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19/11/2001
-
05h46
da Folha de S>Paulo
A mulher que noticiou pelo rádio que o Taleban havia deixado Cabul está preocupada com os rumos do novo regime na capital afegã. "Estou decepcionada. Antes era bem tratada, agora tenho que andar de burga."
Mas Jamila Mujahid não aparenta tristeza, ainda que só no ar mostre seu rosto com sobrancelha fina delineada com lápis, os grandes brincos dourados e os cabelos castanho-escuros.
Na terça-feira da semana passada, ela estava almoçando com seus cinco filhos em Cabul, comentando as notícias de que o Taleban tinha se retirado da capital ocupada havia cinco anos.
"De repente chegou um carro da rádio Afeganistão e me avisaram que Hizi Diar, um dos diretores, queria que eu fosse trabalhar. Foi muito bom", disse ela ontem à Folha na sede da TV Afeganistão, onde também voltou a trabalhar.
Às 13h daquela terça, fez o primeiro pronunciamento da rádio desde seu fechamento pelo Taleban, em 96. "Estou muito orgulhoso de minha mãe, ela é ótima", afirmou o filho mais velho de Jamila, Sayed Matin, 18, que a acompanhava ontem no estúdio.
Com 36 anos e 21 de profissão, interrompidos na era Taleban, Jamila virou um ícone feminista ao publicar clandestinamente, em Peshawar (Paquistão), livretos de poemas contra a opressão machista do governo dos mulás.
A seguir, trechos de sua entrevista:
Folha - Como foi a transmissão na terça-feira?
Jamila Mujahid - Foi ótima. Estava comendo com as crianças quando me disseram que tinha alguém me esperando. De repente, chegou um carro da rádio Afeganistão. Foi muito bom mesmo.
Folha - A sra. estava nervosa?
Jamila - Não, eu fiquei muito feliz em fazer aquilo. Após cinco anos, uma mulher foi permitida dentro de uma repartição pública. Naquela noite, eu li as notícias em pashtu e dari (línguas faladas em Cabul).
Folha - E qual foi sua primeira notícia?
Jamila - Eu fiz o anúncio de que a capital foi limpa do Taleban.
Folha - A sra. veio de burga trabalhar, não?
Jamila - Sim.
Folha - Mas a sra. quer seguir usando? Ou é o pedido do governo para que as mulheres usem a veste que a obriga?
Jamila - Olha, eu acho que as mulheres de Cabul só vão se sentir seguras para tirarem a burga quando houver um anúncio oficial do novo governo de que elas podem fazer isso. Por enquanto, é melhor não.
Folha - Mas a sra. mostra o rosto no ar.
Jamila - É, mas imagem é diferente de algo ao vivo. Eu estou decepcionada. Antes era bem tratada, agora tenho que seguir usando a burga. Não usava de forma alguma antes do Taleban.
Folha - A sra. tem uma filha de 11 anos. O que quer para ela?
Jamila - Ela foi educada secretamente nesses anos em que era proibido pôr meninas na escola. Então ela entende que eu quero que ela seja como eu.
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"Estou decepcionada", diz apresentadora de televisão afegã
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A mulher que noticiou pelo rádio que o Taleban havia deixado Cabul está preocupada com os rumos do novo regime na capital afegã. "Estou decepcionada. Antes era bem tratada, agora tenho que andar de burga."
Mas Jamila Mujahid não aparenta tristeza, ainda que só no ar mostre seu rosto com sobrancelha fina delineada com lápis, os grandes brincos dourados e os cabelos castanho-escuros.
Na terça-feira da semana passada, ela estava almoçando com seus cinco filhos em Cabul, comentando as notícias de que o Taleban tinha se retirado da capital ocupada havia cinco anos.
"De repente chegou um carro da rádio Afeganistão e me avisaram que Hizi Diar, um dos diretores, queria que eu fosse trabalhar. Foi muito bom", disse ela ontem à Folha na sede da TV Afeganistão, onde também voltou a trabalhar.
Às 13h daquela terça, fez o primeiro pronunciamento da rádio desde seu fechamento pelo Taleban, em 96. "Estou muito orgulhoso de minha mãe, ela é ótima", afirmou o filho mais velho de Jamila, Sayed Matin, 18, que a acompanhava ontem no estúdio.
Com 36 anos e 21 de profissão, interrompidos na era Taleban, Jamila virou um ícone feminista ao publicar clandestinamente, em Peshawar (Paquistão), livretos de poemas contra a opressão machista do governo dos mulás.
A seguir, trechos de sua entrevista:
Folha - Como foi a transmissão na terça-feira?
Jamila Mujahid - Foi ótima. Estava comendo com as crianças quando me disseram que tinha alguém me esperando. De repente, chegou um carro da rádio Afeganistão. Foi muito bom mesmo.
Folha - A sra. estava nervosa?
Jamila - Não, eu fiquei muito feliz em fazer aquilo. Após cinco anos, uma mulher foi permitida dentro de uma repartição pública. Naquela noite, eu li as notícias em pashtu e dari (línguas faladas em Cabul).
Folha - E qual foi sua primeira notícia?
Jamila - Eu fiz o anúncio de que a capital foi limpa do Taleban.
Folha - A sra. veio de burga trabalhar, não?
Jamila - Sim.
Folha - Mas a sra. quer seguir usando? Ou é o pedido do governo para que as mulheres usem a veste que a obriga?
Jamila - Olha, eu acho que as mulheres de Cabul só vão se sentir seguras para tirarem a burga quando houver um anúncio oficial do novo governo de que elas podem fazer isso. Por enquanto, é melhor não.
Folha - Mas a sra. mostra o rosto no ar.
Jamila - É, mas imagem é diferente de algo ao vivo. Eu estou decepcionada. Antes era bem tratada, agora tenho que seguir usando a burga. Não usava de forma alguma antes do Taleban.
Folha - A sra. tem uma filha de 11 anos. O que quer para ela?
Jamila - Ela foi educada secretamente nesses anos em que era proibido pôr meninas na escola. Então ela entende que eu quero que ela seja como eu.
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