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26/11/2001 - 07h17

Paraguai mostra ligação Foz-Hizbollah

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JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha

A Justiça do Paraguai concluiu as traduções feitas a partir de material apreendido em Ciudad del Leste, em 3 de outubro, na loja Apollo, localizada na galeria Pagé, de propriedade do libanês Assad Ahmad Barakat, 34.

Barakat mora em Foz do Iguaçu e é acusado pelas autoridades paraguaias de recrutar militantes para o Hizbollah, grupo considerado terrorista pelos Estados Unidos, mas legalizado no Líbano, onde é um dos principais partidos políticos e cuja guerrilha foi fundamental para forçar as tropas israelenses a abandonar o sul do país.

Entre o material apreendido há disquetes, fitas de vídeo e principalmente CD-ROMs.

Nos CDs, além de discursos, são mostrados marchas militares e atentados com explosivos em várias partes do mundo. A Agência Folha teve acesso a uma parte do material.

Foram apreendidas ainda mais de 60 horas de discursos em CDs e vídeos de Hassan Nasrallah, o principal líder do grupo xiita Hizbollah, que recebe apoio do Irã e da Síria.

Nos vídeos e CDs, dos quais a Agência Folha também obteve cópias da tradução juramentada, Nasrallah conclama o povo árabe a "desconhecer" a ANP (Autoridade Nacional Palestina), dirigida por Iasser Arafat, e a "libertar Jerusalém de seus inimigos". Os Estados Unidos e Israel são os inimigos apontados por Nasrallah a serem derrotados.

O líder conclama os fiéis a uma "guerra santa", solicitando sacrifícios humanos ("explodir seus corpos contra os inimigos"), martírios e esforços bélicos e religiosos para a liberação do território palestino.

O sírio-saudita Mohamad Kaied, 35, tradutor juramentado que transcreveu os documentos em árabe para o espanhol, disse que o "farto material religioso e de incentivo a ações armadas evidencia que o esquema era profissional: tudo indica que se trata de propaganda mesmo".

Kaied disse que examinou mais de 44 arquivos com pelo menos 60 horas de discursos e de "cursos de formação de homens-bomba".

"Todo esse material não foi tirado da internet ou copiado de emissoras de TV. Foi feito profissionalmente, o que deixa a evidente suspeita de interesses outros que não religiosos", afirmou Kaied, que se identificou como muçulmano druso.

Provas
O procurador paraguaio Carlos Advin Calcena, 40, que atua no combate ao terrorismo no Paraguai, disse que o material fornece provas "suficientes" de que Barakat recrutava, na região da tríplice fronteira, militantes para ações terroristas do Hizbollah no Oriente Médio.

"Um partido político não prega essas ações. É evidente o caráter terrorista dos documentos. Barakat e seus comparsas agiam no recrutamento e utilizavam esses discursos como propaganda", afirmou Calcena.

Sobhi Mahmoud Fayad, Mazen Ali Saleh e Saleh Mahamoud Fayad, apontados como funcionários de Barakat na loja Apollo, estão presos em Assunção, onde respondem por formação de quadrilha, apologia do crime, evasão de divisas e pirataria.

Para Calcena, todos eles seriam subordinados de Barakat no trabalho de "recrutamento" de terroristas.

Barakat confirma que o material apreendido estava em sua loja, mas diz ser apenas "simpatizante" do Hizbollah (leia texto nesta página). Ele também acusa Calcena de querer dinheiro para retirar as denúncias.

"Conspiração"
A comunidade árabe de Foz do Iguaçu, estimada em 12 mil pessoas, diz que está sendo vítima de uma grande conspiração de países que querem relacionar a tríplice fronteira -região entre Brasil, Paraguai e Argentina- com o terrorismo internacional.

Na Polícia Federal de Foz, não existem acusações contra Barakat ou qualquer outro comerciante da cidade.

Calcena afirma que, entre as provas concretas, estão recibos que provariam que Barakat arrecadava dinheiro entre a comunidade árabe da região. Barakat faria também propaganda de recrutamento de "militantes para o Hizbollah" a partir da paraguaia Ciudad del Este.

O procurador entregou à Agência Folha cópia de ofício (086/01) da Polícia Nacional do Paraguai, através de seu departamento de Prevenção e Investigação do Terrorismo, que atribui a Barakat e a Saleh remessas no valor de US$ 505,2 mil, destinadas ao Canadá, ao Chile e a Nova York (EUA), e de ordens de pagamento de US$ 254 mil para o Líbano.

Segundo Calcena, essas seriam as provas de que Saleh e Barakat enviavam dinheiro para o terrorismo internacional.

Sobhi Mahmoud Fayad, outro preso, teria enviado US$ 25 mil para Nova York em maio de 1999. No início de setembro, uma semana antes dos atentados nos EUA, Fayad teria feito uma nova remessa para Nova York.
Calcena negou denúncia de Barakat à Agência Folha de que teria pedido US$ 15 mil para retirar as acusações contra ele.

"Isso é impossível, nosso trabalho é supranacional. Minhas investigações contam com o assessoramento direto da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção. Nem por brincadeira eu iria pedir dinheiro", afirmou.

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  • O porta-voz da embaixada americana no Paraguai, Mark Davidson, declarou que "os EUA estão agradecidos ao Paraguai pelo esforço que o país está fazendo contra o terrorismo internacional".
     

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