Publicidade
Publicidade
28/10/2001
-
04h19
da Folha de S.Paulo
Os EUA fizeram ontem seu maior ataque a Cabul, numa ofensiva com mais de 11 horas, e 5.000 deixaram o Paquistão para aderir a uma "guerra santa" contra os americanos. Em meio a rumores de que mais cinco comandantes rebeldes haviam sido enforcados, o Taleban entregou o cadáver do líder opositor Abdul Haq, morto anteontem pela milícia, aparentemente após emboscada.
"Foi uma das piores noites", disse um morador da capital. De acordo com testemunhas, bombas caíram no centro e no sul da cidade à noite. Os bombardeios continuaram tarde adentro, contra posições no norte de Cabul.
As linhas de frente do regime afegão sofreram seu pior golpe. Os ataques da manhã se concentraram sobre Sia Ku, monte que dá visão para o aeroporto de Bagram, tomado pela Aliança do Norte, a principal força de resistência ao regime. A posição do Taleban, que inutilizara Bagram, foi bombardeada quatro vezes numa operação no começo da manhã e mais sete mais tarde.
As aeronaves americanas voaram a elevada altitude, longe do alcance das baterias antiaéreas.
Apesar da intensidade da ofensiva dos EUA, os apelos do Taleban por reforços muçulmanos continuam a surtir efeito.
Cerca de 5.000 pessoas partiram ontem de Temergarah, no Paquistão, para aderir a uma "guerra santa" contra os EUA. Homens de várias idades portavam fuzis, metralhadoras, lança-foguetes e até machados e espadas.
A missão do grupo, segundo os organizadores, será entrar na Província de Kunar e ajudar o governante do Taleban a se defender de incursões americanas.
Os militantes afirmaram que, em outros povoados da fronteira noroeste, um encrave da etnia pashtu -majoritária no Afeganistão, grupos similares haviam sido formados.
Oposição enfraquecida
Fontes do regime afegão citadas pela TV árabe Al Jazeera afirmaram que o corpo de Haq foi entregue a parentes, que viajaram a Cabul para recebê-lo. O cadáver deverá ser enterrado em Peshawar, no Paquistão.
Outros líderes podem ter sido mortos. A agência de notícias afegã "AIP", sediada no Paquistão, informou que mais cinco comandantes e 15 combatentes das forças rebeldes haviam sido capturados na Província de Samangan (norte) e mortos pelo Taleban.
Mais tarde, porém, o regime afegão negou. "É uma informação falsa, e a desmentimos", disse à "AIP" o ministro da Educação do Taleban, Amir Jan Muttaqi.
A imprensa do Paquistão disse ainda que Haq foi vítima de uma armadilha montada pelos serviços de inteligência do Taleban, que o aguardavam havia dias.
O comandante rebelde cruzou a fronteira entre Paquistão e Afeganistão na madrugada de segunda-feira, após o chefe do Taleban no distrito de Hisarak Ghiji ter-lhe garantido apoio e segurança no território em troca de dinheiro. Na sexta-feira, após dois dias de cerco, foi capturado com companheiros em Azro, na Província de Logar (ao sul de Cabul).
"Há muitos indícios de que Haq caiu numa cilada urdida pela inteligência do Taleban", disseram fontes militares paquistanesas.
O Taleban afirmou que o líder, que teria sido levado ao Afeganistão por um helicóptero americano, foi condenado à morte por "traição". Segundo o governo afegão, Haq havia mantido contatos com várias tribos da etnia pashtu para obter apoio ao ex-rei Mohamed Zahir Shah -os EUA articulam um governo multiétnico de coalizão para suceder ao Taleban, e Haq, respeitado entre os afegãos como veterano da guerra contra os soviéticos, era um dos principais agentes da estratégia.
"Fiasco"
O Taleban zombou das iniciativas dos EUA. "A captura e a morte de Abdul Haq são um grande fiasco para os planos americanos no Afeganistão", disse o porta-voz do Ministério da Informação afegão, Abdul Hanan Himat.
Os EUA enviaram um avião espião armado para ajudar Haq a escapar do cerco do Taleban, mas o líder rebelde acabou apanhado.
O general Pervez Musharraf, que governa o Paquistão, tentou minimizar o impacto político da perda de Haq: "Seu papel [na formação do Afeganistão pós-Taleban" não era tão grande". Uma reunião com grupos ligados ao ex-rei e homens da Aliança do Norte foi postergado por causa da morte de Haq, entretanto.
O governo afegão afirmou ainda que "ao menos três americanos que faziam parte do grupo [de Haq" conseguiram escapar" do cerco das forças do Taleban. Uma autoridade do regime islâmico afirmou, porém, que um homem que acompanhava Haq, possivelmente um americano, ainda era procurado.
