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01/11/2001
-
04h47
da Folha de S.Paulo
Chegou ontem a quatro o número de mortos nos EUA pela bactéria antraz desde os atentados de 11 de setembro. A última vítima foi uma vietnamita que teve a suspeita de antraz respiratório confirmada na terça. Foi a primeira morte em Nova York.
O caso gerou preocupação por ser a primeira infecção não ligada a funcionários de correio e de empresas de comunicação.
Na semana passada, Kathy Nguyen, 61, reclamou para os seus vizinhos que se sentia resfriada. No domingo ela se internou no Hospital Lenox Hill, onde morreu ontem pela manhã.
Nguyen vivia sozinha no Bronx e trabalhava em uma depósito no Hospital de Olho, Ouvido e Garganta, em Manhattan. Seu local de trabalho não apresentou sinais de antraz. Ainda não há resultado dos testes feitos em sua casa.
"O evento é preocupante e o presidente o está discutindo com a sua equipe", declarou Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.
Segundo ele, o FBI (polícia federal dos EUA) está investigando o caso. O corpo de Nguyen passará por necropsia para verificar se a bactéria que a matou é da mesma linhagem dos outros casos fatais.
Impasse
"Não temos nenhum progresso a relatar", declarou ontem o secretário de Justiça, John Ashcroft.
Para Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, o caso de Nguyen é mais o complicado.
"Ter uma situação em que uma mulher pega antraz respiratório e não ter evidência até agora da bactéria no local onde ela trabalha faz desse
caso um mistério difícil de desvendar", declarou.
Uma das dúvidas levantadas é se o surto de antraz é mais disseminado do que se pensava.
No começo da crise, autoridades de saúde pública tentavam tranquilizar as pessoas dizendo que a contaminação só ocorreria se entrassem em contato com um grande número de esporos (forma mais duradoura da bactéria) e que era pouco provável que esporos viajassem por envelopes.
Há pouco, também parecia possível que os casos de antraz pudessem ser ligados a umas poucas cartas com antraz, especialmente um tipo altamente potente que saiu de Nova Jersey e chegou ao gabinete do senador democrata Tom Daschle, em Washington.
Essas suposições foram se mostrando inverossímeis diante das evidências. Aparentemente, antraz moído bem fino pode formar um pó letal, podendo ser disseminado em um simples envelope. A quantidade de esporos necessária para produzir antraz pulmonar, a forma mais letal da doença, é bem menor do que se pensava.
"Não está claro se essa instância específica é parte do padrão de casos ou se representa algo completamente diferente", disse Jeffrey Koplan, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
O caso de Nguyen levanta perguntas: traços do antraz que foi para Washington podem ter chegado até o porão do hospital nova-iorquino? Havia outras cartas? Em caso afirmativo, onde estão?
A dificuldade em responder a essas perguntas mostra a pouca experiência com a doença.
Antraz é doença criada no século 20 para ser usada como arma de guerra. Mas há poucos dados sobre como a infecção ataca indivíduos ou como uma epidemia poderia afetar populações.
Há também grande incerteza sobre quem teria a capacidade de produzir tal arma. Sabe-se de apenas alguns países com capacidade, mas a tecnologia para produzir partículas tão miúdas já está amplamente difundida.
17º caso
Uma contadora do Estado de Nova Jersey teve confirmada ontem infecção por antraz. Ela desenvolveu a forma cutânea da doença e suspeita-se de um caso de contaminação cruzada.
A desconfiança provém do fato de a mulher trabalhar perto da agência postal de Hamilton, onde quatro casos de antraz foram confirmados. Somado a isso, ela teria recebido muita correspondência recentemente, por estar planejando o casamento da filha.
Algum envelope pode ter sido contaminado por bactérias nas cartas que infectaram outras vítimas. "A contaminação cruzada me parece a explicação mais plausível", disse o prefeito de Hamilton, Glen Gilmore.
Uma máquina dos correios que foi enviado de Washington para Indiana para ser limpada teve traços de antraz detectados.
