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25/02/2002 - 21h56

Confrontos entre governo e guerrilha deixam 18 mortos na Colômbia

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da Folha Online

Uma onda de ataques da guerrilha e de grupos paramilitares deixou 18 mortos na Colômbia nas últimas 24 horas revelaram as autoridades.

Uma emboscada realizada por guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no departamento de Magdalena matou três policiais e feriu outros quatro hoje, revelou uma fonte oficial.

Foi a terceira ação do dia feita por guerrilheiros que terminou com a morte de membros do Exército colombiano.

Mais cedo, no departamento de Caquetá, no sul do país, dois militares morreram quando tentavam desativar um ônibus bomba deixado pelas Farc em uma estrada entre as localidades de Montañias e Paujil, segundo uma fonte oficial.

Em Macarena, dentro da antiga zona desmilitarizada, quatro civis foram mortos no domingo e um quinto está desaparecido, todos vítimas da guerrilha das Farc, afirmou um porta-voz militar.

Em Magangué, no norte do país, cinco agentes do Departamento Administrativo de Segurança (DAS, serviço secreto) foram executados no domingo por um grupo de paramilitares, que jogaram os corpos em um rio, revelou o major José de los Santos, chefe da DAS na região.

Segundo o major, após o crime unidades da DAS e da Marinha mataram três paramilitares e prenderam outros cinco, todos envolvidos na ação. Em Suaza, no sul do país, um outro soldado morreu durante um combate com membros das Farc.

O grupo guerrilheiro fez ainda ataques contra a infra-estrutura colombiana, explodindo cinco torres de energia e três pontes no fim de semana, de acordo com o governo. A empresa estatal de energia ISA afirmou que mais de trinta cidades estão sem energia elétrica nos Departamentos (Estados) de Cauca e Huila (sudoeste), Nariño e Caquetá (sul) e Meta (sudeste), além de dez cidades no norte do Equador, perto da fronteira com a Colômbia, que dependiam do fornecimento colombiano. De acordo com fontes governamentais, a aviação militar colombiana deve lançar uma segunda campanha de bombardeios contra posições das Farc "a qualquer momento".

"Os ataques são muito graves porque Caquetá está praticamente isolada por terra e Huila tem sérias dificuldades em seu trânsito intermunicipal", destacou o ministro.

Os confrontos militares começaram na última quarta-feira (20), quando o governo colombiano suspendeu os processos de paz com as Farc. O presidente Andrés Pastrana tomou essa decisão após o sequestro de um senador. Ele declarou que retomaria uma área desmilitarizada no sul do país, até então ocupada pelos guerrilheiros.

No sábado, as Farc contra-atacaram e sequestraram a candidata à Presidência Indrif Betancourt, que visita a ex-área da guerrilha.

"Agora é guerra"

O chefe guerrilheiro Carlos Lozada, ex-negociador de paz das Farc, anunciou hoje que o país está exposto à guerra total, após a decisão de Pastrana de romper o processo de paz.

"Agora vem a guerra declarada pelo presidente", disse Lozada a uma emissora de TV local. Ele disse que os combatentes das Farc ainda estão na área que durante os últimos três anos estava desmilitarizada e agora voltou a sofrer a intervenção do governo.

"Nós continuamos aqui, esperaremos o que vai acontecer", declarou o comandante guerrilheiro, em relação às operações aéreas e terrestres iniciada pelos militares contra as posições rebeldes na região.

"Sequestro à democracia"

Pastrana condenou hoje o sequestro de Betancourt e afirmou que pedirá o apoio da comunidade internacional e de todos os colombianos para lutar contra a prática do sequestro "até que não exista um só colombiano ou estrangeiro nas mãos dos criminosos e longe de seus parentes", afirmou. Ele disse que os rebeldes "sequestraram a democracia".

O presidente declarou que sequestrar membros do Congresso, uma candidata à presidência e reter centenas de colombianos equivale a sequestrar a democracia do país. "Está provado que, cada vez mais, as Farc querem demonstrar ao mundo sua postura antidemocrática, anticolombiana e terrorista", disse Pastrana.