___________________________
Com agências internacionais
Leia mais:
Conheça as armas usadas no ataque
Saiba tudo sobre os ataques ao Afeganistão
Entenda o que é o Taleban
Saiba mais sobre o Paquistão
Veja os reflexos da guerra na economia
Estados Unidos fazem maior ataque a Cabul
Publicidade
Os EUA fizeram ontem seu maior ataque a Cabul, numa ofensiva com mais de 11 horas, e 5.000 deixaram o Paquistão para aderir a uma "guerra santa" contra os americanos. Em meio a rumores de que mais cinco comandantes rebeldes haviam sido enforcados, o Taleban entregou o cadáver do líder opositor Abdul Haq, morto anteontem pela milícia, aparentemente após emboscada.
"Foi uma das piores noites", disse um morador da capital. De acordo com testemunhas, bombas caíram no centro e no sul da cidade à noite. Os bombardeios continuaram tarde adentro, contra posições no norte de Cabul.
As linhas de frente do regime afegão sofreram seu pior golpe. Os ataques da manhã se concentraram sobre Sia Ku, monte que dá visão para o aeroporto de Bagram, tomado pela Aliança do Norte, a principal força de resistência ao regime. A posição do Taleban, que inutilizara Bagram, foi bombardeada quatro vezes numa operação no começo da manhã e mais sete mais tarde.
As aeronaves americanas voaram a elevada altitude, longe do alcance das baterias antiaéreas.
Apesar da intensidade da ofensiva dos EUA, os apelos do Taleban por reforços muçulmanos continuam a surtir efeito.
Cerca de 5.000 pessoas partiram ontem de Temergarah, no Paquistão, para aderir a uma "guerra santa" contra os EUA. Homens de várias idades portavam fuzis, metralhadoras, lança-foguetes e até machados e espadas.
A missão do grupo, segundo os organizadores, será entrar na Província de Kunar e ajudar o governante do Taleban a se defender de incursões americanas.
Os militantes afirmaram que, em outros povoados da fronteira noroeste, um encrave da etnia pashtu -majoritária no Afeganistão, grupos similares haviam sido formados.
Oposição enfraquecida
Fontes do regime afegão citadas pela TV árabe Al Jazeera afirmaram que o corpo de Haq foi entregue a parentes, que viajaram a Cabul para recebê-lo. O cadáver deverá ser enterrado em Peshawar, no Paquistão.
Outros líderes podem ter sido mortos. A agência de notícias afegã "AIP", sediada no Paquistão, informou que mais cinco comandantes e 15 combatentes das forças rebeldes haviam sido capturados na Província de Samangan (norte) e mortos pelo Taleban.
Mais tarde, porém, o regime afegão negou. "É uma informação falsa, e a desmentimos", disse à "AIP" o ministro da Educação do Taleban, Amir Jan Muttaqi.
A imprensa do Paquistão disse ainda que Haq foi vítima de uma armadilha montada pelos serviços de inteligência do Taleban, que o aguardavam havia dias.
O comandante rebelde cruzou a fronteira entre Paquistão e Afeganistão na madrugada de segunda-feira, após o chefe do Taleban no distrito de Hisarak Ghiji ter-lhe garantido apoio e segurança no território em troca de dinheiro. Na sexta-feira, após dois dias de cerco, foi capturado com companheiros em Azro, na Província de Logar (ao sul de Cabul).
"Há muitos indícios de que Haq caiu numa cilada urdida pela inteligência do Taleban", disseram fontes militares paquistanesas.
O Taleban afirmou que o líder, que teria sido levado ao Afeganistão por um helicóptero americano, foi condenado à morte por "traição". Segundo o governo afegão, Haq havia mantido contatos com várias tribos da etnia pashtu para obter apoio ao ex-rei Mohamed Zahir Shah -os EUA articulam um governo multiétnico de coalizão para suceder ao Taleban, e Haq, respeitado entre os afegãos como veterano da guerra contra os soviéticos, era um dos principais agentes da estratégia.
"Fiasco"
O Taleban zombou das iniciativas dos EUA. "A captura e a morte de Abdul Haq são um grande fiasco para os planos americanos no Afeganistão", disse o porta-voz do Ministério da Informação afegão, Abdul Hanan Himat.
Os EUA enviaram um avião espião armado para ajudar Haq a escapar do cerco do Taleban, mas o líder rebelde acabou apanhado.
O general Pervez Musharraf, que governa o Paquistão, tentou minimizar o impacto político da perda de Haq: "Seu papel [na formação do Afeganistão pós-Taleban" não era tão grande". Uma reunião com grupos ligados ao ex-rei e homens da Aliança do Norte foi postergado por causa da morte de Haq, entretanto.
O governo afegão afirmou ainda que "ao menos três americanos que faziam parte do grupo [de Haq" conseguiram escapar" do cerco das forças do Taleban. Uma autoridade do regime islâmico afirmou, porém, que um homem que acompanhava Haq, possivelmente um americano, ainda era procurado.
___________________________
Com agências internacionais
Leia mais:
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice