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03/10/2001 - 04h55

Afeganistão retoma plantio de papoula

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RAYMOND WHITAKER
do "The Independent", em Peshwar

Sohrab, um refugiado afegão, mostrou o beco onde ele e seu companheiro conseguiram a heroína que acabaram de comprar. No local, outro homem estava segurando um fósforo aceso sob uma folha de papel laminado, esperando pelo vapor da droga para sentir seus efeitos.

"Você pode ver os traficantes ali embaixo", disse Shah Agha Saadat, que comanda um centro de ajuda para viciados, onde Sohrab está registrado.
Ele indicava dois homens, que se esconderam após terem percebido que estavam sendo vistos.

Saadat quis mostrar o que ele chama de um cemitério de antigos viciados. Trata-se de uma faixa de terra ao lado da estrada, perto do lugar onde Sohrab consumia a droga. "Aqui é onde os enterramos, caso não apareça a família para levá-los", disse. "Há 25 corpos aqui."

A papoula -base do ópio e da heroína- sempre brotou nos dois lados da fronteira do Paquistão com o Afeganistão. Mas a região se tornou a maior exportadora mundial de heroína após a invasão soviética no Afeganistão, em 1979.

A cultura das drogas, armas e criminalidade levou terríveis consequências ao Paquistão, onde há mais de três milhões de viciados. Lá, tem sido provado o envolvimento de políticos, militares e policiais com o tráfico.

Embora o Paquistão e o Taleban, no Afeganistão, tenham praticamente acabado com suas plantações de papoula, Cabul não fez nada para impedir o refino e a exportação de heroína.

"O tráfico de drogas continua a financiar não só o Taleban, mas o terrorismo e as ações de Bin Laden. Se tivéssemos nos empenhado mais no combate às drogas, saberíamos mais sobre o terrorismo", disse uma fonte diplomática no Paquistão.

O Taleban está ameaçando permitir o reinício do cultivo de papoula se os Estados Unidos atacarem. "A proibição da plantação de papoulas era muito impopular, e agora o Taleban precisa de amigos", disse Lateef Afridi, um político paquistanês.

Os ataques aos EUA suspenderam um plano do UNDCP (Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas) de fornecer US$ 1,5 milhão aos fazendeiros afegãos que pararam de cultivar papoulas. Foi um incentivo a mais para que o plantio reiniciasse.

"Estamos vendo todos os ingredientes para o cultivo ilegal do ópio: guerra civil, ausência de leis e ordem e falta de alternativas para fazendeiros", disse Bernard Frahu, que comanda o UNDCP em Islamabad.

"O ópio dá confiança e garantias aos fazendeiros. Plantando trigo, não há garantia de que conseguirão vender a colheita."

Muitas das pessoas que chegam à Dost Foundation, organização paquistanesa especializada em combater o vício à heroína, estão nessa situação devido aos vapores que inalaram nas refinarias do Afeganistão.

"O número continua subindo, apesar do esforço que fazemos para reduzi-lo, porque o suprimento de heroína continua alto", disse Saadat. Sohrab pode perfeitamente terminar enterrado ao lado da rua em que ele frequenta para usar a droga, mas mensalmente a organização reabilita cerca de 15 viciados.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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