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17/09/2001
-
04h08
PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo
O provável ataque norte-americano provoca divergências em países próximos ao Afeganistão, que tentam conciliar seus interesses estratégicos às expectativas internas e à pressão dos EUA para um apoio mais que retórico.
Desde a Guerra do Golfo (1991), os EUA mantêm aviões e navios, além de cerca de 25 mil tropas, no golfo Pérsico, em países como Arábia Saudita, Kuait, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.
Essa presença militar estrangeira na região é uma das razões apresentadas pelo milionário saudita Osama Bin Laden para odiar os Estados Unidos, além do apoio oferecido a Israel no conflito com os palestinos. Logo após os atentados, foi reforçada a segurança em bases norte-americanas no golfo Pérsico, que já foram alvo de bombas no passado.
Agora, os soldados e os caças podem configurar a base de uma força militar que venha a atacar o Afeganistão devido ao refúgio oferecido a Bin Laden.
O líder do grupo extremista islâmico Taleban, o mullah Mohamad Omar, alertou os países vizinhos sobre o "extraordinário perigo" ao qual estarão sujeitos se cooperarem com os EUA.
À exceção do Iraque, os países islâmicos e os árabes condenaram publicamente as mortes, mas a hostilidade em relação aos EUA vem crescendo na região, "por causa de seu apoio acrítico... à ocupação israelense, incluindo o fornecimento de helicópteros, caças F-16 e mísseis usados para reforçar a ocupação", segundo Phyllis Bennis, do Institute for Policy Studies, em Washington.
Os acampamentos dos supostos terroristas em uma área montanhosa como Candahar (sul do Afeganistão), onde ficaria o quartel-general de Bin Laden, são muito mais difíceis de atingir que um Exército, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell.
"A probabilidade de atingir Bin Laden é nula", na opinião de Nikolai Kovalyov, ex-chefe do serviço de segurança da Rússia.
"Ele se muda, tem muitos esconderijos", disse Bill Taylor, coronel aposentado do Exército norte-americano e analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.
"O que podemos fazer depende do serviço de inteligência. E a melhor fonte é o Paquistão."
O país, um dos três que reconhecem o Taleban (com Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita), é considerado uma peça-chave na provável ação militar.
O Afeganistão está a cerca de 1.600 km do oceano mais próximo, rodeado por países hostis aos EUA, como o Irã, ou por Estados que não estão acostumados a cooperar com militares norte-americanos, como o Paquistão e a Rússia. Vários países na região dispõem de armas nucleares.
O governo de Bush recebeu permissão do Paquistão para sobrevoar seu território. Poderia também deslocar uma força multinacional dentro de suas fronteiras, disseram fontes militares e diplomáticas paquistanesas no sábado.
O Paquistão aceitou ainda fechar sua fronteira com o Afeganistão e cooperar com informações estratégicas, mas não faltam críticas internas ao alinhamento, com vários protestos nas ruas.
O Irã deve adotar uma posição neutra. O presidente Mohamad Khatami reagiu rapidamente aos ataques. "O terrorismo é condenável e a comunidade internacional deveria... tomar medidas efetivas para erradicá-lo", disse.
Powell declarou que a condenação aos ataques manifesta pelo Irã e pela Síria poderia abrir uma era de cooperação com Washington.
O Taleban é acusado pelo Irã e por diversos Estados islâmicos de distorcer e prejudicar a religião muçulmana. O cerco a minorias e aos próprios muçulmanos, que enfrentam uma série de proibições, incluindo o uso da internet, de parabólicas e de videocassete, colaborou para acirrar o isolamento do grupo. O Taleban, de maioria sunita, persegue xiitas (majoritários no Irã).
"A melhor e mais segura opção para o Irã é adotar uma posição de não-interferência porque, se algo acontecer, o Irã será o primeiro a sofrer as consequências", afirmou Yousef Molaei, professor de relações internacionais na Universidade de Teerã (capital).
A Arábia Saudita e o Egito seriam fundamentais na coalizão antiterrorismo que os EUA pretendem formar, embora tenham dito que a cooperação deve "desvincular terrorismo de resistência islâmica contra a ocupação israelense de terras árabes".
A Rússia descartou participar da ofensiva e rechaçou o uso de bases de ex-repúblicas soviéticas. Três delas (Turcomenistão, Uzbequistão e Tadjiquistão) têm fronteira com o Afeganistão.
Oposição interna
Afegãos que se opõem ao Taleban declararam ontem estar dispostos a apoiar o Estados Unidos numa eventual ação militar.
"Queremos ver a destruição dos campos de treinamento terrorista, assim como a destruição do governo do Taleban, que forneceu as instalações para as atividades terroristas", afirmou à rede de TV CNN Abdullah Abdullah, um dos principais líderes da Aliança do Norte, que controla cerca de 5% do território afegão. Ahmed Shah Massoud, principal líder oposicionista, foi enterrado ontem. Ele foi vítima de um atentado suicida realizado no último dia 9.
Logo após os atentados, o Irã, a Rússia, a Índia, o Uzbequistão e o Tadjiquistão discutiram a "possibilidade de oferecer assistência humanitária, técnica e militar à coalizão anti-Taleban", que conta com entre 15 mil e 20 mil homens.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Ataque ao Afeganistão divide vizinhos
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da Folha de S.Paulo
O provável ataque norte-americano provoca divergências em países próximos ao Afeganistão, que tentam conciliar seus interesses estratégicos às expectativas internas e à pressão dos EUA para um apoio mais que retórico.
