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02/10/2001 - 05h35

Emaranhado étnico forma Aliança do Norte

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GUILLERMO ALTARES
do "El País"

O Taleban, milícia extremista islâmica que controla o Afeganistão, poderia imaginar que a morte do líder guerrilheiro Ahmad Massoud desintegraria a Aliança do Norte, principal força de oposição ao regime.

Considerado por muitos um gênio da guerrilha, Massoud, que liderava a Aliança do Norte, foi morto em atentado realizado muito provavelmente pelo Taleban, três dias antes dos ataques terroristas contra os EUA, cujo principal suspeito é Osama bin Laden, protegido pelo regime.

Porém o Taleban se equivocou. A esperança de uma intervenção militar de forças externas, como os Estados Unidos, tornou a Aliança do Norte, composta por um emaranhado de grupos étnicos, mais unida do que nunca.

A Aliança do Norte é comandada por antigos "senhores da guerra", que lutaram primeiro contra a União Soviética e em seguida contra o governo pró-soviético instalado o país, deposto em 1992. Após a chegada ao poder, começaram lutas internas entre seus diferentes generais. Quando o Taleban conquistou o poder em 1996, os "senhores da guerra" se uniram novamente.

Dizem que fazem parte da Aliança do Norte entre 15 mil e 40 mil milicianos. Nenhum integrante do grupo dá precisão sobre quais as armas de que dispõem e menos ainda sobre quais estariam recebendo.

Observadores na zona sob controle da Aliança do Norte falam em tanques ultrapassados. Mas a principal força está na motivação e na experiência dos guerrilheiros, alguns com mais de 23 anos de combate.

"Com ajuda externa, poderemos controlar o país", afirma Ashmat Froz, um dos representantes da Aliança do Norte na França. "Estamos dispostos a lutar para deter Bin Laden e instaurar uma democracia no país. Somos o governo legítimo do Afeganistão, representado por Burhanuddin Rabbani".

Rabbani, um poeta carismático apelidado de "professor", é desde 1993 o presidente do Afeganistão reconhecido pela comunidade internacional -menos pelo Paquistão.

Embora controle apenas uma porção minoritária do país, na qual não se inclui nenhuma cidade importante, a Aliança do Norte ocupa a representação afegã em embaixadas e na ONU.

Divisões
"A Aliança do Norte é a única capaz de acabar com o Taleban a partir de uma ação interna, substituindo esse regime , que ameaça o mundo, por um governo muçulmano civilizado", afirma o escritor francês Michel Barry, autor de vários livros sobre a guerrilha.

O Ocidente parece ter compreendido essa mensagem. A Aliança recebia até agora apenas um discreto apoio militar do Irã, da Rússia, da Índia e de algumas das ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central.

Agora são cortejados pelos EUA como a melhor solução para o problema afegão, ao lado do ex-rei Zahir Shah, 86, que poderia voltar de Roma, onde está exilado, para o Afeganistão, onde lideraria uma transição.

A idéia seria convocar a Loya Jirga, a grande assembléia tribal do Afeganistão. Os comandantes da Aliança aceitam essa hipótese e já se reuniram com o ex-rei.

Porém não são todos os especialistas que enxergam essa solução tão claramente. Existem problemas étnicos, divisões internas e os anos em que a Aliança do Norte controlou o país foram um cataclisma, responsável pelo caos que, com o apoio do Paquistão, resultou no governo do Taleban.

Kenneth Weisbrode, especialista norte-americano em Ásia Central, afirma
que os integrantes da Aliança refletem bem a divisão étnica do país. Os pashtus, mesma etnia que dá suporte ao Taleban, compõem 38% da Aliança.
Os tadjiques são 25%, os hazaras, 19%, os uzbeques, 6%, e o restante é composto por pessoas de outros países. Esse equilíbrio pode se pulverizar a qualquer momento.

Atualmente, a Aliança do Norte tem um governo político e um comando militar. Além do presidente Rabbani (tadjique), suas figuras mais visíveis são o ministro das Relações Exteriores, Abdulah Abdulah (tadjique), com bons contatos no exterior, e o primeiro-ministro Abdul Rasul Sayyaf (pashtu), com alguns pontos de vista similares ao Taleban.

O comando militar, após a morte de Massoud, está dividido entre os generais Muhammad Fahim (tadjique), Abdul Rashid Dostum (uzbeque) e Ismail Khan (hazara).

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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