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19/07/2001 - 07h47

Entrevista: Ao partir para a Europa, Bush se defende

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PATRICE DE BEER
do "Le Monde", em Washington

Antes de embarcar para a Europa para a cúpula do G-8 (os sete países mais industrializados mais a Rússia) em Gênova, o presidente dos EUA, George W. Bush, concedeu uma entrevista a sete jornais estrangeiros.

Bush comentou as relações de seu país com a Europa, as objeções da China e da Rússia ao seu projeto de escudo antimísseis e os assuntos que constam da pauta da reunião na Itália, criticando os manifestantes antiglobalização que o aguardam. Bush chegou ontem a Londres, de onde seguirá para a Itália.

Reuters - 30.jan.2001
George W. Bush, presidente dos Estados Unidos
Pergunta - O sr. não acha que essas reuniões cada vez mais têm o ar de campos fortificados? O sr. estava na cúpula das Américas em Québec. A OMC (Organização Mundial do Comércio) vai se reunir no deserto. Em Gênova, algumas pessoas vão se abrigar num barco, e o Canadá pensa em manter a próxima reunião do G-8 em uma montanha. O que o sr. prevê para a cúpula de Gênova?

George W. Bush - Ter um diálogo aberto é uma coisa, e promover destruição é outra. Sou totalmente contrário a uma estratégia e uma filosofia que, ao esforçar-se por impedir mudanças, encerra as pessoas na pobreza.
Afirmo com toda a clareza e firmeza possíveis que os manifestantes na Itália têm o direito de expressar sua opinião pacificamente. Mas, ao opor-se ao comércio internacional, eles privam os países em via de desenvolvimento de oportunidades de crescimento. Como disse meu amigo, o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo, eles parecem estar estranhamente determinados a proteger esses países contra o desenvolvimento. Podem dizê-lo com as palavras que quiserem, mas o que fazem é condenar as pessoas à miséria. Deveriam perguntar o que querem àqueles que pretendem representar -ouviriam uma resposta bem diferente.

Durante minha visita anterior à Europa, falei de uma casa da liberdade, de abrir as portas à liberdade com a ampliação da Otan (aliança militar ocidental) e da União Européia e de abrir as janelas para que os EUA, seus aliados e seus amigos possam enxergar mais claramente os problemas dos países em desenvolvimento. Em Gênova, direi que aqueles que são prósperos devem implementar as políticas necessárias para reforçar essa prosperidade: menos impostos, menos regulamentação e mais livre comércio. Também devemos desenvolver juntos novos dispositivos de segurança para fazer frente às ameaças do século 21. Não existe prosperidade para todos sem um mundo próspero e estável.


Pergunta - Que visão o sr. tem das relações entre os Estados Unidos e a Europa?

Bush - Quando fui à Europa pela primeira vez (junho), foi para quebrar o gelo. Alguns dirigentes já tinham vindo me ver. Os outros tinham lido coisas a meu respeito, mas não tinham tido a oportunidade de ouvir meu ponto de vista. Eles tinham lido coisas nos jornais, coisas às vezes verdadeiras e outras vezes inteiramente falsas. Tivemos um diálogo franco e acho que eles compreenderam que estamos firmemente engajados com a Otan e sua ampliação.

Durante minha campanha eleitoral, eu disse claramente que o papel de nossos soldados era vencer guerras. Expressei minha inquietude com as missões de manutenção da paz, que, a meu ver, não são uma estratégia para militares.
Em consequência disso, alguns setores na Europa sentiram receio quanto à manutenção de nossa presença nos Bálcãs. Nosso secretário de Estado não demorou a lembrar minha posição: fomos para lá juntos e de lá sairemos juntos. Isso dito, é importante continuar a substituir nossas tropas, de maneira responsável, por estruturas civis capazes de fazer o mesmo trabalho.

