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06/12/2001
-
20h14
da Folha Online
Exatamente dois meses após o início dos ataques dos EUA contra o Afeganistão, o Taleban anunciou hoje sua rendição e disse que irá entregar o controle de Candahar, últimas das grandes cidades afegãs que continua sob o poder da milícia islâmica.
O acordo foi fechado hoje entre representantes do Taleban e o líder tribal pashtu Hamid Karzai, futuro presidente interino do país.
A milícia tenta obter ainda a garantia de que todos os talebans que entregarem suas armas receberão o perdão e poderão viver normalmente no Afeganistão. Além disso, há um esforço especial para que o mulá Mohamad Omar, líder supremo do Taleban, não sofra represálias. Omar gostaria de continuar vivendo em Candahar.
Hamid Karzai, no entanto, não confirmou diretamente este ponto do acordo. Ele e declarou que ofereceu anistia aos "homens comuns" e afirmou que, para garantir sua segurança, Omar deveria "condenar enfaticamente o terrorismo e deixar claro que o terrorismo brutalizou a sociedade afegã e destruiu o país".
O governo dos Estados Unidos, no entanto, tem postura radicalmente diferente sobre a questão e se recusam a negociar com o Taleban. "O mulá Omar foi o principal protetor da rede Al Qaeda no Afeganistão e não merece a medalha da liberdade", declarou o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
"Uma saída negociada é inaceitável para os EUA. Não há a menor dúvida sobre qual é a nossa posição: os responsáveis por atos de terrorismo serão castigados", afirmou o secretário.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, fez pronunciamento semelhante: "O presidente George W. Bush acredita que aqueles que abrigam o terrorismo devem ser trazidos à Justiça".
A Casa Branca também informou que a campanha militar americana no Afeganistão não termina com a rendição de Candahar e prosseguirá até que os líderes do Taleban e da rede terrorista Al Qaeda sejam "castigados", afirmou ontem o secretário de Defesa dos EUA, Ronald Rumsfeld.
"Seguimos adiante. Vamos levando a guerra ao terreno dos terroristas", disse Rumsfeld, lembrando que os EUA estão no Afeganistão para "desarraigar os terroristas e encontrá-los onde quer que estejam".
O secretário salientou que ainda falta muito para os EUA terminarem sua tarefa no Afeganistão. Segundo ele, a maioria dos líderes do Taleban e da Al Qaeda permanece viva e solta e ainda há concentrações de combatentes de ambos os grupos "em números nada triviais".
Primeira crise interna
O novo governo do Afeganistão ainda nem foi formado e já encontra rejeição no próprio país, dois dias após ter sido assinado o acordo que definiu a transição política. Uma das principais lideranças afegãs, o poderoso líder Abdul Rashid Dostum, da etnia uzbeque, declarou que vai boicotar o governo provisório.
"Isso é uma humilhação para nós. Anunciamos nosso boicote e não iremos a Cabul até que um governo correto tome posse", afirmou. O chefe de guerra Dostum controla hoje parte do norte do país, incluindo a cidade de Mazar-e-Sharif, e disse que impedirá o acesso do futuro governo ao Norte, onde ficam as reservas afegãs de petróleo e gás.
Dostum se disse traído pelo chefe da delegação da Aliança do Norte em Bonn, Yonus Qannoni, que se tornou o novo ministro do Interior. Ele esperava que o acordo reservasse ao seu grupo o Ministério das Relações Exteriores. Ficou com a pasta da Agricultura, Minas e Energia.
O Ministério das Relações Exteriores, bem como a da Defesa e do Interior, foram entregues a membros da etnia tadique, aliados da Aliança do Norte e relacionados ao comandante Ahmed Sha Massoud, morto em 9 de setembro, possivelmente por membros da Al Qaeda. A chefia do Executivo será do pashtu Hamid Kazaï, partidário do antigo rei Zahir Shah, exilado em Roma desde 1973.
O chefe do Front Islâmico Nacional do Afeganistão, Sayed Ahmad Gailani, também criticou como injustas as decisões tomadas em Bonn. "Injustiças foram cometidas na distribuição dos ministérios. Aqueles que tiveram um importante papel na jihad (luta contra a ocupação soviética, na década de 80) não estão representados", disse.
Gailani é também aliado do rei Shah, lidera um grupo de pashtus exilados no Paquistão e estava representado na conferência em Bonn por seu filho Hamed Gailani. Ele declarou que espera ver as injustiças corrigidas na Loya Jirga, tradicional assembléia afegã, que será reunida daqui a seis meses para escolher um novo governo, desta vez com mandato de cerca de dois anos.
