Publicidade
Publicidade
28/10/2001
-
08h21
BRUNO BLECHER
Editor do Agrofolha
Armas biológicas, como os vírus da varíola e do sarampo, foram utilizadas no Brasil no século 19 para exterminar os índios.
Pelo menos três casos documentados mostram que o contato dos índios com as doenças dos brancos também ocorreu de forma proposital, com o objetivo deliberado de dizimar tribos hostis.
O mais "clássico" deles, segundo o antropólogo Mércio Pereira Gomes, aconteceu em Caxias, no sul do Maranhão, por volta de 1816. A vila estava se transformando em um grande centro de criação de gado, e os fazendeiros queriam se livrar dos índios timbira. "O plano era atrair os índios para a vila, então atacada por uma epidemia de bexiga (varíola).
Uma vez ali, as bexigas dariam conta deles", descreve o antropólogo Darcy Ribeiro no livro "Os Índios e a Civilização".
Os fazendeiros de Caxias "presentearam" um grupo de 50 índios com roupas de moradores da vila que haviam contraído a doença. De volta a suas aldeias, os índios espalharam o vírus. A epidemia se disseminou rapidamente pelo sertão e atingiu até tribos a 1.800 km de Caxias.
Francisco de Paula Ribeiro, na época comandante militar no sul do Maranhão, relatou com detalhes o massacre dos Timbiras. O texto, escrito em 1819, só foi publicado por volta de 1930, na revista do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro.
Ele conta: "Não é certamente fácil fazer-se uma idéia de quantos mil desgraçados se evaporaram por semelhante motivo, e ainda muito mais quando sabemos o método extravagante que se pretendiam curar-se, sepultando-se nos rios para suavizar o calor das febres, ou ainda abreviando-se uns aos outros a vida, logo que conheciam com verdadeiros sintomas daquele mal tão cruel, ao que chamavam Pira de Cupé, sarna dos cristãos."
Os imigrantes alemães se valeram do vírus da varíola na luta contra os índios xokleng e kaiangang, durante a colonização de Santa Catarina e do Paraná, no final do século 19.
"Os bugreiros, caçadores de índios contratados pelas companhias de colonização, deixavam nas matas roupas com os vírus da varíola e do sarampo", disse o antropólogo Gomes.
O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajou pelo Brasil entre 1816 e 1822, fez referências à guerra bacteriológica contra os índios botocudos, no vale do Rio Doce.
Ele denunciou na Europa as atrocidades cometidas por portugueses e brasileiros, que entregavam aos índios roupas contaminadas por varíola.
"Em breve, nada mais restará dos antigos povos indígenas que habitavam as terras do Brasil", previu o naturalista, em 1847, no livro "Viagem à Província de Goiás". Ele estava certo. Em 1500, a população indígena no Brasil ultrapassava 2 milhões de pessoas. Há estimativas que apontam até 6 milhões de índios. Hoje restam apenas 300 mil.
Leia mais sobre o antraz:
Como é a contaminação
Diferença entre contaminação e exposição
O que é o antraz
Doença é conhecida desde a era bíblica
Leia mais:
Conheça as armas usadas no ataque
Saiba tudo sobre os ataques ao Afeganistão
Entenda o que é o Taleban
Saiba mais sobre o Paquistão
Veja os reflexos da guerra na economia
Brasil já usou armas biológicas contra os índios
Publicidade
Editor do Agrofolha
Armas biológicas, como os vírus da varíola e do sarampo, foram utilizadas no Brasil no século 19 para exterminar os índios.
Pelo menos três casos documentados mostram que o contato dos índios com as doenças dos brancos também ocorreu de forma proposital, com o objetivo deliberado de dizimar tribos hostis.
O mais "clássico" deles, segundo o antropólogo Mércio Pereira Gomes, aconteceu em Caxias, no sul do Maranhão, por volta de 1816. A vila estava se transformando em um grande centro de criação de gado, e os fazendeiros queriam se livrar dos índios timbira. "O plano era atrair os índios para a vila, então atacada por uma epidemia de bexiga (varíola).
Uma vez ali, as bexigas dariam conta deles", descreve o antropólogo Darcy Ribeiro no livro "Os Índios e a Civilização".
Os fazendeiros de Caxias "presentearam" um grupo de 50 índios com roupas de moradores da vila que haviam contraído a doença. De volta a suas aldeias, os índios espalharam o vírus. A epidemia se disseminou rapidamente pelo sertão e atingiu até tribos a 1.800 km de Caxias.
Francisco de Paula Ribeiro, na época comandante militar no sul do Maranhão, relatou com detalhes o massacre dos Timbiras. O texto, escrito em 1819, só foi publicado por volta de 1930, na revista do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro.
Ele conta: "Não é certamente fácil fazer-se uma idéia de quantos mil desgraçados se evaporaram por semelhante motivo, e ainda muito mais quando sabemos o método extravagante que se pretendiam curar-se, sepultando-se nos rios para suavizar o calor das febres, ou ainda abreviando-se uns aos outros a vida, logo que conheciam com verdadeiros sintomas daquele mal tão cruel, ao que chamavam Pira de Cupé, sarna dos cristãos."
Os imigrantes alemães se valeram do vírus da varíola na luta contra os índios xokleng e kaiangang, durante a colonização de Santa Catarina e do Paraná, no final do século 19.
"Os bugreiros, caçadores de índios contratados pelas companhias de colonização, deixavam nas matas roupas com os vírus da varíola e do sarampo", disse o antropólogo Gomes.
O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajou pelo Brasil entre 1816 e 1822, fez referências à guerra bacteriológica contra os índios botocudos, no vale do Rio Doce.
Ele denunciou na Europa as atrocidades cometidas por portugueses e brasileiros, que entregavam aos índios roupas contaminadas por varíola.
"Em breve, nada mais restará dos antigos povos indígenas que habitavam as terras do Brasil", previu o naturalista, em 1847, no livro "Viagem à Província de Goiás". Ele estava certo. Em 1500, a população indígena no Brasil ultrapassava 2 milhões de pessoas. Há estimativas que apontam até 6 milhões de índios. Hoje restam apenas 300 mil.
Leia mais sobre o antraz:
Leia mais:
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice