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02/03/2008 - 08h36

Autoridades manipulam eleições na Rússia, diz especialista

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FERNANDO SERPONE
da Folha Online

Neste domingo, a Rússia realiza a eleição presidencial que escolherá o sucessor de Vladimir Putin, no cargo desde 2000. O pleito não reserva surpresas, já que é dada como certa a vitória do candidato apoiado pelo próprio Putin, que não pode se candidatar a um terceiro mandato.

Dmitri Medvedev, 42, atual vice-premiê, deve vencer no primeiro turno com cerca de 60% a 70% dos votos, graças à popularidade de Putin. "Além disso, as autoridades dominaram as artes de manipular eleições que são usadas para garantir a vitória do candidato do Kremlin" disse Lilia Shevtsova, chefe de programa e membro sênior do instituto Carnegie Moscow Center.

"A monarquia eleita funciona na Rússia", afirmou Shevtsova, em entrevista por e-mail à Folha Online, em referência à transferência de poder programada pelo Kremlin, apesar da realização de eleições. "Mas o sucesso pode ser frágil --o povo apóia o Kremlin porque a situação econômica está melhor que nos anos 90."

Segundo a especialista em Rússia, autora de várias publicações sobre a política do país, Medvedev "definitivamente é mais inteligente e mais educado" que Putin. Mas, apesar da retórica liberal que o candidato apresenta, "não podemos esquecer que Putin, no começo, também criou uma imagem liberal e se mostrava como um político liberal", disse Shevtsova. "Mesmo durante a eleição presidencial de 2004 ele (Putin) costumava dizer: 'A liberdade de uma pessoa é a garantia da liberdade de todos'."

Leia a seguir a íntegra da entrevista concedida à Folha Online:

*

Folha Online - Medvedev tem tentado se mostrar um pouco mais liberal que Putin. Haverá alguma mudança considerável com ele na Presidência?

Lilia Shevtsova - Medvedev realmente mostrou com sua "linguagem corporal" que ele é mais sutil e moderado que Putin. Ele definitivamente é mais inteligente e mais educado, usa a retórica liberal, e sua mensagem tem sido mais liberal em geral.

No entanto, não podemos esquecer que Putin, no começo, também criou uma imagem liberall. Mesmo durante a eleição presidencial de 2004 ele costumava dizer: "A liberdade de uma pessoa é a garantia da liberdade de todos".

Portanto, retórica na Rússia não é uma garantia de tais políticas. Medvedev poderia implementar políticas mais liberais com duas condições: se ele tiver o poder real e não for considerado apenas um "presidente técnico", e se houver pressão de baixo e da elite que estará pronta por uma política mais competitiva. Por enquanto, essas duas condições estão ausentes. Além do mais, ao menos no começo, Medvedev terá que comandar ao lado de Putin, que terá forte influência na política russa.

Folha Online - E quanto à liberdade de imprensa? Um relatório recente da organização Anistia Internacional afirma que Moscou aumentou a repressão de protestos contra o governo e não tem investigado assassinatos de jornalistas.

Shevtsova - Nada mudou até agora na área de liberdade de imprensa. As autoridades continuam a reprimir qualquer mídia oposicionista séria. Pouco antes das eleições, as autoridades expulsaram da Rússia Natalia Morar, uma jornalista independente que vinha fazendo jornalismo investigativo. Até agora nada mudou.

Folha Online - Com o resultado da eleição já definido, a população irá votar? O governo tem feito campanha para incentivar o comparecimento às urnas para legitimar o pleito.

Shevtsova - A população, especialmente na Província, irá votar --o que representa de 30% a 40% da sociedade que chamamos de o "eleitorado de Putin". Eles estão interessados em preservar o status quo de Putin e vêem Medvedev como alguém que irá manter o rumo de Putin. Além disso, as autoridades dominaram as artes de manipular eleições que são usadas para garantir a vitória do candidato do Kremlin. Portanto, podemos ter certeza que o resultado será de cerca de 60% dos votos para Medvedev e ele ganhará no primeiro turno.

A monarquia eleita funciona na Rússia. Mas o sucesso pode ser frágil --o povo apóia o Kremlin porque a situação econômica está melhor que nos anos 90.

Folha Online - As relações com o Ocidente devem continuar a piorar com Medvedev como presidente?

Shevtsova - Não creio que o Kremlin sob Medvedev-Putin irá querer qualquer crise nas relações com o Ocidente. Mas é evidente que o sucessor irá continuar a doutrina de política externa de Putin de "Estar com o Ocidente e estar contra o Ocidente".

Na verdade, se Medvedev tiver uma chance de maior independência ele pode estar pronto para buscar uma política mais construtiva com o Ocidente.

Folha Online - Os russos temem secessões após a independência de Kosovo? O apoio à independência por parte dos países ocidentais coloca a população russa contra o Ocidente?

Shevtsova - Ninguém realmente se importa com Kosovo. Essa é uma carta do jogo da elite russa, que é cínica e tenta guardar algumas cartas que pode usar para manter a influência nos Balcãs. De todo modo, mesmo os liberais russos não vêem a solução de Kosovo como construtiva.

Folha Online - Alguns grupos nacionalistas tem afirmado que o sobrenome da mãe de Medvedev, Shaposhnikova, é judeu, portanto não pode ser presidente. Essa alegação pode afetar sua candidatura?

Shevtsova - Há muitas especulações sobre a origem judaica de Medvedev. Essa é uma demonstração do fato de que há forças poderosas no Kremlin que são contra sua candidatura. Mas não creio que essas tentativas irão minar seu futuro político. Russos comuns não estão informados desses rumores e, mesmo se soubessem, dificilmente isso afetaria sua atitude em relação a Medvedev.

 

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