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26/11/2001 - 06h56

Grupo admite falar com ex-Taleban

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da Folha de S>Paulo

O presidente da Aliança do Norte, Burhanuddin Rabbani, admitiu ontem pela primeira vez que antigos membros da milícia do Taleban podem participar do futuro governo afegão. As condições: "Os que não tiverem cometido muitos crimes e que sejam escolhidos pelo povo para ir à Loya Jirga [conselho tribal".

Rabbani não disse qual seria o parâmetro para definir "muitos" ou "poucos" crimes, mas politicamente a frase é um sinal de que ele está preocupado em reaver seu poder e abrir o leque de contatos a um novo governo.

O primeiro começa amanhã em Bonn, Alemanha, onde 21 delegados se reunirão para estabelecer regras de um governo provisório até a criação da Loya Jirga.

A composição da delegação foi divulgada ontem. Não há membros do Taleban, nem mesmo o vice-ministro do Interior da milícia, mulá Mohammed Khaksar, desertor em favor de Rabbani.

Serão 11 representantes da Aliança, formada pelas minorias étnicas tadjique, uzbeque e hazara, em ordem de importância.

O grupo de Rabbani e de seu chanceler, Abdullah Abdullah, promovem uma disputa interna de poder -o presidente, deposto em 1996, é menos chegado ao Ocidente do que o jovem ministro das Relações Exteriores.

O grupo do ex-rei Mohammad Zahir Shah, 86, terá quatro representantes. "O rei tem uma corte em torno dele, mas, se conseguir se livrar dos aduladores, pode desempenhar um papel de figura suprapartidária", afirmou à Folha o jornalista paquistanês Ahmed Rashid, autor de "Taleban" (Yale Nota Bene, 2001), um dos maiores especialistas na região.

Depois, com três representantes cada um, vêm os grupos pashtus exilados. A etnia é a maior do país, mas não deve ter representantes residentes no Afeganistão. Os pashtus do sul, que a ONU havia confirmado como presentes, e os do leste, que cogitam ir, podem apenas mandar observadores.

Estarão lá o grupo do Chipre e o de Peshawar. O primeiro, formado por intelectuais e políticos ligados ao líder pashtu Gulbuddin Hekmatyar. O segundo, ligado a Pir Gaillani, carismático líder de ordem religiosa moderado.

"Podemos ter mais de 50 pessoas à mesa, mas o complicado é que os pashtus, etnia majoritária, não estão decentemente representados", disse Rashid.

Rabbani, buscando sair do isolacionismo no qual vinha caindo nas últimas semanas, afirmou estar "preparado para entregar o poder para qualquer grupo, desde que seja decidido pela Loya Jirga".

É uma manobra calculada. Uma assembléia dessas costuma se reunir por meses, e sua própria composição é um mistério -estará o Taleban ou pashtus do leste? Rabbani vem perdendo espaço para Abdullah porque é contra uma interferência maior do Ocidente ou da ONU em seus planos. Agora parece amaciar o discurso.

Há uma preocupação também em relação aos comandantes militares da Aliança não muito dados a negociação política, como o uzbeque Rashid Dostum. "Acho que isso não é um problema tão grande. Dostum está mais preocupado com seu poder local em Mazar-e-Sharif, não com o quadro geral", disse Rashid.

Por fim, Rabbani deu a última cartada de marketing: anunciou que uma mulher irá à conferência. É Amina Alfzali, obscura funcionária da Aliança, sobre a qual não se sabe muito.

Um detalhe a notar foi que a entrevista de Rabbani, a primeira coletiva após sua volta a Cabul, foi prejudicada pela má tradução. O tradutor usou de certa licença poética, ao tratar o Taleban como "terrorista" e ao falar sobre "investigar a Al Qaeda". A audição da fita com a fala em dari descarta as informações -por coincidência, úteis ao discurso quase unificado dos jornalistas norte-americanos presentes.

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