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03/09/2001 - 15h43

Relatora da conferência quer mais espaço para negras

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FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Folha de S.Paulo

A psicóloga social Edna Roland, indicada como relatora da 3ª Conferência da ONU contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, disse que espera, com seu trabalho, abrir espaço para a participação da mulher negra nas esferas internacionais de decisão.

Ela é a encarregada de redigir e enviar, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, o documento que contará a história da conferência de Durban, com a participação de 153 países.

Aluna de doutorado da PUC-SP, três vezes descasada, sem filhos, idade não revelada, Roland milita no movimento negro desde os anos 1980 e, atualmente, preside a organização de mulheres negras Fala, Preta!.

É uma defensora das políticas de ação afirmativa e das cotas para negros nas universidades brasileiras: "A universidade brasileira é um gueto elitista e branco."

Folha - Qual será seu trabalho como relatora?
Edna Roland - Será o de acompanhar as discussões no comitê geral e garantir que o relatório elaborado seja fidedigno e reflita as decisões tomadas no plenário. É como uma espécie de fiscalização. Esse plenário vai ser convocado para se pronunciar sobre os assuntos, e eu terei de estar atenta para que, se houver alguma dúvida sobre o que foi decidido, eu possa emitir a minha opinião e relatar as discussões existentes até então. O Brasil foi capaz de ter um papel de liderança até aqui, negociando com grupos regionais e assumindo posições avançadas, como a defesa dos povos indígenas e de ações afirmativas.

Folha - Setores do movimento negro dizem que a postura do governo brasileiro é avançada internacionalmente, mas cobram mais ação interna. Qual é sua opinião?
Roland - A ação precisa ser antecedida pelas idéias. Eu considero que a diplomacia brasileira tem desempenhado um papel avançado no cenário internacional. É natural que esse setor do governo possa se antecipar, já que atua no campo das idéias. Espero que essas idéias possam frutificar.

Folha - Qual a sua avaliação da ação afirmativa no Brasil hoje?
Roland - Há um movimento positivo de setores do governo, inclusive do Ministério da Educação, admitindo essa hipótese. Sou favorável à ação afirmativa, inclusive a política de cotas. O Brasil não vai se arrepender dessa decisão. O Brasil tem potencial no cenário internacional, mas precisa ter a capacidade de oferecer educação para todos os setores de sua população. A universidade brasileira é um gueto elitista e branco, e é preciso que esse gueto seja rompido.

Folha - A sra. não teme ser acusada de, com essa indicação, ter passado para o lado do governo?
Roland - Nunca temi esse tipo de acusação porque tenho convicção das coisas em que acredito. Quando você tem convicção e conhece o princípio do seu trabalho, você não teme levar pedradas. Faz parte do trabalho político e não me abalo com isso.

Folha - A sra. não tem formação diplomática. Como está lidando com a diversidade dos assuntos discutidos aqui?
Roland - Nunca ambicionei essa posição. Foi algo assim como um raio no céu azul. É um desafio que eu encontro na minha vida, mas tenho consciência das minhas limitações e sei que vou fazer o que está ao meu alcance. Não pretendo fazer mais do que eu posso, para que isso não se transforme num fardo insuportável.

Folha - A sra. não teme que sua indicação seja uma forma de passar para o exterior a visão de uma aliança entre o governo e a sociedade civil brasileira, num momento de cobranças internas?
Roland - Esse tipo de interpretação poderá ser feito, mas independentemente das questões que porventura estejam orientando essa indicação, ela terá efeitos simbólicos e materiais concretos, para além das intenções de quem fez a indicação. Uma das razões mais importantes pelas quais eu aceitei foi poder criar esse precedente, de que uma mulher negra, sem formação diplomática, adentrasse esse espaço.
 

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