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23/09/2001 - 03h16

Especial: Árabes viraram 'turcos' no Brasil

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PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo

O número de muçulmanos no Brasil chega a 1,5 milhão, segundo a Federação Islâmica Brasileira. "Os muçulmanos se concentram nas cidades que têm mesquitas e escolas islâmicas -ao menos 40. A maior comunidade islâmica está no Paraná e no Rio Grande do Sul, mas há grupos importantes em cidades de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A predominância é de sunitas, embora nos anos 1980 tenha havido uma grande imigração de xiitas devido à Guerra do Líbano", diz o historiador André Castanheira Gattaz, 33, que defende uma tese de doutorado sobre emigração libanesa para o Brasil na próxima terça, no departamento de história da USP (Universidade de São Paulo).

Os brasileiros aprendem a rezar em árabe, pois as orações (cinco por dia) devem sempre ser feitas nessa língua. O país abriga a primeira mesquita da América Latina. Inaugurada em 1956, a Mesquita Brasil reúne em torno de 600 pessoas às sextas-feiras -dia sagrado para o islamismo.

O brasileiro Muhammad Ragip converteu-se ao islamismo em 1990, na Turquia. Antes, era católico. Os pais e a mulher dele também se converteram.

Sem ascendência árabe -o nome foi adotado após a conversão-, o xeque Ragip evitava falar sobre o assunto no trabalho.

"Como existe um preconceito muito forte contra o islã, durante quase oito anos eu omiti. Quando as pessoas sabem que você é muçulmano, normalmente demonstram forte reação negativa. Se perguntassem, dizia que minha religião é a submissão a Deus, que é o significado de islã", afirma.

Segundo Ragip, "a ênfase do sufismo (denominação que segue, marcada pela mística) é a busca de Deus pelo caminho do amor".

"As três religiões [islamismo, cristianismo e judaísmo" têm a mesma origem, o mesmo fundamento, a mesma visão", afirma o xeque Armando Hussein Saleh.

"A imigração árabe a rigor engloba outras nacionalidades, como egípcios, palestinos, sauditas, iraquianos e outros, porém os libaneses respondem por cerca de 70% dos imigrantes árabes no Brasil", afirma Gattaz.

"Nos primeiros 50 anos da imigração, isto é, dos anos 1880 a 1930, predominou a imigração de libaneses cristãos. Até os anos 1920, o principal motivo que levou essas pessoas a emigrar, além da falta de perspectivas econômicas num país pequeno e superpovoado, era a oposição ao governo turco-otomano, que gerou um grande movimento emigratório de cristãos no início do século. Muitos sírios e libaneses fugiram para não ter de servir o Exército turco. Como em seus papéis anotava-se a nacionalidade turca, ao chegar ao Brasil começaram a ser chamados de "turcos", o que para eles era uma ofensa", diz.

"Em minha tese, revelo que a imigração libanesa não se constituiu apenas de cristãos, como os autores que estudaram o assunto antes de mim deram a entender, ao não considerar a imigração islâmica como parte da imigração libanesa", explica o historiador.

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