Publicidade
Publicidade
27/11/2001
-
06h25
ALCINO LEITE NETO
da Folha de S.Paulo, em Paris
O futuro do Afeganistão começa a ser definido hoje em Bonn (Alemanha), onde vão se reunir líderes das principais facções políticas do país com o objetivo de estabelecer as bases de um governo representativo das diferentes etnias, depois de 23 anos de guerras.
A ONU, que promove a conferência interafegã, qualificou-a de "pequena reunião" que levará mais tarde à Loya Jirga (ou grande assembléia). A expectativa, porém, é que o encontro já lance as bases do futuro Estado afegão. O fracasso das conversações pode prolongar a crise no país e espalhá-la por toda a região asiática. Em Bonn, estão em jogo não apenas os interesses do Afeganistão mas também os do Paquistão, do Irã, da Rússia, da Índia e dos EUA.
Uma das principais dificuldades da reunião será definir o papel da Aliança do Norte dentro do novo governo, depois que esta coalizão de etnias minoritárias venceu a guerra contra o Taleban, ocupou Cabul militarmente e parece disposta a não entregar o poder.
Outra dificuldade é acertar a participação dos pashtus, que são os grandes perdedores da guerra, devido a sua aliança com o Taleban, mas representam a maioria étnica do país. A questão da segurança interna do país também será um dos temas centrais do encontro. "Ela é de uma importância capital", declarou o porta-voz da ONU Ahmad Fawzi em Bonn. "A opção mais viável seria uma força multinacional (no Afeganistão) com um mandato do Conselho de Segurança da ONU", disse.
A Aliança do Norte, porém, é firmemente contra a presença estrangeira, que reduziria o poder que ela já alcançou. Muitos afegãos, por sua vez, rejeitam a dominação militar da aliança e de seus "chefes de guerra", responsabilizando-os pela anarquia do país e pela morte de 50 mil pessoas entre 1992 e 1996, quando estiveram no poder.
Cerca de 30 líderes de quatro delegações se reunirão na Alemanha: da Aliança do Norte (ou Frente Unida), composta pelas etnias tadjique, uzbeque e hazara; do "grupo de Roma", ligado ao ex-rei Zahir Shah, 87, pashtu de língua persa deposto em 1973 e exilado na capital italiana; do grupo de Chipre, composto de exilados afegãos no Irã; e do grupo de Peshawar, liderado por um pashtu favorável ao antigo rei.
A presença de ex-membros do Taleban não havia sido confirmada até ontem. Para o antigo presidente do país e líder político da Aliança do Norte, Burhanuddin Rabbani, "alguns poderiam se juntar ao futuro governo".
Devido a pressões ocidentais, três mulheres participarão das conversações -uma ligada à Aliança do Norte, duas ao "grupo de Roma".
Os EUA e a ONU esperam, com a conferência de Bonn, arranjar o perigoso quebra-cabeça asiático. A delegação de Peshawar tem o apoio do Paquistão. A delegação de Chipre é apoiada pelo Irã. A Rússia e a Índia apóiam a Aliança do Norte, contra o Paquistão. "É importante colocar este encontro nos trilhos o mais rápido possível", disse o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell.
A reunião de Bonn será no hotel de Petersberg, palco de vários acordos internacionais desde antes da Segunda Guerra (1939-1945). O hotel, situado numa colina, perto do rio Reno, é considerado o mais seguro da Alemanha, pois pode ser bloqueado completamente. O acesso é por uma única estrada ou por helicóptero. Mesmo assim, foi acionado um esquema de segurança máximo. Todos os vôos sobre o hotel estão proibidos desde o domingo.
Leia mais:
Conheça as armas usadas no ataque
Saiba tudo sobre os ataques ao Afeganistão
Entenda o que é o Taleban
Saiba mais sobre o Paquistão
Veja os reflexos da guerra na economia
Futuro afegão começa a ser definido em Bonn
Publicidade
da Folha de S.Paulo, em Paris
O futuro do Afeganistão começa a ser definido hoje em Bonn (Alemanha), onde vão se reunir líderes das principais facções políticas do país com o objetivo de estabelecer as bases de um governo representativo das diferentes etnias, depois de 23 anos de guerras.
A ONU, que promove a conferência interafegã, qualificou-a de "pequena reunião" que levará mais tarde à Loya Jirga (ou grande assembléia). A expectativa, porém, é que o encontro já lance as bases do futuro Estado afegão. O fracasso das conversações pode prolongar a crise no país e espalhá-la por toda a região asiática. Em Bonn, estão em jogo não apenas os interesses do Afeganistão mas também os do Paquistão, do Irã, da Rússia, da Índia e dos EUA.
Uma das principais dificuldades da reunião será definir o papel da Aliança do Norte dentro do novo governo, depois que esta coalizão de etnias minoritárias venceu a guerra contra o Taleban, ocupou Cabul militarmente e parece disposta a não entregar o poder.
Outra dificuldade é acertar a participação dos pashtus, que são os grandes perdedores da guerra, devido a sua aliança com o Taleban, mas representam a maioria étnica do país. A questão da segurança interna do país também será um dos temas centrais do encontro. "Ela é de uma importância capital", declarou o porta-voz da ONU Ahmad Fawzi em Bonn. "A opção mais viável seria uma força multinacional (no Afeganistão) com um mandato do Conselho de Segurança da ONU", disse.
A Aliança do Norte, porém, é firmemente contra a presença estrangeira, que reduziria o poder que ela já alcançou. Muitos afegãos, por sua vez, rejeitam a dominação militar da aliança e de seus "chefes de guerra", responsabilizando-os pela anarquia do país e pela morte de 50 mil pessoas entre 1992 e 1996, quando estiveram no poder.
Cerca de 30 líderes de quatro delegações se reunirão na Alemanha: da Aliança do Norte (ou Frente Unida), composta pelas etnias tadjique, uzbeque e hazara; do "grupo de Roma", ligado ao ex-rei Zahir Shah, 87, pashtu de língua persa deposto em 1973 e exilado na capital italiana; do grupo de Chipre, composto de exilados afegãos no Irã; e do grupo de Peshawar, liderado por um pashtu favorável ao antigo rei.
A presença de ex-membros do Taleban não havia sido confirmada até ontem. Para o antigo presidente do país e líder político da Aliança do Norte, Burhanuddin Rabbani, "alguns poderiam se juntar ao futuro governo".
Devido a pressões ocidentais, três mulheres participarão das conversações -uma ligada à Aliança do Norte, duas ao "grupo de Roma".
Os EUA e a ONU esperam, com a conferência de Bonn, arranjar o perigoso quebra-cabeça asiático. A delegação de Peshawar tem o apoio do Paquistão. A delegação de Chipre é apoiada pelo Irã. A Rússia e a Índia apóiam a Aliança do Norte, contra o Paquistão. "É importante colocar este encontro nos trilhos o mais rápido possível", disse o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell.
A reunião de Bonn será no hotel de Petersberg, palco de vários acordos internacionais desde antes da Segunda Guerra (1939-1945). O hotel, situado numa colina, perto do rio Reno, é considerado o mais seguro da Alemanha, pois pode ser bloqueado completamente. O acesso é por uma única estrada ou por helicóptero. Mesmo assim, foi acionado um esquema de segurança máximo. Todos os vôos sobre o hotel estão proibidos desde o domingo.
Leia mais:
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice