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29/07/2001 - 07h19

Israel teme tribunais internacionais

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CLYDE HABERMAN
do "The New York Times", em Jerusalém

O Ministério do Exterior israelense lançou um aviso na semana passada a funcionários do governo, do Exército e dos serviços de segurança. Basicamente, recomendou cuidado com a escolha dos destinos em viagens porque alguns países podem estar dispostos a acusar israelenses de alto escalão de violações contra os direitos humanos dos palestinos.

O aviso não foi formulado em termos tão diretos. Nas palavras de um alto funcionário da Chancelaria, na sexta-feira, o documentou recomendou que funcionários de alto nível "façam sua lição de casa" para evitar tropeçar em "constrangimentos legais".

Mas a mensagem é clara. Alguns países, especialmente da Europa, acreditam que Israel está tratando os palestinos com dureza injustificada _disparando de maneira desproporcional contra jovens manifestantes, assassinando extremistas islâmicos e limitando a movimentação de pessoas comuns a tal ponto que, segundo os palestinos, sua economia está à beira do colapso.

A afirmação israelense de que os culpados dos problemas palestinos são seus próprios líderes e que tudo o que Israel faz é puramente em nome da segurança não convence muitos europeus.

Por isso o Ministério das Relações Exteriores recomendou cuidado aos altos funcionários israelenses. Quando se trata de direitos humanos, vivemos numa nova era de advogados sem fronteiras. Os promotores se dispõem a ir muito além de seus próprios países para levar a julgamento figuras políticas acusadas de violações graves. Basta ver, diz Israel, os processos internacionais contra Augusto Pinochet, do Chile, e Slobodan Milosevic, da Iugoslávia.

Embora os israelenses recuem, horrorizados, diante da idéia de que possam ser comparados, mesmo de longe, aos dois casos acima, eles têm plena consciência de que Israel frequentemente fica aquém dos padrões de direitos humanos, conforme são interpretados na Europa. Em consequência disso, o Ministério das Relações Exteriores começou a compilar uma lista de países que afirmam ter "jurisdição universal" em alguns casos. Países potencialmente preocupantes para israelenses incluem Bélgica, Reino Unido e Espanha. "Não estamos apavorados", disse um alto funcionário, "mas acho que precisamos ter consciência dos fatos".

Os receios quanto à potencial vulnerabilidade têm sido alimentados por dois casos: uma tentativa lançada na Bélgica de acusar o premiê Ariel Sharon de crimes de guerra e a reação negativa vista na Dinamarca ao fato de Israel ter indicado como seu novo embaixador no país um ex-chefe do serviço de segurança Shin Bet.

Sabra e Chatila
O caso de Sharon remonta a 19 anos atrás, quando aconteceu o massacre de centenas de refugiados palestinos desarmados no Líbano, após a invasão israelense do país, em 1982, para tentar expulsar a OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Os massacres nos campos de refugiados Sabra e Chatila foram cometidos por milicianos cristãos aliados de Israel, e uma investigação oficial israelense conduzida posteriormente concluiu que Sharon, arquiteto da invasão do Líbano, era indiretamente responsável pelas mortes.

Segundo o inquérito, ele e outros altos funcionários israelenses deveriam ter se dado conta de que o massacre era provável e deveriam ter feito uma intervenção imediata para impedir a ação dos falangistas. Sharon foi obrigado a renunciar ao cargo. Desde então, o caso lança uma sombra sobre sua carreira política. Agora que ele é o premiê, o massacre voltou a ser assunto corrente.
 

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