Com agências internacionais
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Mistério cerca quarta morte por antraz
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Chegou ontem a quatro o número de mortos nos EUA pela bactéria antraz desde os atentados de 11 de setembro. A última vítima foi uma vietnamita que teve a suspeita de antraz respiratório confirmada na terça. Foi a primeira morte em Nova York.
O caso gerou preocupação por ser a primeira infecção não ligada a funcionários de correio e de empresas de comunicação.
Na semana passada, Kathy Nguyen, 61, reclamou para os seus vizinhos que se sentia resfriada. No domingo ela se internou no Hospital Lenox Hill, onde morreu ontem pela manhã.
Nguyen vivia sozinha no Bronx e trabalhava em uma depósito no Hospital de Olho, Ouvido e Garganta, em Manhattan. Seu local de trabalho não apresentou sinais de antraz. Ainda não há resultado dos testes feitos em sua casa.
"O evento é preocupante e o presidente o está discutindo com a sua equipe", declarou Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.
Segundo ele, o FBI (polícia federal dos EUA) está investigando o caso. O corpo de Nguyen passará por necropsia para verificar se a bactéria que a matou é da mesma linhagem dos outros casos fatais.
Impasse
"Não temos nenhum progresso a relatar", declarou ontem o secretário de Justiça, John Ashcroft.
Para Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, o caso de Nguyen é mais o complicado.
"Ter uma situação em que uma mulher pega antraz respiratório e não ter evidência até agora da bactéria no local onde ela trabalha faz desse
caso um mistério difícil de desvendar", declarou.
Uma das dúvidas levantadas é se o surto de antraz é mais disseminado do que se pensava.
No começo da crise, autoridades de saúde pública tentavam tranquilizar as pessoas dizendo que a contaminação só ocorreria se entrassem em contato com um grande número de esporos (forma mais duradoura da bactéria) e que era pouco provável que esporos viajassem por envelopes.
Há pouco, também parecia possível que os casos de antraz pudessem ser ligados a umas poucas cartas com antraz, especialmente um tipo altamente potente que saiu de Nova Jersey e chegou ao gabinete do senador democrata Tom Daschle, em Washington.
Essas suposições foram se mostrando inverossímeis diante das evidências. Aparentemente, antraz moído bem fino pode formar um pó letal, podendo ser disseminado em um simples envelope. A quantidade de esporos necessária para produzir antraz pulmonar, a forma mais letal da doença, é bem menor do que se pensava.
"Não está claro se essa instância específica é parte do padrão de casos ou se representa algo completamente diferente", disse Jeffrey Koplan, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
O caso de Nguyen levanta perguntas: traços do antraz que foi para Washington podem ter chegado até o porão do hospital nova-iorquino? Havia outras cartas? Em caso afirmativo, onde estão?
A dificuldade em responder a essas perguntas mostra a pouca experiência com a doença.
Antraz é doença criada no século 20 para ser usada como arma de guerra. Mas há poucos dados sobre como a infecção ataca indivíduos ou como uma epidemia poderia afetar populações.
Há também grande incerteza sobre quem teria a capacidade de produzir tal arma. Sabe-se de apenas alguns países com capacidade, mas a tecnologia para produzir partículas tão miúdas já está amplamente difundida.
17º caso
Uma contadora do Estado de Nova Jersey teve confirmada ontem infecção por antraz. Ela desenvolveu a forma cutânea da doença e suspeita-se de um caso de contaminação cruzada.
A desconfiança provém do fato de a mulher trabalhar perto da agência postal de Hamilton, onde quatro casos de antraz foram confirmados. Somado a isso, ela teria recebido muita correspondência recentemente, por estar planejando o casamento da filha.
Algum envelope pode ter sido contaminado por bactérias nas cartas que infectaram outras vítimas. "A contaminação cruzada me parece a explicação mais plausível", disse o prefeito de Hamilton, Glen Gilmore.
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