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14/01/2002 - 04h06

Chuva leva esperança à agricultura afegã

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JOHN FULLERTON
da Reuters

Os afegãos ganharam um motivo para festejar ontem, quando fortes chuvas caíram no sul do país, pondo fim a uma seca de quatro anos que transformou suas terras férteis em deserto.

"Estamos felizes por termos paz e agora estamos felizes porque podemos tentar reviver o que resta de nossa agricultura", disse Shafiq Ullah, representante do Ministério das Relações Exteriores em Candahar. Segundo Ullah, 80% da produção agrícola foi perdida durante a seca.

O Afeganistão sofre a sua pior seca em 30 anos, e cada dia sem neve ou chuva é mais um dia de sofrimento para sua população empobrecida.

A seca acrescentou amargura a uma nação prejudicada pela ocupação soviética (encerrada em 1989), pela anarquia e pelo governo de linha dura do grupo extremista Taleban, que ruiu no final do ano passado, depois que os EUA iniciaram uma operação militar no Afeganistão após os atentados de 11 de setembro.

"As árvores e as vinhas secas estão alegres, e nós também", disse Sha Wali, fazendeiro de Khakaze, cerca de 70 km ao norte de Candahar -cidade que já foi cercada por vastos vinhedos e pomares e que foi famosa por suas uvas e suas romãs.

A chuva torrencial, acompanhada de ventos e raios, transformou as ruas da segunda cidade do Afeganistão em lama, e o guarda-chuva, acessório raro, fez sua primeira aparição depois de uma longa ausência.

O dia de ontem registrou as primeiras chuvas pesadas depois de um longo período de estiagem.

O norte afegão também estava comemorando depois que a neve começou a cair com mais intensidade na região nos últimos dias. Um motorista de táxi da capital do país citou um velho ditado: "É melhor para Cabul estar sem ouro do que sem neve".

As colinas ao redor da cidade deveriam estar com uma camada espessa de neve, mas durante boa parte do inverno houve pouca neve. As noites eram frias e secas. Os dias, ensolarados -e secos.

Fuga da fome
Muitos refugiados que cruzaram a fronteira rumo ao Paquistão ou ao Irã no último ano estavam fugindo mais da fome iminente do que do Taleban ou dos bombardeios ocidentais.

É difícil coletar dados precisos porque o Taleban dificultava o trabalho da ONU. Analistas dizem que metade da população afegã pode ter sido atingida.

De acordo com Stephanie Bunker, porta-voz das Nações Unidas, acredita-se que boa parte dos 1,4 milhão de "pessoas deslocadas internamente" -afegãos que deixaram sua terra natal, sem ir para o exterior- abandonou fazendas falidas.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que cerca de um terço da população afegã precisa de ajuda alimentar neste inverno -ajuda que está entrando no país desde o fim das lutas.

Os últimos 23 anos de guerra destruíram a infra-estrutura agrícola, especialmente os planos de irrigação tradicionais, que costumavam fazer do país um exportador de frutas e verduras.

O país também precisa de ajuda para buscar novas fontes de água, um projeto para o qual havia fundos mas que não pôde ser posto em prática nos últimos cinco anos em parte porque o governo do grupo extremista Taleban foi isolado internacionalmente.

As tropas soviéticas bombardearam túneis de irrigação, chamados de karez, porque os rebeldes mujahidin se escondiam neles. Muitos foram reparados no início da década de 90, somente para serem destruídos novamente pelo Taleban, em campanhas contra minorias étnicas.

Guantánamo
Mais 30 membros do Taleban e da organização terrorista Al Qaeda, presos pelas forças ocidentais, foram levados do Afeganistão, sob forte guarda, à base militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba, elevando para 50 o número de presos no local.

Dois oficiais militares dos EUA viajaram com cada um dos presos, que foram algemados, a exemplo dos primeiros 20 prisioneiros que foram transportados à base na semana passada. O primeiro grupo, transportado em um avião militar de carga C-17, chegou à base naval, localizada no sudeste de Cuba, na sexta-feira.

"A situação foi exatamente a mesma de antes -os uniformes [coletes laranja], as algemas, a escolta", disse Martin Compton, porta-voz do Comando Central baseado no Estado da Flórida, em Tampa. Poucos detalhes têm sido revelados sobre os que estão sendo enviados à prisão de segurança máxima em Guantánamo, incluindo um prisioneiro que seria cidadão britânico.

As medidas de segurança na base aérea em Candahar foram extremas, com soldados que patrulhavam a área com metralhadores e cães treinados para ataques.

A transferência de presos para Guantánamo começou quatro meses após os ataques de setembro nos EUA. Os detidos, que o Pentágono chama de "combatentes ilegais", e não de prisioneiros de guerra, estão sendo mantidos para interrogatórios. Alguns podem enfrentar tribunais militares sob a acusação de terrorismo.




  • Com agências internacionais

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