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10/10/2001 - 04h51

Aliança do Norte quer tomar Cabul em menos de um mês

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KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Faizabad

Membro da cúpula da Aliança do Norte e chefe da guarda do presidente Burhanuddin Rabbani, derrubado pelo Taleban em 1996, Amanulla Paiman diz que os rebeldes estão preparados para tomar Cabul em menos de um mês se os Estados Unidos lhes derem apoio logístico.

"Bush não precisa enviar tropas terrestres, basta nos dar armas e suprimentos. Os soldados nós temos. São homens dispostos a lutar e a morrer para enfrentar o Taleban", diz Paiman.

A presença americana no Afeganistão poderia gerar um sentimento de que o país está sendo invadido e de que seus próprios cidadãos são incapazes de resolver seus problemas, crê o integrante da Aliança do Norte.

De acordo com Paiman, os rebeldes diminuíram a intensidade da luta na linha de frente sul, que segue na direção de Cabul, a fim de esperar que os bombardeios americanos enfraqueçam o Taleban e favoreçam o cerco que está em preparação. Ele conta que os rebeldes e os Estados Unidos têm trocado informações.

Paiman afirma que há 10 mil homens esperando uma ordem para avançar na primeira linha de combate, que fica a menos de 40 km da capital. Ele diz que, para isso, ainda estão sendo resolvidos problemas que se recusa a revelar alegando segredo militar.

"O Conselho de Unidade Nacional deverá se reunir até a próxima semana e decidir como agir contra o Taleban", revela, referindo-se ao colegiado de líderes oposicionistas afegãos que fizeram um acordo com o rei deposto, Mohammad Zahir Shah, para formar um governo de coalizão após a eventual queda do Taleban.

Segundo ele, essa reunião deverá acontecer em território afegão. O encontro no qual foi feito o entendimento entre a Aliança do Norte e Shah aconteceu no começo do mês em Roma, cidade em que residia o ex-rei. "O Taleban está no fim e nós precisamos mostrar ao nosso povo e ao mundo que estamos unidos e que saberemos dirigir o país", afirma.

Paiman também se recusa a falar dos dados de avaliação coletados nas missões de reconhecimento dos rebeldes. A força do Taleban, que teria pelo menos 25 mil soldados só na defesa de Cabul, não é subestimada por Paiman. "Mas é evidente que ficou mais fácil lutar contra eles agora que os bombardeios estão atingido alvos importantes."

Ex-mujahidin, guerrilheiro que lutou contra os russos entre 1979 e 1989, o chefe da guarda presidencial de Rabbani, presidente ainda reconhecido como legítimo pelas Nações Unidas, diz: "O Taleban luta com muita ferocidade e tem ajuda de pelo menos 15 mil estrangeiros, entre paquistaneses, sauditas e tchetchenos", diz.

Não há como confirmar a presença desses 15 mil estrangeiros, apesar de ser verdadeira a existência de soldados de outros países no Afeganistão, seja por simpatia ao Taleban, seja por pertencerem à Al Qaeda (rede internacional comandada por Osama bin Laden).

Quando se menciona o nome de Bin Laden, os olhos de Paiman, que tem uma expressão séria o tempo todo, fixam-se no interlocutor. Ele fala em tom duro, quase com raiva: "É um monstro, que matou muitos afegãos, além dos americanos que morreram nos ataques. Foi ele quem matou Massoud".

Ahmad Shah Massoud, principal comandante da Aliança do Norte, foi morto dois dias antes dos atentados contra os EUA num ataque suicida em que os assassinos se passaram por jornalistas. Suspeita-se que Bin Laden tenha matado Massoud em troca de proteção do Taleban, que via no inimigo tadjique seu maior rival.

Bin Laden julgado
Paiman repete que Bin Laden matou muitos afegãos para justificar o que pode ser o primeiro desentendimento sério entre os oposicionistas e os Estados Unidos, se o Taleban realmente deixar o poder à força: "Se capturarmos Bin Laden, ele será primeiro julgado no Afeganistão, para pagar pelos crimes que cometeu aqui. Depois, o entregaremos aos Estados Unidos ou a alguma corte internacional".

Indagado se a eventual ameaça de uma real queda do Taleban não levará Bin Laden a deixar o Afeganistão, Paiman diz que ele "não tem para onde ir". Nem para o Paquistão, onde ele tem simpatizantes e uma rede de apoio em cidades como Peshawar? "Talvez no Paquistão. Foi o Paquistão quem trouxe Bin Laden para cá", responde, retratando a rivalidade com que a Aliança do Norte trata o governo do país vizinho.

Paiman lembra que o Taleban nasceu em escolas extremistas do Paquistão, país onde refugiados afegãos procuraram abrigo ao fugir das lutas que reduziram o país a ruínas nas décadas de 80 e 90.

Nas escolas, jovens foram seduzidos pelo discurso fundamentalista islâmico e criaram a milícia religiosa que chegou a ser aliada temporária da Aliança do Norte nos confusos e intermináveis conflitos do Afeganistão.

"Quando o Taleban cair, o mulá Omar [líder do grupo religioso] e Bin Laden talvez fujam para o Paquistão, que agora diz estar ao lado dos Estados Unidos na guerra contra o terrorismo", diz Paiman, dando o primeiro e único sorriso de uma entrevista concedida à beira do rio Kupcha, em Faizabad, rodeado por pelo menos seis soldados armados com fuzis e granadas.

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