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18/09/2001 - 17h43

Comunidade árabe de SP teme represálias por falta de informações

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GUTO GONÇALVES
da Folha Online

A comunidade árabe no Brasil teme que os atentados terroristas ocorridos nos EUA provoquem uma onda de perseguições no país e no exterior. Líderes da comunidade iniciaram campanha contra o terrorismo e de combate a possíveis atos de violência contra os árabes e seus descendentes.

"Estamos tratando o problema com muita cautela, sabemos que reações xenófobas de violência praticadas contra árabes nos EUA não devem atingir o Brasil, mas estamos preocupados com a divulgação de equívocos sobre o nosso povo e religião. A xenofobia tem que ser combatida para não virar uma epidemia. A xenofobia não pode integrar a globalização", afirma o xeque Jihad Hassan, líder islâmico brasileiro.

O temor de Hassan é que a ignorância em relação ao povo árabe e ao islamismo possa levar a crença de que a comunidade esteja a favor dos atos de terror. "Repudiamos com fervor esses atos de violência. Nossa religião condena todas as formas de violência contra a vida humana", disse.

Para o xeque Hajji Muhammad Ragip, é muito grave atribuir ao Islã a responsabilidade pelos atentados nos EUA. Durante uma palestra feita hoje no congresso internacional "Valores Universais e o Futuro da Sociedade", no Sesc Vila Mariana, ele citou trechos do Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos) para um público de cerca de 400 pessoas. "Allah (nome de Deus em árabe) nos diz pelo Alcorão que quem matar uma pessoa comete assassinato contra toda a humanidade", afirmou.

Hajji apresentou os fundamentos da religião islâmica e os valores e princípios que os muçulmanos devem seguir para se tornar pessoas mais próximas do ser humano idealizado por Allah. "É uma mentira dizer que o Islã é responsável por atividades terroristas de uma minoria criminosa. O que se percebe é que a falta de informação leva a isso. O Islã é formado por cerca de 1 bilhão e 300 mil pessoas em todo o mundo e não dá para imaginar toda essa comunidade conivente com atos de violência", disse.

"Só porque uma meia dúzia de loucos praticou um ato de brutalidade, estão passando a imagem agora de que todo "Salim" é terrorista. Isso é muito perigoso e deixa a comunidade em situação desconfortável", disse o vereador Salim Curiatti Jr. (PPB), neto de libaneses.

O vereador havia recebido da mulher como presente de aniversário uma viagem a Nova York. A passagem foi cancelada. "Não quero arriscar. Já existia um esquema de fiscalização intenso nos aeroportos americanos de turistas descendentes de árabes. Da última vez que viajei para lá, no início do ano, fui o último a ser liberado, passei mais de duas horas sendo revistado e questionado sobre as razões da viagem", afirmou.

Para Daher Adura Orra, segunda geração de libaneses no Brasil, o terror nos EUA não deve ter reflexos no Brasil. "Estamos acompanhando os desdobramentos que podem afetar o Líbano, uma área sempre em estado de alerta. Nossos parentes de lá já estão acostumados, mas não conseguem esconder o medo, há grande tensão", disse.

Orra mantém contatos frequentes com primos e tios que vivem no Líbano. Para ele, a comunidade deve ficar atenta às manifestações de preconceitos e repudiar qualquer perseguição.

Aflição externa
Desde a última terça-feira (11), dia dos atentados que atingiram os EUA, árabes e descendentes no Brasil vêem mantendo contatos frequentes com familiares e amigos que moram em países afetados pela crise.

"Tenho recebido vários e-mails e telefonemas pedindo orientação sobre o que devem fazer aqueles que estão no Oriente Médio. A principal questão é saber se devem ou não vir logo ao Brasil", disse o xeque Jihad Hassan.

O brasileiro Walid Shukair, filho de palestinos, recebeu notícias dos avós que moram em Chicago (EUA) e em Ramallahh (Cisjordânia). Os relatos são de muito medo em relação às reações violentas de xenofobia norte-americana e aos bombardeios praticados nos últimos dias por Israel.

"Infelizmente os atentados abriram uma brecha para o ódio de Israel, que se aproveitou da situação para aumentar a violência em regiões onde vivem os palestinos. Meu avô está muito preocupado com o que pode acontecer. Não se pode combater o ódio com o ódio", disse Shukair.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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