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26/09/2001 - 05h01

Reação a ataque se propagaria em círculos

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do "El País"

O Afeganistão se encontra no centro geográfico de um subsistema de cultura islâmica, e uma explosão militar na região poderia propagar-se em círculos concêntricos de gravíssimas consequências na região e no Ocidente.

O país faz fronteira com Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, China, Paquistão e Irã. Em todos esses países, exceto a China, o islamismo é a religião predominante. No Irã, a corrente islâmica predominante é xiita.

Os EUA escolheram o Paquistão como base de suas operações. O presidente do país, Pervez Musharraf, cedeu espaço aéreo. É o local ideal para a eclosão de uma guerra civil, como ameaçou o Conselho de Defesa afegão-paquistanês, coalizão de 35 organizações islâmicas dirigida por Sami Ul Ha, em caso de colaboração na invasão do Afeganistão.

O regime paquistanês, desde o início da guerra entre o Afeganistão e a ex-União Soviética (1979-1989), financiou e sustentou o Taleban, com aprovação de Washington, como arma contra a então União Soviética.

O serviço de inteligência paquistanês, que inventou o Taleban, está por trás de tudo. E o general Mahmud Ahmed é o colaborador mais próximo de Musharraf. Facilitar a invasão seria como matar um filho. Como quem pede esmola geopolítica, Musharraf insiste em que os EUA obtenham um mandato da ONU para entrar em ação.

O Irã, por sua vez, veria sem pena o fim do regime do Taleban, que tem implicações no contrabando de drogas na fronteira.

Enquanto o presidente organiza manifestações de desagravo aos EUA, o principal líder religioso do país exclui qualquer apoio logístico ao invasor. O caráter de potência regional a que aspira o Irã o obriga a não apoiar uma demonstração de força dos EUA.

O Turcomenistão é a única ex-república soviética que mantém relações oficiais, embora não-diplomáticas, com o Afeganistão, além de prover gás e energia. O país seria um bom trampolim para a invasão, pois conta com a maior base aérea da região, a 50 km da fronteira.

O Uzbequistão teria o maior interesse em atuar contra Cabul. O presidente Islam Karimov, que já prendeu mais de 2.000 islâmicos xiitas, conta também com uma base aérea próxima à fronteira. Trata-se de uma região que funciona como rota natural para invadir o Afeganistão e foi utilizada pelo Exército Vermelho soviético em 1979.

Os rebeldes que combatem o Taleban recebem provisões do Tadjiquistão e atuam no norte do Afeganistão, o único lugar que ainda resiste ao Taleban.

A China aplaudiria a queda do Taleban e, como tem mais pretensões de potência do que o Irã, não quer que os EUA se metam na região.

Golpe no islamismo
Do círculo seguinte, fazem parte a Índia, o Iraque, a Arábia Saudita, o Kuait e os Emirados Árabes Unidos.

Nova Déli já se ofereceu para atender qualquer pedido de Washington: logístico ou apoio político. Mesmo sem a Rússia, as afinidades com o Ocidente neoliberal brotam com naturalidade na Índia, e o conflito seria uma oportunidade de ouro para dar um golpe no islamismo e também uma forma de ganhar do Paquistão na disputa pela Caxemira.

O regime de Saddam Hussein cometeu o grave erro de emitir no dia seguinte à tragédia de Nova York um comunicado em que aprovava o atentado, cuja responsabilidade atribuía à conduta de Washington no que se refere ao conflito que opõe palestinos a israelenses.

Bagdá tratou de reparar rapidamente o erro tomando distância de qualquer ato de terrorismo, mas o regime está condenado haja o que houver. E se algum avião de Washington for dado como perdido, ele terá de ser procurado, seguramente, nos céus iraquianos.

O último círculo começa pelo Egito. É praticamente obrigado a figurar em qualquer coalizão. Síria e Líbano gostariam de ser esquecidos. Há grandes minorias islâmicas radicais em ambos.

A Jordânia e territórios palestinos pedem licença para alinhar-se com o Ocidente. A primeira como soldado preferido, enquanto os territórios concorrem com Israel pela medalha de ouro no combate contra o terrorismo.
Se o líder israelense Ariel Sharon quis aproveitar-se da situação para colocar a Autoridade Nacional Palestina nesse balaio de gatos, o veloz líder palestino Iasser Arafat desta vez não vai se alinhar com o inimigo.

Se houver guerra no Afeganistão, é pouco provável que a coalizão, sem falar dos que estão em dúvida, resista por muito tempo. Somente avanços nas negociações sobre a independência palestina acalmariam o grande islamismo sunita, que, apesar de não apoiar o Taleban, cresce com as agressões ao islã. Ainda que o Afeganistão não faça parte do mundo árabe.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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