"Agora os violentos voltam a atentar contra a democracia. Desta vez sequestraram nada menos que uma candidata à presidência -Ingrid Betancourt- e sua assessora, em um ato que condenamos com toda nossa força", disse Pastrana.

O presidente colombiano acrescentou que o mundo está refém da conduta e das ações dos rebeldes e exigiu a libertação de todos os seqüestrados.

A candidata foi sequestrada no sábado (23) pelas Farc, no departamento de Caquetá, sul do país, três dias depois de o presidente ter encerrado as negociações de paz com os rebeldes.

A porta-voz do partido Oxigênio Verde, Diana Rodríguez, confirmou a libertação do coordenador da campanha, Aldair Lamprea, do cinegrafista Mauricio Mesa e do fotógrafo francês Alain Keler, da revista "Marie Claire", que viajavam em companhia de Betancourt e Rojas.

Ofensivas

Desde a suspensão do processo de paz, o governo colombiano tem feito uma ofensiva militar para retomar a antiga área desmilitarizada, de 42 mil km², cedida anteriormente aos rebeldes para colaborar com as negociações.

Segundo o presidente, o processo de paz entre a guerrilha marxista e o governo estava encerrado após o sequestro de um avião que levava o senador Eduardo Gechen, há uma semana.

Até agora, três dos cinco municípios da zona já estão sob controle: Vista Hermosa, Mesetas e San Vicente de Caguán. Ainda falta recuperar La Uribe e La Macarena, o que pode acontecer nos próximos dias, afirma o Exército.

San Vicente de Caguán, cidade de 20 mil habitantes, está em situação grave, sem água e sem luz. A comunicação é feita por meio de telefones via satélite.

Troca

Os guerrilheiros das Farc querem trocar Ingrid Betancourt, 40, e outros cinco legisladores que mantêm em cativeiro por dezenas de rebeldes presos na Colômbia, revelou ontem uma fonte do governo que pediu anonimato.

Segundo a fonte, a exigência faz parte de um documento enviado por um dos líderes das Farc Joaquín Gómez à sede da Polícia Nacional em Bogotá, cuja autenticidade está sendo verificada.

"O documento exige que o Congresso e o governo aprovem, no prazo de um ano, uma lei de troca de prisioneiros", disse a fonte.

Outra fonte governamental confirmou que o governo trabalha com a hipótese de que o sequestro de Betancourt faz parte de um plano da guerrilha para forçar a aprovação da lei de troca de prisioneiros.

Além de Betancourt, as Farc mantêm em cativeiro os congressistas liberais (oposição) Consuelo González, Orlando Beltrán, Luis Eladio Pérez e Eduardo Gechen, além do conservador (governo) Oscar Lizcano.

Ontem, ao anunciar o desaparecimento da candidata, o governo colombiano destacou que advertiu reiteradamenre a candidata que não existiam condições de segurança para a realização da viagem até a antiga zona desmilitarizada.

Betancourt, que tem menos de 2% das intenções de voto, havia pedido às autoridades um helicóptero para chegar a San Vicente del Caguán, mas não foi atendida e decidiu viajar em uma caminhonete, sem escolta.

Filha de diplomatas de uma tradicional família de políticos colombianos, a ex-senadora Betancourt concordou com a decisão do presidente colombiano, Andrés Pastrana, de romper o diálogo de paz e ordenar o fim da zona desmilitarizada.

Antes de ser eleita senadora, Ingrid ficou conhecida por denunciar que o Cartel de Cáli havia patrocinado a campanha eleitoral do então presidente Ernesto Samper.

Nos últimos meses, ela lançou o livro "Até que a morte nos separe: a minha luta para redimir a Colômbia", cujo tema central é o mesmo de sua campanha eleitoral: a corrupção política em seu país.

O ministro do Interior da Colômbia, Armando Villa Estrada, qualificou de lamentável o sequestro de Betancourt.

"Isso é lamentável e nós pedimos para aqueles que podem estar com Ingrid Betancourt que respeitem sua vida e a liberem rapidamente", disse Estrada.

O ministro declarou ainda que Betancourt deve ser liberada para poder continuar com seu "trabalho na campanha política que tenta levá-la à Presidência".

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