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03/10/2001 - 04h47

Taleban faz apelo contra ataque

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KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Islamabad

O grupo extremista islâmico Taleban fez ontem um apelo para tentar evitar um eventual ataque dos EUA e, pela primeira vez desde que começou a governar a maior parte do Afeganistão, em 1996, aceitou dividir poder com chefes tribais em três Províncias do país buscando apoio interno.

Externamente, o Taleban está isolado. Até o Paquistão, único país a manter relações com o grupo, acha que seus dias estão contados.

O embaixador do Afeganistão no Paquistão, Abdul Salam Zaeef, pediu que sejam feitas negociações a fim de evitar uma guerra e voltou a dizer que só entregará Osama bin Laden à comunidade internacional se forem apresentadas provas do envolvimento do terrorista saudita nos atentados do dia 11 contra os EUA.

"O Afeganistão não precisa de uma guerra. Estamos dispostos a negociar. Não nos comprometeremos em uma guerra, mas, sim, em negociações", afirmou o embaixador do Taleban ontem na cidade de Quetta, no Paquistão.
Zaeef falou ainda que o país precisa de ajuda em "alimentos, proteção e reconstrução".

O embaixador do Taleban disse também: "Condenamos o terrorismo, mas precisamos de provas. Sem provas, o Taleban não poderá entregar [Bin Laden"". Zaeef deu a entender que, se forem apresentadas provas contra Bin Laden, acusado de ser o chefe da organização terrorista Al Qaeda, o Taleban pode prendê-lo.

Os EUA voltaram a negar qualquer possibilidade de diálogo com o Taleban e exigem que o grupo entregue Bin Laden e seus seguidores sem condições.

No entanto, nas vezes em que admitiu poder vir a entregar Bin Laden se forem oferecidas provas contra ele, o Taleban fez exigências, tais como que o saudita viesse a ser julgado por uma corte internacional com chancela da ONU e que um juiz muçulmano participasse desse processo.

Zaeef afirmou que o Taleban está "disposto a negociar com qualquer país". "Formamos parte deste mundo e estaremos felizes em contribuir com qualquer ação que vá no sentido da paz", disse.

Esse tom "conciliatório" do Taleban mais a divisão de poder em Províncias do Afeganistão com outros grupos deve ser interpretado como reação ao avanço territorial da Aliança do Norte, que controla parte do território afegão.

Anteontem, o rei deposto do Afeganistão, Mohamad Zahir Shah, e a Aliança do Norte anunciaram um acordo para tentar tirar o Taleban do poder, com o apoio dos EUA. O entendimento entre os oposicionistas prevê a criação de um conselho formado pelos líderes das diversas etnias e facções políticas do Afeganistão. Esse conselho elegeria um chefe de Estado e formaria um governo de transição de dois anos. Aos 86 anos, Zahir Shah encabeçaria essa coalizão.

Conciliação
"Chefes tribais e comandantes militares serão incluídos na máquina do governo", disse ontem Rehmad Wahid Yar, membro da cúpula do Taleban, segundo entrevista à "AIP", uma agência de notícias afegã.

Numa atitude inédita desde que tomou o poder em 1996, o Taleban promete abrir mão de poder em três Províncias do sudeste do Afeganistão: Paktiba, Paktia e Khost. As três fazem divisa com o Paquistão, que já manifestou apoio às ações dos EUA contra o terrorismo.

Das 30 Províncias do Afeganistão, o Taleban controla 28. Seu grande
feito quando chegou ao poder, em 1996, foi trazer estabilidade política ao país após mais de 20 anos de conflitos sangrentos.

Com seu isolamento internacional e ameaçado pelos rebeldes, o Taleban dá sinais de estar perdendo apoio. A divisão de poder nas Províncias é uma espécie de recibo assinado disso.

A Província de Khost foi bombardeada pelos Estados Unidos em 1998, numa retaliação em relação a atentados atribuídos a Bin Laden contra embaixadas americanas na África. De acordo com a "AIP", líderes locais manifestaram preocupação com a possibilidade de novo ataque dos EUA.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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