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29/07/2001 - 04h09

Brasileiros vão à reunião da ONU contra racismo

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da Folha de S. Paulo

Três índios brasileiros, incluindo Marcos Terena, fundador do primeiro movimento indígena do país, a União das Nações Indígenas, participarão a partir de amanhã, em Genebra (Suíça), de reuniões preparatórias para a conferência da ONU contra racismo, em setembro, na África do Sul.

No início do mês, líderes indígenas definiram no Rio reivindicações que levarão a Genebra: a demarcação de terras (em torno de 11% das terras foram identificadas, mas o governo não demarcou nem a metade, segundo Terena) e o direito à identidade cultural, reconhecer que existem vários povos indígenas, "o terena, o xavante, cada qual com a sua cultura, com a sua língua".

"Até hoje, todos os índios do Brasil, segundo as leis, são considerados relativamente incapazes. Isso é a maior prova legal da discriminação contra os povos indígenas", disse à Folha Terena.

A Constituição de 1988 garante mais direitos aos índios, mas o Estatuto do Índio é marcado pelo assistencialismo, "para manter o índio sob controle", segundo ele.

Para o indigenista Antônio Luiz Batista de Macedo, 49, um dos fundadores da Comissão Pró-Índio no Acre em 1978, "em sua maioria, os índios já superaram a inferioridade trazida pelo rolo compressor da colonização".

"Cheguei a encontrar em aldeias índios que não queriam ser índios. Hoje em dia a maioria dos povos indígenas quer ser índio mesmo, afirma e assevera isso a todo custo", conta. "Trabalho há 25 anos de forma oficial na Amazônia e cansei de ver gente se afastar, cuspir com nojo porque trabalhávamos com índios. Hoje há muitos jovens universitários buscando conhecer a causa."

Apesar disso, os índios não contam com representação entre senadores, deputados federais e estaduais. Há um prefeito, na Paraíba, e 87 vereadores, de partidos diversos. A Funai (Fundação Nacional do Índio) nunca teve um índio como presidente.

Mais de 15 tribos correm risco de extinção no Brasil, onde há cerca de 180 línguas e 216 tribos, 12 delas com menos de 38 indivíduos. Em 1500, segundo estudos, viviam no território brasileiro entre 2 milhões e 4 milhões de índios de quase mil tribos diferentes.

O ritmo de crescimento da população indígena aumentou a partir do fim dos anos 80, e hoje a média é de 3,5% ao ano _mais do que a média nacional, de 1,6%.

A Amazônia brasileira é uma das últimas regiões em que ainda vivem grupamentos humanos sem contato com seus semelhantes. Seriam 53 tribos.

O fotógrafo Igor Pessoa viaja com frequência ao Acre, onde desenvolve projetos em parceria com os índios yawanawá, que estão recuperando os costumes, por iniciativa do cacique Biraci Brasil.

A tribo chegou a ter apenas cem integrantes. Hoje, tem cerca de 600. O resgate da identidade passa pelo ensino da língua original e pelas aulas de pintura corporal.

"O processo de formação de pajés é super longo. Exige uma série de privações, como passar um ano sem beber água. Muitos jovens se interessam em recuperar esse conhecimento", relata.

A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) editou uma publicação de literatura indígena, "Shenipabu Miyiu" (história dos antigos, na língua hãtxa kuï, dos índios kaxinawá), indicada para seus vestibulandos. O livro integra o conjunto de 65 edições didáticas empregadas nos cursos de formação escolar com professores indígenas, em andamento desde 1983.

"Nosso centro de formação foi o primeiro do país", diz o professor Jairo Lima, da Comissão Pró-Índio do Acre. No Estado, atualmente 40 professores de dez etnias participam do curso de formação, que inclui matemática, história e pedagogia indígena.

"Hoje em dia, há todo um movimento de reforço da identidade. Os próprios índios escrevem os livros didáticos, em sua língua e em português", diz Lima. Há livros publicados em pelo menos oito línguas indígenas.
 

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