Desde a Guerra do Golfo (1991), os EUA mantêm aviões e navios, além de cerca de 25 mil tropas, no golfo Pérsico, em países como Arábia Saudita, Kuait, Emirados Árabes Unidos e Bahrein.
Essa presença militar estrangeira na região é uma das razões apresentadas pelo milionário saudita Osama Bin Laden para odiar os Estados Unidos, além do apoio oferecido a Israel no conflito com os palestinos. Logo após os atentados, foi reforçada a segurança em bases norte-americanas no golfo Pérsico, que já foram alvo de bombas no passado.
Agora, os soldados e os caças podem configurar a base de uma força militar que venha a atacar o Afeganistão devido ao refúgio oferecido a Bin Laden.
O líder do grupo extremista islâmico Taleban, o mullah Mohamad Omar, alertou os países vizinhos sobre o "extraordinário perigo" ao qual estarão sujeitos se cooperarem com os EUA.
À exceção do Iraque, os países islâmicos e os árabes condenaram publicamente as mortes, mas a hostilidade em relação aos EUA vem crescendo na região, "por causa de seu apoio acrítico... à ocupação israelense, incluindo o fornecimento de helicópteros, caças F-16 e mísseis usados para reforçar a ocupação", segundo Phyllis Bennis, do Institute for Policy Studies, em Washington.
Os acampamentos dos supostos terroristas em uma área montanhosa como Candahar (sul do Afeganistão), onde ficaria o quartel-general de Bin Laden, são muito mais difíceis de atingir que um Exército, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell.
"A probabilidade de atingir Bin Laden é nula", na opinião de Nikolai Kovalyov, ex-chefe do serviço de segurança da Rússia.
"Ele se muda, tem muitos esconderijos", disse Bill Taylor, coronel aposentado do Exército norte-americano e analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.
"O que podemos fazer depende do serviço de inteligência. E a melhor fonte é o Paquistão."
O país, um dos três que reconhecem o Taleban (com Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita), é considerado uma peça-chave na provável ação militar.
O Afeganistão está a cerca de 1.600 km do oceano mais próximo, rodeado por países hostis aos EUA, como o Irã, ou por Estados que não estão acostumados a cooperar com militares norte-americanos, como o Paquistão e a Rússia. Vários países na região dispõem de armas nucleares.
O governo de Bush recebeu permissão do Paquistão para sobrevoar seu território. Poderia também deslocar uma força multinacional dentro de suas fronteiras, disseram fontes militares e diplomáticas paquistanesas no sábado.
O Paquistão aceitou ainda fechar sua fronteira com o Afeganistão e cooperar com informações estratégicas, mas não faltam críticas internas ao alinhamento, com vários protestos nas ruas.
O Irã deve adotar uma posição neutra. O presidente Mohamad Khatami reagiu rapidamente aos ataques. "O terrorismo é condenável e a comunidade internacional deveria... tomar medidas efetivas para erradicá-lo", disse.
Powell declarou que a condenação aos ataques manifesta pelo Irã e pela Síria poderia abrir uma era de cooperação com Washington.
O Taleban é acusado pelo Irã e por diversos Estados islâmicos de distorcer e prejudicar a religião muçulmana. O cerco a minorias e aos próprios muçulmanos, que enfrentam uma série de proibições, incluindo o uso da internet, de parabólicas e de videocassete, colaborou para acirrar o isolamento do grupo. O Taleban, de maioria sunita, persegue xiitas (majoritários no Irã).
"A melhor e mais segura opção para o Irã é adotar uma posição de não-interferência porque, se algo acontecer, o Irã será o primeiro a sofrer as consequências", afirmou Yousef Molaei, professor de relações internacionais na Universidade de Teerã (capital).
A Arábia Saudita e o Egito seriam fundamentais na coalizão antiterrorismo que os EUA pretendem formar, embora tenham dito que a cooperação deve "desvincular terrorismo de resistência islâmica contra a ocupação israelense de terras árabes".
A Rússia descartou participar da ofensiva e rechaçou o uso de bases de ex-repúblicas soviéticas. Três delas (Turcomenistão, Uzbequistão e Tadjiquistão) têm fronteira com o Afeganistão.
Oposição interna
Afegãos que se opõem ao Taleban declararam ontem estar dispostos a apoiar o Estados Unidos numa eventual ação militar.
"Queremos ver a destruição dos campos de treinamento terrorista, assim como a destruição do governo do Taleban, que forneceu as instalações para as atividades terroristas", afirmou à rede de TV CNN Abdullah Abdullah, um dos principais líderes da Aliança do Norte, que controla cerca de 5% do território afegão. Ahmed Shah Massoud, principal líder oposicionista, foi enterrado ontem. Ele foi vítima de um atentado suicida realizado no último dia 9.
Logo após os atentados, o Irã, a Rússia, a Índia, o Uzbequistão e o Tadjiquistão discutiram a "possibilidade de oferecer assistência humanitária, técnica e militar à coalizão anti-Taleban", que conta com entre 15 mil e 20 mil homens.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
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