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05/08/2001 - 09h23

Guerra no Oriente Médio é improvável, dizem analistas

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MARCELO STAROBINAS
em Londres

O conflito entre o Exército de Israel e grupos armados palestinos deve continuar ainda por algum tempo e, possivelmente, tornar-se mais violento. Na opinião da maior parte dos analistas, porém, o cenário de uma guerra total envolvendo vários países da região é bastante improvável.

"Após a ação israelense em Nablus (bombardeio a um escritório do Hamas na semana passada, que matou oito pessoas, entre elas líderes do grupo islâmico palestino e duas crianças), há um real perigo de escalada no conflito. Mas uma ampla guerra árabe-israelense é muito improvável", disse Paul Lalor, pesquisador especializado em Oriente Médio do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres.

Países árabes como Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque -que já se uniram para enfrentar Israel em guerras regionais desde a criação do Estado judeu, em 1948- ou não têm interesse em se envolver em um novo conflito ou se encontram militarmente fracos para arriscar uma ofensiva.

Tampouco interessa a Israel transformar a Intifada em um confronto com frentes de batalha diversas. "Duvido que Israel tentaria entrar em guerra contra seus vizinhos. O país não teria nada a ganhar: é hoje o país mais forte militarmente e economicamente da região", disse à Folha, por telefone, Enfraim Inbar, diretor do Centro Begin-Sadat para Estudos Estratégicos, da Universidade Bar-Ilan, em Israel.

O Egito, primeiro país da região a assinar um tratado de paz com Israel, em 1979, tem hoje as Forças Armadas mais bem equipadas do mundo árabe, graças a um acordo de ajuda econômica e militar com os EUA. O presidente Hosni Mubarak dificilmente abriria mão de suas boas relações com Washington para defender os palestinos.

O mesmo vale para a Jordânia, que, em 1995, seguiu o exemplo egípcio e fez a paz com Israel. "Podemos esperar muito mais retórica que ações do Egito e da Jordânia", afirmou Lalor.

Segundo ele, a Síria vive um momento de transição e enfrenta dificuldades econômicas que afetam também o seu Exército. O presidente Bashar Assad, que assumiu após a morte de seu pai no ano passado, ainda se esforça para estabelecer firme controle político do país.

"Os sírios são fracos. Israel atacou alvos sírios no Líbano duas vezes nos últimos meses, e eles não responderam", afirmou Inbar.
Um conflito regional poderia sepultar de vez o domínio sírio sobre o Líbano, vizinho controlado politicamente e parcialmente ocupado por tropas de Damasco.

Os analistas concordam ao apontar o governo do Iraque como o maior interessado numa grande guerra. "O Iraque é o único país da região com apetite para ir à guerra contra Israel. Mas eles não são nossos vizinhos, só podem mandar mísseis", disse Inbar.

"Saddam Hussein poderia disparar alguns mísseis e tentar posar como o herói dos árabes. Mas não é uma grande ameaça devido à bagunça em seu país (que sofre sanções econômicas impostas pela ONU desde 1990)."

A aparente superioridade estratégica israelense também é um fator que ajuda a dissuadir governantes árabes de eventuais planos de ataque. "O equilíbrio estratégico geral pende claramente a favor de Israel", disse à agencia de notícias "Reuters" Shai Feldman, diretor do Centro Jaffee para Estudos Estratégicos, da Universidade de Tel Aviv.

Ou seja, no cálculo dos analistas, os países com maior poder de influência no Oriente Médio não desejam ir à guerra. O que não significa que as chances de uma guerra acontecer sejam nulas.

Fatos novos de grande porte na Intifada como, por exemplo, o assassinato de alguma grande personalidade israelense ou palestina, um bombardeio por engano de um alvo civil com muitos mortos ou a danificação de lugares sagrados judeus ou muçulmanos em Jerusalém poderiam alterar as atuais perspectivas e até mesmo precipitar o envio de forças multinacionais à região.

"A longo prazo, ninguém sabe o que pode acontecer", disse Lalor, que prevê dias de carnificina ainda maiores no "front" da faixa de Gaza e da Cisjordânia. Em sua opinião, uma crise humanitária nos territórios palestinos decorrente da Intifada "pode desestabilizar os atuais regimes dos países árabes vizinhos".

Uma nova onda de refugiados palestinos rumo à Jordânia ou ao Egito e protestos nas ruas das capitais do mundo árabe, pressionando seus líderes a tomar uma atitude contra Israel, poderiam levar a região a se aproximar mais de um grande confronto.

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