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02/12/2001 - 05h29

EUA limitarão ajuda militar direta

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da Folha de S.Paulo

Há cerca de dez dias, quando a presidente das Filipinas, Gloria Macapagal Arroyo, fez uma visita oficial aos EUA, Washington e Manila fecharam um acordo segundo o qual os americanos fornecerão ajuda militar direta ao governo filipino para que ele possa "pôr fim" aos rebeldes islâmicos do sul do país, que, para ambos os países, seriam ligados a Osama bin Laden.

Anteontem um avião militar americano, carregado de morteiros, armas menores e outros materiais bélicos, chegou à base de Villamor, em Manila, fato que constituiu a primeira entrega da ajuda militar que Washington havia prometido ao governo filipino. De acordo com uma TV local, todas as entregas atingirão um montante de US$ 92,3 milhões.

A cooperação militar bilateral poderia ajudar o governo americano em seu combate ao terrorismo internacional. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela Folha, esse modelo dificilmente será aplicado a outros países em que haja focos de extremismo islâmico ou grupos suspeitos ou acusados de atos terroristas.

Para os analistas, a questão filipina é menos complexa que, por exemplo, a egípcia, a libanesa ou a tchetchena. Afinal, trata-se de um Estado eminentemente católico que busca erradicar guerrilhas islâmicas independentistas, com a agravante de que suas Forças Armadas estão em estado caótico após anos de corrupção generalizada e a recente deposição do ex-presidente Joseph Estrada.

Autoridades filipinas apontam a presença de três grupos guerrilheiros no sul do país, que dizem lutar pela criação de um Estado muçulmano independente na ilha de Mindanao. Na semana passada, nela foram presos dois palestinos e um jordaniano sob suspeita de servirem como elo entre rebeldes locais e Bin Laden, acusado de ter orquestrado os atentados suicidas de 11 de setembro.

Os três grupos guerrilheiros são a Frente Moro de Libertação Nacional (FMLN), a Frente Moro de Libertação Islâmica (FMLI) e o Abu Sayyaf. Este consta da lista de suspeitos de ligação com Bin Laden divulgada pelo Departamento de Estado dos EUA.

Na semana passada, perto de 200 pessoas morreram em enfrentamentos entre centenas de rebeldes da FMLN e forças governamentais na ilha de Jolo. Além disso, a guerrilha fez mais de cem reféns na cidade de Zamboanga antes de libertá-los em troca do direito de voltar a suas bases. Por outro lado, o governo filipino conseguiu recentemente assinar um cessar-fogo com a FMLI.

Países árabes
Por razões práticas e religiosas, o modelo de colaboração militar bilateral direta deve limitar-se às Filipinas, ao menos no que concerne à luta contra o terrorismo internacional. "Os países árabes já estão engajados na luta contra seu terrorismo interno. O Egito, por exemplo, condenou os atos de Ayman al Zawahiri e de outras pessoas ligadas a Bin Laden que estão no Afeganistão atualmente", afirmou Antoine Basbous, diretor do Observatório dos Países Árabes, de Paris.

"Ademais, depois de 11 de setembro, os governos dos Estados árabes ganharam a oportunidade de intensificar a repressão contra supostos terroristas islâmicos, pois o drama provocado pela morte de quase 4.000 pessoas nos EUA legitima toda forma de repressão estatal", acrescentou.

O caso egípcio é ilustrativo. No país, que enfrenta a ameaça terrorista de seu Jihad Islâmico -que já teve como líder Al Zawahiri, considerado hoje o braço direito de Bin Laden-, o modelo de colaboração militar bilateral direta não deverá ser aplicado.

"No que se refere à ajuda militar direta, é pouco provável que os americanos colaborem com os egípcios, pois estes possuem tanto uma força policial quanto uma militar sólidas", indicou John Reppert, diretor-executivo do Centro Belfer para Ciência e Relações Internacionais da Universidade Harvard (EUA).

"O que já ocorre entre os dois governos é a troca de informações relacionadas à identificação de suspeitos ou aos mecanismos de funcionamento dos grupos terroristas, além, é claro, da recente aproximação dos serviços secretos de boa parte dos países do mundo na batalha financeira contra o terrorismo", disse o general da reserva do Exército americano.

No Líbano, onde a ala radical do Hizbollah preocupa dirigentes políticos e forças de segurança, a decisão de aceitar ou não a ajuda direta americana não cabe ao governo. "Beirute não tem vontade própria, pois obedece às ordens da Síria. Damasco colabora secretamente com Washington, porém mantém-se relativamente independente", explicou Basbous.

"Assim, a cooperação síria restringe-se à troca de informações. Por enquanto, o Hizbollah constitui um instrumento crucial para os sírios em relação ao Líbano e a Israel. A Síria não irá, portanto, sacrificá-lo facilmente", acrescentou. Ademais, uma presença maciça dos EUA certamente desestabilizaria os países majoritariamente muçulmanos da região.

A questão tchetchena
O caso da Tchetchênia talvez seja o mais complexo geopoliticamente. Afinal, a república separatista encontra-se na Rússia, e Washington quer evitar qualquer ingerência em assuntos internos russos. "Para os EUA, trata-se de um problema doméstico russo. Embora não aprovem os métodos utilizados por Moscou, os americanos não pretendem envolver-se no assunto", afirmou Reppert.

O presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou a oportunidade gerada pelos atentados suicidas ao World Trade Center e ao Pentágono e prometeu pôr fim aos rebeldes tchetchenos, que, de acordo com Moscou, têm laços com a rede terrorista de Bin Laden. Além disso, os ataques de 11 de setembro não alteraram suficientemente a cena internacional para que as duas potências antagônicas da Guerra Fria compartilhem segredos militares delicados.

Isso sem mencionar grupos radicais islâmicos existentes na Caxemira paquistanesa, no oeste da China e em outros pontos da Ásia central.
Mesmo tendo recebido da comunidade internacional um mandato informal para agir contra o terrorismo após os atentados, os EUA dificilmente correrão o risco de intensificar sua intervenção militar numa região potencialmente explosiva e geoestrategicamente sensível.

Por enquanto, a troca de informações confidenciais relacionadas a grupos terroristas ou insurrecionais deve ser privilegiada por Washington, como já ocorre com boa parte do planeta.
(MSM)


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