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14/09/2001 - 03h42

Afeganistão está à espera do ataque

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PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo

As Nações Unidas e as agências humanitárias presentes no Afeganistão intensificaram ontem a retirada de seus funcionários estrangeiros do país, prevendo um ataque norte-americano em retaliação à suposta participação do terrorista Osama bin Laden nos atentados de terça-feira.

O Programa Mundial de Alimentação e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que suspenderam temporariamente suas operações, afirmaram temer não apenas uma "chuva de bombas" como também eventuais represálias da população afegã.

Segundo fontes militares citadas pelo diário norte-americano "The Washington Post", ao menos cinco opções de bombardeio ao Afeganistão estavam sendo analisadas, incluindo o lançamento de mísseis e a ação de tropas de elite. "O presidente [George W. Bush] tem uma grande variedade de opções diante dele", afirmou o vice-secretário da Defesa, Paul Wolfowitz.

Os militares não especificaram alvos nem datas. O terrorista saudita, que estaria refugiado no Afeganistão, muda de refúgio constantemente. Os Estados Unidos acreditam, no entanto, que ele possa estar próximo a Candahar (sul), cidade sob controle do grupo extremista islâmico Taleban onde ficaria o quartel-general do extremista. Bin Laden, 44, milionário, apoiou afegãos no combate à ocupação soviética (1979-1989) e, mais tarde, aliou-se ao Taleban.

O Paquistão pôs o Exército em estado de alerta ao longo da fronteira com o Afeganistão prevendo um ataque dos EUA contra o país. A medida afeta
províncias limítrofes com o Afeganistão.

A segurança foi reforçada em Cabul (capital afegã), embora o Taleban,
que controla quase todo o país, tenha negado, poucas horas após os atentados, envolvimento na ação. O grupo também disse que um eventual ataque ao país seria "estéril".

O belga Jan Weuts, que coordena o trabalho da organização humanitária internacional MSF (Médicos Sem Fronteiras) no Afeganistão, disse à Folha, por telefone, que a atuação das organizações humanitárias no Afeganistão é fundamental por causa dos graves problemas que o país enfrenta, entre eles a pior seca dos últimos 30 anos e uma crise de fome.

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, descreveu ontem Bin Laden, que integra a lista dos dez criminosos mais procurados pelo FBI -a polícia federal norte-americana-, como o principal suspeito dos atentados.

O chefe da diplomacia norte-americana declarou que os EUA se reuniram com o Paquistão, um dos três países que reconhecem o governo do Taleban (além da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos), para pedir colaboração na busca. Integrantes do governo norte-americano acreditam que o extremista islâmico e seu grupo Al Qaeda (a base, em árabe), que contaria com entre 4.000 e 5.000 membros, sejam as peças-chave dos ataques.

Mudança de política
Em 1996, chancelarias européias e dos EUA comemoraram a tomada da capital afegã por parte do Taleban (estudantes, em pashtu), que, acreditavam, restabeleceria a ordem no Afeganistão. Washington deu luz verde ao Paquistão, seu aliado, para ajudar a instalar o Taleban em Cabul.

Madeleine Albright, então secretária de Estado dos EUA, disse considerar um "avanço positivo" a vitória do Taleban frente a outros grupos rebeldes.

O apoio se deveria ao alinhamento, à época, da política norte-americana com o Paquistão e à crença de uma possível reunificação do Afeganistão, segundo Gilles Dorronsoro, autor de "A Revolução Afegã, dos comunistas ao Taleban" (publicado em Paris).

Havia também o projeto de uma empresa petrolífera norte-americana de construir um gaseoduto atravessando o Afeganistão para ligar o Paquistão ao Turcomenistão. O apoio ao Taleban só cessou por causa da presença de Bin Laden. Em 1998, os EUA bombardearam o país, pois Bin Laden foi acusado de ser o mentor dos ataques a duas embaixadas dos EUA na África que deixaram 224 mortos (12 norte-americanos) e mais de 4.500 feridos.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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