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Kosovo pode proclamar já amanhã a independência
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da Folha de S.Paulo
Com a possibilidade cada vez maior de Kosovo declarar sua independência unilateral já amanhã, domingo, o primeiro-ministro kosovar, Hashim Thaci, prometeu ontem proteger o direito das minorias, menção aos 120 mil sérvios que dividem a Província com 1,9 milhão de albaneses étnicos.
Ele não confirmou que a declaração de independência já esteja marcada e exortou os sérvios que abandonaram suas aldeias a retornarem a Kosovo, território desde 1999 sob a administração das Nações Unidas, depois que a Otan -a aliança militar ocidental- interveio para pôr fim à "limpeza étnica" promovida pela Sérvia.
Thaci e o presidente kosovar, Fatmir Sejdiu, obtiveram do Parlamento uma moção que permite à Província se dotar "em 24 horas" das legislações de um Estado soberano.
A Rússia, a Sérvia e a Bósnia voltaram ontem a condenar o projeto independentista de Thaci, derivado de um plano elaborado no ano passado por uma missão da ONU chefiada pelo finlandês Martti Ahtisaari.
Os três países argumentam que a independência de Kosovo contraria a resolução 1244, do Conselho de Segurança, que em 1999 insistiu sobre a "integridade territorial da República Federal da Iugoslávia", da qual a Sérvia, cuja capital é a mesma da ex-Iugoslávia, Belgrado, se considera como a direta descendente. A questão, no entanto, é controvertida.
Os Estados Unidos se preparam para reconhecer o novo país, reiterou ontem o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack.
O mesmo acontece com a maioria dos governos da União Européia. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy disse ontem a crianças do ensino elementar que elas precisariam se acostumar com um novo país no mapa da Europa.
Dos 27 países da UE, apenas Chipre, Romênia, Eslováquia, Espanha e Grécia assumem uma posição mais prudente.
Mas o governo espanhol, que teme o precedente kosovar para independentistas bascos e catalães, apressou-se ontem a se dissociar de Moscou.
A Chancelaria espanhola convocou o embaixador russo, Alexander Kuznetsov, e exprimiu "surpresa" por declaração do presidente Vladimir Putin, que traçou um paralelo de catalães com kosovares.
Na Sérvia, o recém-eleito presidente Boris Tadic reafirmou que jamais deixará de lutar pela manutenção da integridade territorial sérvia. Mas também reafirmou como prioridade o projeto de ingresso da Sérvia na União Européia. É uma forma de dar a entender que pode se conformar, caso assim exijam as circunstâncias.
Ainda ontem, diz a Reuters, assessores do primeiro-ministro sérvio descartaram a possibilidade de romper relações diplomáticas com países que reconheçam a independência de Kosovo. Essas relações serão apenas redimensionadas, com a retirada de embaixadores e a manutenção de diplomatas de escalão inferior.
Sem rumores de tropas
Não há em Belgrado nenhum rumor sobre deslocamento de tropas ou da tentativa de preservar a unidade territorial por meios militares, mesmo porque Kosovo permanecerá com sua segurança interna garantida por 16 mil soldados da Otan.
Em termos de represália, o máximo evocado foi uma advertência do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, de que poderá reconhecer a independência das regiões da Abkházia, da Ossétia do Sul e da Transdniestra. Os dois primeiros territórios tentaram se separar da Geórgia no início dos anos 90, e o terceiro anunciou na mesma época sua separação da Moldova. Nos três, a população é majoritariamente russa.
A Rússia teme que Kosovo se torne um precedente para a Tchetchênia. O território permanece agregado com o apoio dos Estados Unidos, que adotou a tese de Moscou de que os independentistas tchetchenos são, indistintamente, "terroristas". Mas o governo George W. Bush está chegando ao fim, e é possível que Washington tempere um pouco essa tese.
Com agências internacionais
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