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20/10/2001 - 05h17

Taleban desafia EUA, mas faz proposta

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da Folha de S.Paulo

O Taleban, regime extremista islâmico que controla a maior parte do Afeganistão, está tentando se mostrar forte e sem medo dos ataques dos Estados Unidos. Segundo o embaixador do regime em Islamabad (Paquistão), Abdul Salam Zaeef, a situação no país é normal e a estrutura militar continua em boas condições, apesar das quase duas semanas de bombardeios anglo-americanos.

Ao mesmo tempo, por meio do próprio embaixador, o regime está intensificando suas movimentações diplomáticas para evitar uma iminente queda nas próximas semanas, propondo um plano de cessar-fogo.

Após manter encontros com as lideranças do Taleban nesta semana em Candahar [cidade afegã considerada o quartel-general do regime no Afeganistão", Zaeef afirmou que todas as lideranças do Taleban e o saudita Osama bin Laden, acusado pelos norte-americanos de envolvimento nos atentados contra os EUA, não teriam sido atingidos pelos ataques.

De acordo com Zaeef, a maior parte dos alvos norte-americanos são civis. Mais de 900 teriam morrido nos ataques, segundo o embaixador, número que não foi confirmado de forma independente e pode ser parte de guerra de propaganda.

"A capacidade militar do país sofreu alguns danos, mas o regime ainda tem condições de lutar", segundo Zaeef. "Caso passemos a nos confrontar no solo, aí sim veremos o que vai acontecer", disse ele, numa alusão à dificuldade que os EUA poderão enfrentar em combates terrestres.

Segundo o diplomata, não estão ocorrendo deserções dentro do regime. Tampouco há redução do apoio popular. "Isso é uma mentira. É parte da propaganda contra o Afeganistão. Não há divergências na comunidade islâmica afegã. Todos continuam seguindo as ordens do mulá Mohamad Omar [líder do Taleban]."

Relatos, porém, indicam que muitos soldados estão deixando as fileiras do Taleban e aderindo à força opositora Aliança do Norte, que controla uma parcela menor do país. Anteontem os EUA emitiram comunicado por rádio avisando os soldados do Taleban para se entregarem, evitando as consequências dos ataques.

Cessar-fogo
Apesar do teor agressivo do discurso, o embaixador do Taleban disse que o grupo estaria disposto a negociar um cessar-fogo e o apresentaria para autoridades do Paquistão. Os detalhes do plano, no entanto, não foram divulgados pelo diplomata.

O governo paquistanês afirmou estar aberto a conversações. O Paquistão é o único país a manter relações com o Taleban. Mas, desde os atentados e o consequente crescimento das pressões dos EUA, o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, apóia a ofensiva americana, exige a entrega de Bin Laden e já admite a saída do Taleban do poder.

Os EUA dizem que só aceitam abrir um diálogo com o Taleban caso o regime entregue antes o terrorista saudita e os membros de sua rede, a Al Qaeda. Caso contrário, os EUA mantêm a posição de derrubar o regime do Taleban e caçar os terroristas.

Porém a possibilidade de que a entrega de Bin Laden faça parte de um acordo para parar os ataques parece estar descartada pelo Taleban. "O tema Bin Laden não mudou. É uma questão de fé. Não mudaremos nossa fé por nada", disse o diplomata.

O regime afirmou nesta semana que aceitaria entregar o saudita para um país islâmico neutro, desde que os bombardeios fossem encerrados e os Estados Unidos apresentassem provas do envolvimento dele nos atentados do dia 11 de setembro. Os norte-americanos não aceitaram.

O ministro das Relações Exteriores do Taleban, Jalaluddin Haqqani, esteve nesta semana em Islamabad. Não se sabe o motivo da viagem. Houve rumores de que ele teria desertado e estaria negociando um regime pós-Taleban. Ele negou.

Futuro governo
Um grupo de líderes tribais se reuniu em Peshawar, no Paquistão, para pedir ao Taleban para deixar o poder. O grupo é ligado ao ex-rei Zahir Shah, 86, e é favorável à convocação da Loya Jirga, tradicional assembléia tribal afegã. Muitos analistas consideram essa opção preferível à Aliança do Norte. A maior parte dos líderes tribais são pashtu, etnia majoritária no Afeganistão e entre o Taleban. A Aliança do Norte é composta principalmente por etnias minoritárias no país, como a tadjique e a uzbeque.

Os EUA e a ONU estão mantendo conversações com todos os grupos opositores ao Taleban para articular a formação de um novo governo no Afeganistão.


  • Com agências internacionais

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