Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/10/2001 - 04h32

Brasil apura ação do Hizbollah

Publicidade

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina

MÁRIO MAGALHÃES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Em contradição com a afirmação do governo brasileiro de que inexiste no país uma rede de apoio ao extremismo islâmico, relatórios da Polícia Federal enviados ao Paraguai entre o fim de 1999 e o início de 2000 apontam para uma base ligada ao Hizbollah na área da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina).

Sediado no Líbano, o Hizbollah atua em vários países. Entre outros atentados, é suspeito de ter sido o autor da explosão na Embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, que matou 29 pessoas.

Relatórios sobre três pessoas foram enviados em português à Secretaria de Prevenção e Investigação do Terrorismo, do Paraguai.

Dois suspeitos moravam no lado paraguaio da fronteira, e um, em território brasileiro. No alto das fichas, foram fornecidos os dados obtidos no Registro de Estrangeiros da PF.

As informações remetidas ao Paraguai serviram de base para a prisão, em fevereiro de 2000, do empresário libanês e suposto contrabandista Ali Khalil Merhi, 33.

A ficha de Merhi afirma que ele viajava com frequência ao Líbano e, para comprar equipamentos eletrônicos, à Ásia. Merhi tinha uma loja em Ciudad del Este, município paraguaio na fronteira.

"É envolvido em ilícitos criminais e tem fortes contatos com o Hizbollah", diz o item "antecedentes" do documento enviado ao Paraguai. "É considerado ligação entre grupos muçulmanos sunitas e
xiitas extremistas."

Merhi foi apontado como responsável por uma suposta operação de tráfico de drogas na qual sete suspeitos foram presos em 1995, em Assunção, incluindo uma brasileira e três libaneses com nacionalidade brasileira.

Um dos presos, Sérgio Salem, viria a ser extraditado para a Argentina como suspeito de participar do atentado a bomba que provocou a morte de 85 pessoas na sede de uma entidade israelita de Buenos Aires, em 1994.

Ao ser preso em Ciudad del Este, conforme relatório pericial e
transcrição do árabe para o espanhol por um tradutor juramentado, Merhi tinha em seu poder um disco compacto editado pela entidade libanesa Associação de Apoio à Resistência Islâmica.

O disco continha, segundo a perícia, imagens de ações terroristas, suicidas com explosivos atados ao corpo, soldados suicidas lendo cartas de despedida e discursos exaltando "mártires" de ações contra alvos israelenses.

Merhi obteve liberdade provisória em junho de 2000, alegando que participaria de uma festa de casamento, na fronteira. Teria fugido para o Líbano, via Foz do Iguaçu, São Paulo e Paris. Foi citado como ligado ao Hizbollah em relatório de abril do Departamento de Estado dos EUA.

Cópias da perícia, da tradução do árabe para o espanhol e das fichas em português recebidas pelo Paraguai foram obtidas pela Folha no Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul. A Divisão de Comunicação Social da PF afirmou que não se pronuncia sobre as investigações a respeito de terrorismo.

O segundo homem cuja ficha foi enviada ao Paraguai foi o libanês Youssef Salim Merhi, primo de Ali Kalil Merhi. ""Seria um dos principais quadros da organização (...) Hizbollah", diz o relatório. ""Sua família no Líbano inclui membros do Hizbollah e da milícia Amal [grupo xiita]. Seus interesses comerciais nas (...) Três Fronteiras servem para justificar suas viagens. Apresenta-se como homem de negócios."

O terceiro foi Assad Ahmad Mohamad Barakat. Libanês, entrou no Brasil em 1987. Moraria em Foz do Iguaçu (a ficha informa o endereço, no qual ninguém foi encontrado pela Folha.

"É considerado um dos dirigentes do Hizbollah na região", diz o relatório. Viajaria anualmente ao Líbano para manter contato com os líderes da organização. A ficha informa que o processo de naturalização de Barakat no Brasil foi arquivado em 1998 porque ele não sabia ler em português.


Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página