Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/09/2001 - 04h08

Só "conflito assimétrico" pode enfrentar poderio americano

Publicidade

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Em 1985, o mundo tinha duas superpotências. A União Soviética tinha as maiores Forças Armadas do planeta, com 5,3 milhões de homens em armas. Os EUA vinham atrás, com 2,1 milhões de seus cidadãos fardados. Os dois países tinham arsenais nucleares gigantescos e semelhantes.

Hoje, o principal Estado sucessor da antiga URSS, a Rússia, ainda tem 1 milhão de soldados, marinheiros e aviadores. Mas o país luta com falta de recursos para operar os restos do gigantesco arsenal que tinha construído.

Os EUA, mesmo tendo diminuído suas Forças Armadas para 1,3 milhão de homens e mulheres, com diminuição correspondente em parte do arsenal, são a potência militar mais poderosa de todos os tempos.

Não há inimigo potencial capaz de enfrentar sua máquina de guerra de igual para igual. A única maneira de resistir ao poderio dos EUA é investir no chamado "conflito assimétrico" -explorar os pontos fracos da sociedade americana, precisamente o que faz o terrorismo.

"A guerra, por definição, é uma atividade que tem dois lados. É também uma atividade imitativa na qual, dado tempo suficiente, os dois lados aprendem um com o outro e tendem a se parecer entre si", escreveu o historiador militar israelense Martin van Creveld.

Foi o que aconteceu na Segunda Guerra (1941-1945, para os EUA), quando os americanos construíram mais tanques, mais aviões e mais navios que alemães e japoneses para os derrotarem com as mesmas armas.

Mas não foi o que aconteceu na longa intervenção americana no Vietnã, que começou aos poucos no início dos anos 60 e terminou com a retirada das suas tropas em 1973 (e a derrota do aliado americano, o Vietnã do Sul, em 75). Os guerrilheiros comunistas do Vietcong não tinham como combater os americanos com as mesmas armas, logo se tornaram especialistas na "guerra assimétrica".

A intervenção quase sem sangue -europeu ocidental e americano- em Kosovo, província da Iugoslávia, parecia indicar um futuro radiante para o modo americano de fazer guerra, através do "míssil inteligente" e demais armas guiadas.

Mas bastou um bando de terroristas suicidas equipados com as mais antigas armas da humanidade -facas e estiletes- para indicar de modo brutal que o conflito pode ser "assimétrico" também nos resultados.

A hegemonia militar americana, demonstrada principalmente na posse de tecnologias bélicas que nenhum outro país possui, criou um triunfalismo que foi rudemente abalado com os atentados do dia 11.

Alguns autores prevêem não só mais um século, mas pelo menos meio milênio de hegemonia americana. Mesmo especialistas não tão ufanistas concordam que os americanos estão muito à frente mesmo de seus aliados europeus.

Durante todo o período da Guerra Fria os EUA criticaram seus aliados por não gastarem o suficiente com forças armadas, mas permanecerem contentes debaixo do "guarda-chuva nuclear" americano.

A declarada intenção americana é de realizar uma longa guerra contra o terrorismo, que seria "uma campanha, não uma ação única", nas palavras do secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz. O resto do mundo tem duas opções: ou se alia aos EUA, ou aos terroristas.

Resta saber qual o impacto dos atentados no programa americano de defesa espacial contra mísseis balísticos -outro projeto da atual administração dentro da mesma lógica "dane-se o mundo, nós faremos de qualquer jeito porque nos interessa".

Como se trata do tipo de investimento que interessa ao complexo militar-industrial, é provável que o programa antimíssil prossiga, mesmo sabendo-se que alguns terroristas armados com facas já causaram mais estrago que todos os mísseis nas mãos dos Estados que os EUA chamam de "delinquentes" ou "irresponsáveis".

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página