Com agências internacionais
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Exatamente dois meses após o início dos ataques dos EUA contra o Afeganistão, o Taleban anunciou hoje sua rendição e disse que irá entregar o controle de Candahar, últimas das grandes cidades afegãs que continua sob o poder da milícia islâmica.
O acordo foi fechado hoje entre representantes do Taleban e o líder tribal pashtu Hamid Karzai, futuro presidente interino do país.
A milícia tenta obter ainda a garantia de que todos os talebans que entregarem suas armas receberão o perdão e poderão viver normalmente no Afeganistão. Além disso, há um esforço especial para que o mulá Mohamad Omar, líder supremo do Taleban, não sofra represálias. Omar gostaria de continuar vivendo em Candahar.
Hamid Karzai, no entanto, não confirmou diretamente este ponto do acordo. Ele e declarou que ofereceu anistia aos "homens comuns" e afirmou que, para garantir sua segurança, Omar deveria "condenar enfaticamente o terrorismo e deixar claro que o terrorismo brutalizou a sociedade afegã e destruiu o país".
O governo dos Estados Unidos, no entanto, tem postura radicalmente diferente sobre a questão e se recusam a negociar com o Taleban. "O mulá Omar foi o principal protetor da rede Al Qaeda no Afeganistão e não merece a medalha da liberdade", declarou o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
"Uma saída negociada é inaceitável para os EUA. Não há a menor dúvida sobre qual é a nossa posição: os responsáveis por atos de terrorismo serão castigados", afirmou o secretário.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, fez pronunciamento semelhante: "O presidente George W. Bush acredita que aqueles que abrigam o terrorismo devem ser trazidos à Justiça".
A Casa Branca também informou que a campanha militar americana no Afeganistão não termina com a rendição de Candahar e prosseguirá até que os líderes do Taleban e da rede terrorista Al Qaeda sejam "castigados", afirmou ontem o secretário de Defesa dos EUA, Ronald Rumsfeld.
"Seguimos adiante. Vamos levando a guerra ao terreno dos terroristas", disse Rumsfeld, lembrando que os EUA estão no Afeganistão para "desarraigar os terroristas e encontrá-los onde quer que estejam".
O secretário salientou que ainda falta muito para os EUA terminarem sua tarefa no Afeganistão. Segundo ele, a maioria dos líderes do Taleban e da Al Qaeda permanece viva e solta e ainda há concentrações de combatentes de ambos os grupos "em números nada triviais".
Primeira crise interna
O novo governo do Afeganistão ainda nem foi formado e já encontra rejeição no próprio país, dois dias após ter sido assinado o acordo que definiu a transição política. Uma das principais lideranças afegãs, o poderoso líder Abdul Rashid Dostum, da etnia uzbeque, declarou que vai boicotar o governo provisório.
"Isso é uma humilhação para nós. Anunciamos nosso boicote e não iremos a Cabul até que um governo correto tome posse", afirmou. O chefe de guerra Dostum controla hoje parte do norte do país, incluindo a cidade de Mazar-e-Sharif, e disse que impedirá o acesso do futuro governo ao Norte, onde ficam as reservas afegãs de petróleo e gás.
Dostum se disse traído pelo chefe da delegação da Aliança do Norte em Bonn, Yonus Qannoni, que se tornou o novo ministro do Interior. Ele esperava que o acordo reservasse ao seu grupo o Ministério das Relações Exteriores. Ficou com a pasta da Agricultura, Minas e Energia.
O Ministério das Relações Exteriores, bem como a da Defesa e do Interior, foram entregues a membros da etnia tadique, aliados da Aliança do Norte e relacionados ao comandante Ahmed Sha Massoud, morto em 9 de setembro, possivelmente por membros da Al Qaeda. A chefia do Executivo será do pashtu Hamid Kazaï, partidário do antigo rei Zahir Shah, exilado em Roma desde 1973.
O chefe do Front Islâmico Nacional do Afeganistão, Sayed Ahmad Gailani, também criticou como injustas as decisões tomadas em Bonn. "Injustiças foram cometidas na distribuição dos ministérios. Aqueles que tiveram um importante papel na jihad (luta contra a ocupação soviética, na década de 80) não estão representados", disse.
Gailani é também aliado do rei Shah, lidera um grupo de pashtus exilados no Paquistão e estava representado na conferência em Bonn por seu filho Hamed Gailani. Ele declarou que espera ver as injustiças corrigidas na Loya Jirga, tradicional assembléia afegã, que será reunida daqui a seis meses para escolher um novo governo, desta vez com mandato de cerca de dois anos.
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