Estou convencido de que podemos ter relações muito construtivas com a União Européia. Está claro que temos divergências quanto a determinados assuntos, mas não devemos permitir que essas desavenças -sobre a biotecnologia, por exemplo- prejudiquem o fato de compartilharmos os mesmos valores. E são esses valores que unem a América e a Europa: liberdade de imprensa, de expressão, de religião, eleições livres. Nossos amigos europeus começam a compreender que eu respeito a Europa, nossa história e, sobretudo, seus valores. Vou representar meu governo de maneira direta e transparente. Todo o mundo vai conhecer nossa posição. Alguns vão gostar, outros, não, mas todos saberão que estarei sempre pronto a ouvir, a discutir sobre temas importantes.

Pergunta - Os países europeus falaram em tornar-se o motor da economia mundial. O que eles devem fazer?

Bush - As economias de mercado e as democracias têm um papel a desempenhar. Em primeiro lugar, devem assegurar que nossas economias sejam fortes e que possamos comerciar livremente entre nós. Estou convencido de que os países cuja economia é regida pelo Estado de direito e a transparência podem ajudar a propagar a prosperidade no mundo. Em outras palavras, se nossas economias não se cruzarem, os países africanos terão muita dificuldade para se desenvolver. Uma parte do problema vem do desaquecimento de nossas economias.
Nosso país tomou medidas para estimular o crescimento. Vamos lançar um processo de incentivo por meio da redução dos impostos. Os primeiros cheques serão enviados nesta semana, e, no prazo de três meses, US$ 40 bilhões serão injetados em nossa economia. E o Federal Reserve (Banco Central) continua a reduzir as taxas de juros.


Pergunta - E o protocolo de Kyoto sobre o meio ambiente, ao qual o sr. se opôs?

Bush - Disse claramente aos dirigentes do mundo inteiro que somos a favor de seus objetivos, mas que divergimos quanto ao método. Vamos trabalhar para criar uma estratégia que os outros países possam compreender claramente. Mas que não nos enganemos: esse tratado tem algumas metas que são insuportáveis para nós. Devo confessar que alguns líderes têm mais simpatia com nossa posição do que outros. Cabe a cada país tomar suas próprias decisões, mas podemos continuar a cooperar.

Pergunta - O presidente russo, Vladimir Putin, falando na segunda-feira, defendeu uma nova estrutura de segurança na Europa que inclua a Rússia na Otan ou que substitua a Otan por outra aliança que incluísse a Rússia. Por outro lado, Moscou e Pequim estão decididamente contra seu projeto de defesa antimísseis.

Bush - Eu disse claramente a Putin, no mês passado, que a Rússia não é mais nossa inimiga e que não devemos mais nos olhar mutuamente com desconfiança, e sim cooperar para nos livrarmos de um documento que codifica a desconfiança decorrente da Guerra Fria. É isso que significava o Tratado Antimísseis Balísticos [TAB]". É hora de desenvolvermos um novo quadro estratégico para a paz. As ameaças às quais o tratado TAB fazia frente deixaram de existir. Existem hoje novas formas de terror -o ciberterrorismo, os extremistas fundamentalistas, um extremismo que ameaça a nós, a Israel, nosso bom aliado e amigo, e à Rússia. Devemos coordenar nossa segurança para fazer frente a essa ameaça e nos dotarmos da capacidade de livrar o mundo das forças de chantagem e terrorismo. Assim, precisamos ter condições de destruir qualquer míssil que nos ameace.

Na Eslovênia, Putin falou de uma Otan que pudesse incluir a Rússia. A idéia é interessante. Mas, enquanto isso, ingressamos num novo ciclo de ampliação da Otan e precisamos estender a mão aos países que avançam rumo à democracia e trabalham duro para conformar-se ao plano de ação. Mas eu lhes direi o seguinte: quando a Rússia olha para o Ocidente, ela não vê nenhum inimigo, e será assim enquanto eu for presidente.


Pergunta - Em sua viagem anterior à Europa o sr. contornou a França sem parar no país, e na próxima o sr. fará a mesma coisa. Quando imagina ir a Paris?

Bush - Não se preocupem com isso. Estou apenas começando minha vida de "globe-trotter"!



 

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