eleições. Em Caen, as divisões existentes dentro da bancada socialista prejudicaram os esforços de Louis Mexandeau e abriram caminho para a vitória de Le Brethon. "Qualquer candidato teria derrotado Mexandeau em Caen", disse François Hollande, presidente do PS.

Brasil

Apesar da introdução do sistema de cotas por sexo na lei eleitoral em 1997 e de a maioria dos eleitores ser do sexo feminino (50,48%), as mulheres ainda se candidatam e se elegem pouco no Brasil.

Dos 14.806 candidatos a prefeito no Brasil em novembro passado, 92,5% eram homens e 7,5% eram mulheres. Dos 5.559 prefeitos eleitos, apenas 317 (6%) são mulheres.

Pela lei de cotas, os partidos devem apresentar no mínimo 30% de candidatos de cada sexo. Mas nenhum atingiu a cota.

O PCB foi o partido que chegou mais perto. Apresentou apenas quatro candidatos. Como uma era mulher, 25% das candidaturas ficaram sendo do sexo feminino.

Entre os partidos com mais de cem candidatos, o PT foi o que apresentou o maior número de mulheres: 159 candidatas (12% do total). Apenas nove foram eleitas. O partido que mais elegeu mulheres, proporcionalmente, foi o PFL. Dos 1.028 eleitos pelo partido, 7,3% são do sexo feminino.

De acordo com um estudo da ONG Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), o sistema de cotas por sexo aumentou o número de candidatas, mas não influiu na quantidade de eleitas.

Em levantamento anterior, nenhum dos 11 partidos consultados tinha dados sobre o cumprimento das cotas. PSDB e PFL já teriam debatido o assunto, enquanto o PT estaria preocupado com a questão desde 1991, mas teria enfrentado dificuldades para acatar a norma. A ONG concluiu que há resistências dos dois lados: dos partidos e das mulheres, que são reticentes quanto a participar da política tradicional.
 

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