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17/01/2002 - 05h15

Desemprego ameaça reeleição de Schröder na Alemanha

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

A cambaleante economia, a segurança doméstica e a tolerância em relação à forte presença de imigrantes no mercado de trabalho devem ser objeto de discussões acaloradas na campanha para as eleições legislativas da Alemanha de setembro próximo.

O país vive um clima de disputa eleitoral desde a definição do nome do governador da Baviera, Edmund Stoiber, como candidato a chanceler (premiê) pelo principal partido de centro-direita alemão, a União Democrata Cristã (CDU), na última sexta-feira.

Embora sustente não estar "nem um pouco preocupado" com a escolha de seu próximo adversário político direto, o atual chanceler, Gerhard Schröder, do Partido Social-Democrata (SPD), não perdeu tempo e, no último final de semana, acusou Stoiber de querer "polarizar o país" com um discurso radical de direita. O governador, líder da União Social Cristã (CSU), ligada à CDU, é conhecido pelo rigor legal e econômico adotado pela Baviera (sul) durante sua administração.

Faz sentido a atitude de Schröder dentro da confusa cena política alemã dos últimos meses. Primeiro, a CDU hesitava entre a indicação de Stoiber e a de Angela Merkel, sua presidente, para o posto de oponente de Schröder. Segundo, de acordo com pesquisas de intenção de voto divulgada ontem, o premiê ainda tem uma ligeira vantagem sobre seu maior rival, mas a CDU já ultrapassa o SPD na preferência dos eleitores.

Contudo analistas políticos classificam a ação de Schröder de uma tentativa de desviar a atenção dos eleitores do maior problema que a Alemanha atravessa: um período de estagnação econômica que mantém o nível de desemprego em cerca de 10% da mão-de-obra ativa do país (mais de 4 milhões de pessoas). Quando chegou ao poder, no final de 1998, o premiê declarou que "não mereceria a reeleição se não houvesse uma queda significativa do desemprego" durante seu governo -seu objetivo era chegar a 3,5 milhões de desempregados.

Início promissor
É verdade que sua administração teve um início promissor, e o desemprego chegou a diminuir em mais de 200 mil postos. Além disso, ele enfrentou o "Reformstau" (congestionamento de reformas) deixado por seu predecessor, o democrata-cristão Helmut Kohl. "Schröder fez um trabalho crucial no que se refere à reforma fiscal e à adaptação do sistema de proteção social às realidades demográfica e econômica alemãs", explicou à Folha Carsten-Patrick Meier, especialista em economia política do Instituto para a Economia Mundial de Kiel (norte).

Em Berlim, no dia em que foi confirmado como candidato da aliança CDU/CSU, Stoiber atacou o balanço econômico de seu rival, sobretudo no leste do país. "O desemprego é o mais grave problema alemão e constitui a maior preocupação dos eleitores. Assim, é normal que o candidato da oposição ataque o desempenho econômico do país durante o governo de seu maior rival", analisou Manfred Nitsch, especialista em economia política da Universidade Livre de Berlim.

Para Stoiber, o foco principal da incipiente campanha não poderia ser mais propício. Afinal, a Baviera apresenta uma taxa de desemprego de apenas 5% e é o segundo Estado mais seguro da Alemanha, outra prioridade do eleitorado.

Ele decidiu dar ênfase ao leste do país porque o desemprego é ainda mais alto nessa região (superior a 15%). Também atacou a forte presença de imigrantes no mercado de trabalho, tema que agrada aos alemães do leste. Desde a reunificação, em 1990, todas as eleições gerais foram decididas pelos votos dessa região.

"Stoiber tem um balanço econômico extraordinário em seu Estado, mas terá de superar uma certa oposição dentro de sua própria aliança, pois os democrata-cristãos do norte não vêem com bons olhos a candidatura de um bávaro para o posto de chanceler. A Baviera é vista como um Estado independente demais pelos alemães do norte", indicou Meier.

Com efeito, a CSU governa a Baviera ininterruptamente desde 1962, e seus líderes, sobretudo o conservador Franz-Josef Strauss (até sua morte, em 1988, mentor político de Stoiber), têm pleiteado um tratamento especial do governo federal há muito tempo. No governo de Kohl (1982-1998), houve até um período de dissensão entre a CDU e a CSU. Isso fez com que os bávaros se tornassem líderes políticos ainda menos palatáveis para os eleitores do norte.
 

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