Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
14/11/2001 - 04h53

Sucessão do Taleban será complicada

Publicidade

do enviado especial a Islamabad

A entrada da Aliança do Norte em uma Cabul praticamente desocupada pela milícia Taleban reacendeu suspeitas da comunidade internacional de que os rebeldes não são 100% confiáveis e a certeza de que intenso trabalho diplomático será necessário para evitar uma nova guerra civil no Afeganistão.

O plano da ONU para a região é a primeira reação para tentar alinhavar uma solução política (leia texto na página seguinte). Mas, como disse um dos porta-vozes da entidade em Islamabad, Eric Falt, ""é impossível prever os próximos passos".

De todo modo, o chanceler da Aliança, Abdullah Abdullah, foi à TV reafirmar que não queria entrar em Cabul. ""Nosso plano não era esse, mas como o Taleban deixou a cidade, não poderíamos deixar a área sem controle."

A peça-chave do esquema da ONU para a substituição do Taleban, o ex-rei Mohammad Zahir Shah, não gostou do que viu. ""É contra [a tomada de Cabul] o acordo que eles fizeram conosco. Nós não esperávamos que eles fossem entrar na cidade. Nós queremos Cabul desmilitarizada", afirmou um assessor do ex-rei, Abdul Sattar Sirat.

Entre os que já não gostavam da Aliança, a reação foi a mesma. "Cabul tem que permanecer desmilitarizada. Nós reafirmamos nosso desejo de ver Cabul como cidade livre e base de um governo amplo", afirmou o porta-voz da Chancelaria do Paquistão, Aziz Khan. Ele disse que teme por uma guerra civil caso a Aliança do Norte, ou qualquer outra força, queira manter o governo sozinho.

Desde o começo dos ataques dos EUA e do Reino Unido, em 7 de outubro, os líderes da Aliança pediam ajuda para tomar cidades-chave. Como as tentativas de armar um "governo amplo" se mostraram falhas, como o estímulo a líderes locais para trair o Taleban, os americanos resolveram atender aos apelos.

Com isso, a Aliança tomou áreas ao norte e começou a avançar sobre Herat e Cabul. A primeira caiu anteontem. Prevendo a tomada, até o presidente George W. Bush pediu para a capital ser poupada. Não deu certo, mesmo que comandantes da Aliança tenham dito que só iriam cercar a capital. Os rebeldes haviam prometido jogar de acordo com as regras. Assinaram até um termo de compromisso para a formação de uma assembléia tribal que buscaria formar o governo pós-Taleban.

Mas ninguém poderá acusar a falta de avisos: há semanas que a liderança da Aliança do Norte avisa que não aceitaria talebans em um novo governo, dando sinais de radicalização. Ontem, Abdullah Abdullah reafirmou que quer conversar com todos os envolvidos -""Taleban excluído".

"Não há solução clara à vista, uma vez que a Aliança não é majoritária", disse o escritor e analista político Ahmed Hasan.

A resistência à Aliança do Norte se deve ao fato de ela ser composta principalmente pelas etnias minoritárias tadjique e uzbeque. Os pashtus, etnia da liderança do Taleban, é majoritária, somando quase 40% dos afegãos.

Por isso, e por querer algum espaço para seus ex-protegidos defenderem seus interesses, o Paquistão quer que algum pedaço do Taleban seja reaproveitado em um eventual próximo governo. O Paquistão tem uma forte população pasthtu, 27% dos seus 141 milhões de habitantes.

"Não sabemos bem os desenvolvimentos militares, mas tudo indica que uma guerra civil está à vista. Mas não podemos menosprezar a volatilidade de líderes pashtus que hoje estão com o Taleban. É um cenário muito cinzento", disse o professor de ciência política Tahim Malik, da Universidade Al Khair, de Islamabad.



Leia mais:
  • Conheça as armas usadas no ataque

  • Saiba tudo sobre os ataques ao Afeganistão

  • Entenda o que é o Taleban

  • Saiba mais sobre o Paquistão

  • Veja os reflexos da guerra na economia
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página