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10/04/2001 - 08h44

Peru tenta entender votação de Alan García

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ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo, em Lima

Eleito presidente do Peru em 1985 com apenas 35 anos, Alan García Pérez, 51, deixou o cargo em 1990 com o país em um estado caótico -enfrentava a maior recessão econômica de sua história, um grave quadro hiperinflacionário e uma intensa onda de ataques terroristas de grupos guerrilheiros de esquerda.

Como se fosse pouco, García sofreu ainda denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito durante seu governo. Para muitos, sua carreira política terminara tão rapidamente quanto ele demorara para chegar ao mais alto cargo público do país, à frente do Partido Aprista (centro-esquerda), mais tradicional grupo político peruano e que pela primeira vez tinha o presidente.

Em janeiro deste ano, ele retornou ao país após um exílio de quase nove anos na Colômbia, para onde fugiu após ser condenado em processos por corrupção, os quais hoje acusa de terem sido parte da "perseguição política mais intensa a que se dedicou a dupla Alberto Fujimori e Vladimiro Montesinos".

Lançado candidato, contava com apenas 9% das intenções de voto em janeiro e ocupava o quarto lugar nas pesquisas. Cresceu na hora certa e garantiu seu lugar no segundo turno, graças, segundo os analistas, ao seu imenso carisma, a sua grande capacidade de oratória e à tradição ao esquecimento tão comum na política latino-americana.

"Parece que a imensa corrupção do regime fujimorista apagou da memória dos peruanos a desastrosa herança que deixou em 1990 em relação à economia e aos direitos humanos", afirmou o escritor Mario Vargas Llosa, que declarou apoio a Alejandro Toledo.

Para ele, a votação dada a García anteontem pode ter sido consequência de que "quase 1 milhão de jovens votaram pela primeira vez no domingo e não conhecem seu governo".

Atos polêmicos

A administração de García foi marcada por atos populistas e polêmicos e por uma gestão econômica desastrosa. Ao assumir o cargo, anunciou que o país só pagaria anualmente aos credores o equivalente a 10% da receita com importações e que não aceitaria as condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional.

Também aumentou os salários dos servidores sem respaldo fiscal, congelou os depósitos em moeda estrangeira e provocou a quebra do Banco Agrário, ao conceder empréstimos a fundo perdido.

Mas a mais polêmica iniciativa de seu governo talvez tenha sido a tentativa de estatizar os bancos, em 1987, que acabou sendo frustrada de maneira desastrada, com um altíssimo custo político e econômico.

Com a falta de controle macroeconômico, o governo recorreu à emissão indiscriminada de moeda para sustentar seus déficits, o que gerou uma inflação descontrolada -mais de 7.200% no último ano da gestão García.
Entre 1985 e 1990, o índice de peruanos vivendo abaixo da linha de pobreza passou de 17% para 44%, e a arrecadação de impostos caiu de 14% para 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

García também é acusado por grupos de defesa dos direitos humanos por um caso ocorrido em 1986, quando ele autorizou uma intervenção militar nas penitenciárias de Santa Bárbara, Lurigancho e El Frontón, em Lima, durante uma rebelião de presos ligados ao grupo terrorista Sendero Luminoso.

A invasão dos presídios resultou na morte de 248 presos. O caso, que havia sido arquivado, foi reaberto recentemente.

Acordo com Fujimori

García é hoje um dos mais ferrenhos críticos de Fujimori, mas o apoiou nas eleições de 1990, contra Vargas Llosa. Para muitos, o acordo com Fujimori incluía uma anistia aos possíveis processos por corrupção.

Em 1992, porém, García foi formalmente acusado de enriquecimento ilícito e de participação em diversos casos de corrupção, entre eles o recebimento de propinas de uma empresa que pretendia construir uma rede de trens elétricos urbanos, obra que nunca foi concluída.

Fujimori ordenou então a sua prisão. García fugiu para a Colômbia, onde viveu até janeiro, alternando períodos na França, onde havia estudado sociologia, nos anos 70, na Universidade de Paris.

García reconhece que cometeu "alguns erros" durante seu governo, mas diz que amadureceu e que não os repetirá. Em relação às denúncias de corrupção, diz que são parte de um complô de Fujimori para destruí-lo.

"A opinião pública vai se dando conta de como Fujimori e Montesinos manipularam para destruir minha imagem. Isso porque eu, como líder de um partido popular e ex-presidente, podia impedir a continuidade de sua política econômica", afirmou García.

"Fujimori se dedicou a me destruir por dez anos. Outros adversários foram destruídos em seis meses. Eu fui atacado por dez anos, mas mesmo assim ele não conseguiu. E aqui estou eu no segundo turno."

Queda do sol

Se García procura apagar o passado, os investidores estrangeiros não o esquecem. A notícia de que ele disputará o segundo turno provocou ontem a queda dos títulos da dívida externa peruanos e a queda do sol, a moeda do país. A Bolsa de Lima fechou em baixa de 2,43%.

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