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30/09/2001 - 01h12

Política dos EUA é posta em xeque

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MARCELO STAROBINAS
Free-lance para a Folha de S.Paulo, em Londres

Berço do islamismo, o Oriente Médio é também o grande berço de grupos terroristas islâmicos que vêem os EUA e seus aliados na região (sobretudo Israel) como inimigos a serem destruídos.

Para cumprir suas promessas na guerra contra o terrorismo, o presidente dos EUA, George W. Bush, terá pela frente uma missão complexa. Segundo analistas ouvidos pela Folha, muito mais do que força bruta, os norte-americanos teriam de se mostrar dispostos a reformular sua política regional para vencer essa batalha.

"O terrorismo não pode ser derrotado por meios militares", escreveu em artigo ainda não publicado Michael Codner, especialista em ciências militares e diretor-assistente do Royal United Services Institute, de Londres.

"Ele só pode ser eliminado com estratégias endereçadas às causas sociais, culturais e econômicas subjacentes. Essas causas estão ligadas às populações que apóiam o terrorismo, e não às crenças ou motivações dos terroristas."

Assim, mesmo que tivessem sucesso na retaliação à rede responsável pelos atentados de 11 de setembro, os EUA não estariam livres de novas ameaças enquanto forem vistos como a origem de muitos dos males que afetam os muçulmanos do Oriente Médio.

George Joffee, estudioso do mundo islâmico e pesquisador do Royal Institute of International Affairs, lista quatro fatores que alimentam o sentimento antiamericano na região: o apoio a Israel, a continuação de uma política "sem sentido" de bombardeios ao Iraque, a presença permanente de tropas americanas na Arábia Saudita e a visão de que Washington se aproveita da globalização para explorar economicamente os países árabes e muçulmanos.

"Eu não consigo entender a incapacidade dos EUA de compreender isso. É possível acabar com o terrorismo no Oriente Médio, basta Washington reformular sua política", afirma Joffee.

Apoio estatal
Outro obstáculo para a erradicação do terrorismo é o apoio de Estados a grupos extremistas. Segundo relatório do Departamento de Estado norte-americano, Irã, Síria e Iraque patrocinam de forma direta ou indireta atividades de organizações terroristas.

Enquanto são boas as chances de o novo governo sírio de Bashar al Assad mostrar cooperação com o Ocidente, interessado em reerguer sua frágil economia, um grande abismo separa Washington dos regimes de Teerã e Bagdá.

Na Líbia, embora o regime de Muammar Gaddafi tenha diminuído seu apoio ao terrorismo, ainda de acordo com fontes oficiais americanas, ele mantém contatos com grupos armados.

E o Sudão, que condenou com firmeza o atentado ao World Trade Center, temendo sofrer bombardeios retaliatórios de Washington, foi o local onde Osama bin Laden fundou sua rede internacional Al Qaeda e continua a ser visto como um país suspeito de financiar atentados.

Uma ampla ofensiva para neutralizar esses países, porém, não seria suficiente. Apesar de receberem ajuda de alguns Estados, grupos terroristas agem com grande dose de autonomia.

A única forma de contê-los, observa Charles Tripp, professor de política do Oriente Médio da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, seria um trabalho de médio prazo de inteligência, infiltrando agentes para desmontar as redes e coletar informações.

A aliança americana com Israel torna as coisas ainda mais difíceis para Bush. Desde a fundação de seu Estado, em 1948, os israelenses convivem com a ameaça terrorista. O país possui extenso conhecimento e tecnologia de combate ao terrorismo. Mas a política regional impossibilita os EUA de usar Israel como braço armado na luta antiterror no Oriente Médio.

A ocupação de territórios palestinos e a violenta repressão à Intifada pelos israelenses estão entre os principais motivos de ressentimento contra os americanos no mundo islâmico. Jatos israelenses bombardeando bases terroristas no Afeganistão, no Iraque, ou no Líbano seria motivo de protestos nas ruas do mundo árabe.

Aliados árabes
Pelo menos três países árabes devem estar presentes nos cálculos de Washington como potenciais aliados no combate ao terror: Egito, Jordânia e Arábia Saudita. Todos eles possuem regimes autoritários cujo futuro é ameaçado por extremistas islâmicos.

No Cairo, o presidente Hosni Mubarak conteve durante os anos 90 rebeliões dos grupos Jihad e Al Gama'a al Islamiyya. Ambos criticam o governo egípcio por não respeitar as leis da religião, por manter a paz com Israel e por suas relações com os EUA.

A monarquia hashemita jordaniana também gera descontentamento por haver assinado um tratado de paz com Israel e por sua aliança com os americanos.

E os sauditas, embora não tenham permitido o uso de bases aéreas em seu território para bombardeios ao Afeganistão, contam com a colaboração americana para reprimir grupos de oposição como o de Bin Laden e, assim, continuar reinando sobre um quarto do petróleo mundial.



Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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