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11/09/2001 - 23h58

Atentado tem participação de países hostis, diz historiador

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da Folha de S.Paulo

O historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor-catedrático de história do Brasil na Universidade de Paris 4 (Sorbonne), na França, avalia que um atentado como o de hoje provavelmente tem a participação de um ou mais países hostis ao EUA.

Segundo ele, "o ataque contra os americanos veio pelas bagagens dos aeroportos e não pelos mísseis da estratosfera", o que põe em xeque todo o sistema de segurança da maior potência militar e econômica do planeta. Inclusive seu programa antimísseis, o Guerra nas Estrelas, que "tornou-se superado antes de ser sequer projetado".

Autor de "O Trato dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul" (Cia. das Letras), Alencastro considera que "Bush será cobrado pela notória incompetência dos serviços de contra-espionagem americanos".

Leia a seguir, entrevista concedida à Folha de Paris:

Folha - Qual o paralelo (semelhanças e diferenças) entre os atentados de ontem e o de Pearl Harbor, em 1941?
Luiz Felipe Alencastro - O paralelo já está sendo feito pelas TVs do mundo inteiro: em Pearl Harbor houve 2.400 mortos; nesse atentado, o número de vítimas pode ser cinco vezes maior ou mais elevado. Trata-se do ato mais mortífero cometido no território continental americano desde a Guerra da Secessão.

Folha - Que tipo de reação o sr. espera dos EUA, na medida em que não há um Estado para ser retaliado, mas forças difusas, supostamente terroristas ligados ao fundamentalismo islâmico?
Alencastro - Ainda é cedo para fazer esse tipo de avaliação, mas a preparação do atentado, com esta série de ações coordenadas e precisas, deve ter contado com a ajuda e a cumplicidade de um país ou de países hostis aos EUA.

Folha - O terrorismo se tornou a maior ameaça às democracias ocidentais?
Alencastro - É obvio que esse evento marca um novo patamar no terrorismo e uma mudança estratégica nas ações contra os EUA. Também fica claro que o projeto de "Guerra nas Estrelas", priorizado por Bush, tornou-se superado antes de ser sequer projetado: o ataque contra os americanos veio pelas bagagens dos aeroportos e não pelos mísseis da estratosfera.

Folha - Que relação o sr. faz entre a ascensão de Bush ao poder e a tragédia de hoje? Algo a ver com a posição americana de apoio a Israel?
Alencastro - Essa ação terrorista já estava preparada há meses e talvez há anos, muito provavelmente. Mas Bush será cobrado pela notória incompetência dos serviços de contra-espionagem americanos: como o preparo de um ato desta envergadura não foi detectado pela CIA e serviços anexos?

Bush também será criticado pela virada isolacionista que ele estava dando na política externa americana: agora ele terá que intervir de verdade para apaziguar o conflito entre israelenses e palestinos.

Folha - O sr. vê algum risco de guerra mundial? China, Rússia e Índia, entre outros países, como devem se comportar?
Alencastro - Rússia e Índia já se solidarizaram com Bush, e a China certamente fará o mesmo.

Folha - O episódio nos EUA ocorre num momento em que as economias centrais estão entrando num ciclo recessivo, caso dos EUA, ou vivendo um, caso do Japão, por exemplo. É razoável supor agora um recrudescimento da crise mundial?
Alencastro - O aumento da tensão internacional e a exacerbação do conflito no Oriente Médio complica a retomada do crescimento econômico nos EUA. É certo também que as ações das companhias aéreas vão cair: medidas de controle reforçadas nos vôos aéreos domésticos e internacionais vão encarecer as viagens, aumentar os custos de segurança e tornar mais lenta a circulação dos passageiros etc.

Folha - Onde o sr. estava quando recebeu a notícia?
Alencastro - Estava no TGV (trem bala) que vinha da Bretanha (França), depois de um congresso de historiadores em Lorient. Vinha conversando com um colega canadense e, logo que a noticia se espalhou, transmitida pelos celulares dos passageiros, houve um começo de pânico porque este tipo de trem já foi alvo de terroristas islâmicos na França.

Folha - Como explicar a vulnerabilidade do sistema de segurança americano?
Alencastro - Os especialistas ingleses explicam que os americanos não têm uma cultura de segurança pública similar a que a Inglaterra criou por causa dos ataques do IRA e a França em razão dos ataques dos radicais islamistas argelinos. Mas o fato é que houve, como eu disse acima, uma falha enorme da CIA, do FBI e dos outros serviços de inteligência americanos.

Folha - Você espera algum tipo de retaliação às comunidades árabes e islâmicas que moram nos EUA? Em Detroit, por exemplo, onde vivem muitos árabes, havia hoje a recomendação de não saírem às ruas.
Alencastro - Se ficar constatado que os terroristas beneficiaram-se da cumplicidade dessas comunidades, haverá certamente problemas graves no futuro.

Folha - O sr. poderia comentar as primeiras reações na Europa e em Paris.
Alencastro - A União Européia (UE) é uma aliada firme dos EUA nessas horas, e a Otan já prometeu participar da procura e da punição dos responsáveis pelas ações em Nova York e em Washington. É possível que a Turquia, que tem muita autoridade entre os países e movimentos islâmicos, jogue um papel importante a partir de agora, forçando o isolamento dos grupos islamistas mais radicais. Como se sabe, a Turquia se prepara para entrar na UE e está cheia de boa vontade com os seus aliados ocidentais. (FERNANDO DE BARROS E SILVA

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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