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10/03/2002 - 03h56

Colômbia vota hoje em clima de tensão

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ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

Cerca de 23,8 milhões de colombianos irão hoje às urnas para renovar as 102 cadeiras do Senado e as 166 da Câmara dos Deputados, em meio a um clima de tensão pelo fim do processo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), no último dia 20, e por causa das constantes pressões de grupos armados contra eleitores e candidatos.

A votação será também um teste de segurança prévio à eleição presidencial, cujo primeiro turno está marcado para o dia 26 de maio. Muitos candidatos reclamam da falta de garantias para a realização das eleições.

"As eleições não podem estar isoladas da situação difícil em que se encontra o país. Logicamente isso afeta as votações, porque há candidatos sequestrados, candidatos que foram mortos e regiões do país nas quais não se pode chegar por ameaças de paramilitares ou das guerrilhas", disse à Folha o deputado esquerdista Antonio Navarro Wolff, favorito nas pesquisas para uma vaga ao Senado.

Por medo, muitos candidatos limitaram suas campanhas, evitando deslocamentos e comícios em locais abertos. O contato direto com potenciais eleitores foi em muitos casos substituído por mensagens gravadas em vídeo.

Para tentar garantir a segurança da eleição de hoje, o governo anunciou na última semana uma série de medidas, batizadas de "Plano Democracia".

Além do reforço no efetivo policial (mais de 180 mil membros das Forças de Segurança estarão trabalhando), o plano prevê a transferência de pelo menos 142 seções eleitorais localizadas em zonas rurais consideradas de alto risco para as áreas urbanas mais próximas.

"As eleições serão realizadas com normalidade em todos os 1.097 municípios do país", disse à Folha Iván Duque Escobar, chefe da Registradora Nacional de Estado Civil, órgão responsável pela organização das eleições.

Segundo Duque, o transporte dos eleitores poderá ser feito pelas prefeituras ou pelos próprios partidos ou candidatos, o que, segundo ele, não configura crime eleitoral pelas leis colombianas.

Segundo o comandante das Forças Armadas da Colômbia, general Fernando Tápias, o Exército estará presente na maior parte do país hoje.

"Essa é a maior cobertura de todos os processos eleitorais que já aconteceram: 95,9% das zonas urbanas, 89,3% das mesas de votação e 90,3% dos potenciais eleitores", disse.

Como medida de última hora, o órgão eleitoral convidou uma missão preliminar de observação da OEA (Organização dos Estados Americanos), com funções limitadas, e membros dos organismos eleitorais dos países vizinhos, para atuarem como observadores informais.

Lisura ameaçada
Os acontecimentos dos últimos dias mostram que a tarefa de garantir a lisura das eleições não será fácil. Na quarta-feira, o procurador-geral da Colômbia, Edgardo Maya Villazón, denunciou casos de subornos pagos a membros das mesas de votação.

No dia seguinte, as Farc foram acusadas de sequestrar o responsável pelas eleições e de incendiar o material de votação no município de Puerto Concordia, a cerca de 400 km de Bogotá.

Na sexta-feira, o responsável pelas eleições no Departamento (Estado) de Cundinamarca, que abrange Bogotá, foi suspenso por fazer campanha para um candidato cujo nome não foi divulgado.

Também têm sido frequentes as denúncias de ameaças a candidatos e constrangimentos a eleitores por parte dos grupos paramilitares de extrema direita.

No final de fevereiro, Salvatore Mancuso, um dos líderes das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), principal grupo paramilitar do país, disse num comunicado que pretende eleger até 30% do novo Congresso.

No mesmo comunicado, Mancuso afirmou que as AUC não apóiam nenhum candidato à Presidência, mas disse que a eleição do direitista Alvaro Uribe Vélez, favorito absoluto nas pesquisas, "beneficiará a maioria dos colombianos, entre eles a base social das AUC".

O principal adversário de Uribe, o liberal Horacio Serpa, o acusa de fomentar o paramilitarismo no país. Em entrevista à Folha, há dez dias, Serpa disse que a ação dos paramilitares trazia dúvidas à lisura do processo eleitoral e que poderia questionar o resultado da eleição de hoje se considerar que a situação permaneceu inalterada.

Para o analista político e consultor militar Alfredo Rangel, apesar de todas as pressões, sequestros e assassinatos durante a campanha, os resultados do pleito poderão ser considerados legítimos.

"Nos últimos anos, na Colômbia, tradicionalmente há pressões de grupos armados para interferir no processo eleitoral, mas não há costume desses grupos de sabotar as eleições em si", diz Rangel.

Para o analista, o objetivo desses grupos é "complementar o controle territorial de certas zonas do país, com a eleição de candidatos que têm algum tipo de ligação com eles". "Mas são pressões muito localizadas, em certas regiões do país."

A ação militar para a retomada da área de 42 mil km2 (do tamanho da Suíça), cedida às Farc em 1998 como condição para o início do processo de paz, não deve interferir no pleito, para Rangel.

"Aquela região tem apenas cinco municípios e é uma zona despovoada, com apenas dois habitantes por km2. As ações militares não terão nenhuma incidência sobre a realização das eleições", afirma Rangel.

Segundo a Registradora Nacional de Estado Civil, 5 dos 32 Departamentos (Estados) do país devem receber uma atenção especial hoje, por causa da presença de grupos guerrilheiros ou paramilitares: Putumayo, Caquetá, Magdalena, Arauca e Vaupés.

Desde o rompimento do processo de paz, há 18 dias, as Farc vêm mantendo uma forte ofensiva contra a infra-estrutura do país, dinamitando pontes, oleodutos, torres de transmissão de energia e centrais telefônicas. Dezenas de municípios do país continuam isolados, sem acesso por terra, sem luz, água ou telefone.

A violência pós-rompimento já provocou pelo menos 144 mortes, entre membros das Forças Armadas (48), guerrilheiros (87) e paramilitares (9).


 

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