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20/09/2007 - 22h39

Mobilização é forte porque caso remonta a anos 60, diz professor

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DAYANNE MIKEVIS
da Folha Online

Um protesto contra um suposto tratamento discriminatório realizado pela Justiça da cidade de Jena, no Estado americano da Louisiana, contra um grupo de seis estudantes negros reuniu de 15 mil a 20 mil manifestantes nesta quinta-feira, segundo estimativas da polícia estadual. A organização do protesto afirma que cerca de 50 mil pessoas participaram do evento, segundo a Associated Press.

Para o professor Jerry Dávila, do Departamento de História da Universidade da Carolina do Norte, a manifestação conseguiu reunir tantas pessoas e atenção devido a similaridades com casos das décadas de 50 e 60, quando ainda Estados americanos do sul do país mantinham leis segregatórias.

Dávila, que morou no Brasil e foi pesquisador sobre relações raciais na Universidade de São Paulo (USP) em 2000, concedeu por telefone uma entrevista à Folha Online.

"O que diferencia um pouco esse caso é que ele parece remontar aos episódios de desequilíbrio da década de 50 e 60", afirmou Dávila.

"Eu acho que é muito difícil se mobilizar contra uma discriminação de natureza sutil. As desigualdades que existem na sociedade americana e brasileira são o tipo de coisa que uma passeata não resolve", disse Dávila.

"A ausência de acontecimentos mais óbvios ou explícitos não significam que a discriminação não exista, mas existe uma dificuldade de mobilizar e organizar contra coisas que não são tão concretas", completou o professor.

"As pessoas indo para as ruas não conseguem desbloquear o acesso a desigualdades econômicas, o acesso a educação, que ainda existem nos EUA, mas nesse caso os rapazes foram processados por tentativa de homicídio e os alunos brancos não foram processados. A acusação contra eles [os alunos negros] é forte, embora eu não tenha visto nos jornais provas de que havia uma tentativa de assassinato", disse o professor.

"Este tipo de tensão racial que existe naquela escola é muito comum nos EUA, brigas entre grupos raciais diferentes: latinos, negros, asiáticos. Todos os grupos se organizam e competem um com outro", afirmou.

Teatro

"Por outro lado, há um lado de teatro na questão e esse teatro remonta por vários motivos para o passado", disse Dávila.

"Os alunos brancos colocaram cordas na árvores com aquele nó dos linchamentos e isso desencadeou a onda de brigas --um teatro de linchamento para ameaçar os alunos negros. As passeatas que estão acontecendo agora são uma recriação das passeatas da década de 50 e 60", afirmou o professor ao cogitar a presença de nomes como Martin Luther King 3, filho do líder do movimento pelos direitos civis Martin Luther King, Jesse Jackson e Al Sharpman.

"O que tenho lido nos jornais é que várias pessoas estão levando seus filhos para que eles conheçam este tipo de evento", disse Dávila.

"Quando eu falo em teatro, eu não quero menosprezar, eu acho que é um componente que integra a atualidade, utilizado por ambos os lados. Para a comunidade negra, o passado se torna o espaço de diálogo e negociação", analisou o professor.

Palanque

"Com certeza esse evento vai virar um grande palanque eleitoral para a corrida presidencial. Os candidatos democratas vão ter que se posicionar sobre Jena, porque concorrem entre si pelo voto negro", disse Dávila.

O professor criticou a abordagem do presidente dos EUA, George W.Bush, sobre o assunto. Hoje, na Casa Branca, Bush disse que entendia a comoção dos manifestantes, mas que não emitiria uma opinião, porque se trata de um assunto que ainda corre na Justiça.

Para Dávila, era o momento do presidente manifestar que o país assegura direitos iguais a seus cidadãos.

O movimento obteve repercussão nacional, mas Dávila disse que houve também um caráter regional.

"Aqui na Carolina do Norte e nos Estados próximos, há uma tradição de universidades de alunos negros, que sobrevivem até hoje, e nelas ocorreram manifestações ao longo do dia. Então, as manchetes, aqui na Carolina do Norte, eram sobre as passeatas no Estado e não sobre Louisiana", disse o professor.

Jena 6

O caso ganhou o nome de "Jena 6" ou os "Seis de Jena" e começou com a disputa entre grupos de alunos negros e brancos em um colégio da cidade. Após um aluno negro perguntar se os afro-americanos estariam autorizados a entrar em uma sombra feita por uma árvore no pátio da escola e receber uma resposta positiva, laços sugerindo enforcamentos apareceram na árvore.

O caso evoluiu para uma disputa violenta entre os grupos, que culminou com o espancamento de um estudante branco por seis adolescentes negros. Os estudantes brancos que penduraram os laços nas árvores não foram punidos, enquanto os negros foram acusados de tentativa de assassinato e um chegou a ser condenado a 15 anos de prisão, mas a sentença foi anulada.

Com Reuters e Associated Press

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Comentários dos leitores
Jayson Rex (4) 21/09/2007 08h38
Jayson Rex (4) 21/09/2007 08h38
SAO PAULO / SP
A inveja patológica que aflige o brasileiro é até fácil de ser entendida: depois dos "eventos" sem fim que acontecem no Brasil a cada dia, a auto estima, que está "na" chão, precisa de algum comforto. E não há nada melhor de que criticar os Estados Unidos - sequela dos tempos dos comunas, sem bandeira depois da queda do murro de Berlim e a vira-volta da China depois da morte do Grande Timoneiro Mao.
Os americanos lutam, e vão lutar sempre, com muito problemas. Mas diferente de muita gente, eles pelo menos tentam corrigir as falhas e não esconde-las "em baixo do tapete". Ou, bem pior, justifica-las de uma ou de outra forma - todas vergonhosas.
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Ellen . (192) 21/09/2007 00h23
Ellen . (192) 21/09/2007 00h23
Isso não é novidade alguma!A sociedade norte-americana sempre foi demasiadamente preconceituosa. Nos últimos anos, houve apenas um tímido processo de inserção racial, mas o preconceito continua e não apenas contra negros, mas contra imigrantes também.O descaso do governo federal com relação à Orleans apenas reforça um preconceito desmascarado que parte tanto das instituições governamentais quanto da própria sociedade civil norte-americana. O apartheid existe lá, a diferença é que não está na Constituição!Por enquanto.....
Está demorando a eclodir uma convulsão social e cultural nos Estados Unidos.
Enquanto as pessoas pensam que os Estados Unidos são o reino da justiça e da liberdade, a verdade é que essa nação é um Império em decadência. Atualmente, cerca de 15% da população norte-americana vive abaixo da linha da pobreza ; o Patriotic Act, promulgado após os atentados 11 de setembro, permite que o governo federal inspecione a vida particular de qualquer pessoa no “combate ao terrorismo”!E a liberdade e o direito à intimidade?, isso mais parece uma ditadura!
Sem contar que o mais valioso dos valores norte-americanos não passa de uma sabotagem: a democracia! O processo eleitoral nos Estados Unidos, acreditem, é um dos menos democráticos da América!!O sistema nada mais é do que um jogo das grandes corporações financeiras que controlam o país.
Quanto à cultura? O que nos resta dizer? Uma bêbada como Britney Spears?Ou que tal a famosa fútil girl como a Paris Hilton??Um presidente bizarro que prega a paz mundial?ou que tal um filme de combate aos alienígenas?
Quando você vai aos Estados Unidos o q costuma fazer?tirar foto em frente ao Hard Rock? ou tirar uma foto com o Mickey?
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