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27/03/2002 - 04h26

Ação nos EUA quer reparação por escravidão

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da Folha de S.Paulo

Uma ativista do movimento negro dos EUA, Deadria Farmer-Paellmann, 36, entrou com uma ação coletiva numa corte federal de Nova York pedindo indenização a três grandes empresas, acusando-as de terem enriquecido com a escravidão.

A ação é a primeira de reparação nos EUA contra empresas que teriam lucrado com o trabalho escravo negro. As companhias são a Aetna, uma seguradora, a FleetBoston, empresa do setor bancário e financeiro, e a CSX, que faz a operação de ferrovias.

Não há uma quantia definida no pedido, mas o paradigma normalmente levantado nesses casos é o que as vítimas de trabalho escravo na Segunda Guerra pediram à Alemanha, à Suíça e a empresas como Volkswagen e Krupp: mais de US$ 8 bilhões.

As cortes americanas não têm sido muito receptivas a esses casos por causa das tênues ligações entre as instituições de hoje e as suas predecessoras da época da escravidão no país (1619 a 1865).

O exemplo do FleetBoston mostra isso: entre os fundadores do Banco de Providence (Rhode Island) estava o mercador de escravos John Brown. E o banco é um dos "ancestrais" do FleetBoston, que também passou por fusões e trocas de controle acionário.

Já outras têm ligações mais concretas. A Aetna é acusada de fazer seguros de escravos - como um seguro de qualquer propriedade - para seus donos e a CSX opera ferrovias construídas por escravos. Há cerca de dois anos, a Aetna fez um pedido público de desculpas, depois de ter sido confrontada com provas de que havia lucrado com a escravidão.

Apesar disso, Fred Laberge, porta-voz da Aetna, disse: "Não acreditamos que uma corte vá acatar uma ação sobre eventos - por mais lamentáveis que tenham sido - ocorridos há mais de cem anos. Essas questões não se refletem na Aetna de hoje".

Os advogados de Deadria dizem que mais 12 empresas devem ser intimadas a prestar esclarecimentos ou a discutir acordos.

Os EUA têm cerca de 34,6 milhões de negros - ou afro-americanos -, diz o censo realizado em 2000. Isso equivale a 12,3% da população americana, de 281,4 milhões de pessoas.

O advogado Roger Wareham disse que a ação pretende que as indenizações sejam reunidas em um fundo para a melhoria de saúde, educação e habitação dos afro-americanos. "Nosso objetivo não é que cada indivíduo receba sua parte em cheques pelo correio."

Deadria disse que entrou para uma faculdade de direito já com o objetivo de um dia fazer parte de uma ação desse tipo. Segundo ela, cerca de 60 empresas cooperaram com uma pesquisa de cinco anos sobre o relacionamento com a escravidão no país.

Caso para o Congresso
Mesmo não ganhando o caso na Justiça, a ativista pode levar a questão para uma discussão no Congresso. Essa estratégia parece estar sendo perseguida pelo Comitê Coordenador de Reparações, fundado pelo professor de Harvard Charles Ogletree, e por ativistas conhecidos, entre eles o reverendo Jesse Jackson e o advogado Johnnie Cochran, célebre por defender o ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson num caso de assassinato.

Uma lei federal poderia constituir um fundo para os descendentes de escravos e acordos poderiam ser feitos com grandes empresas para o financiamento de programas específicos.

O movimento negro americano queria discutir a questão na Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, realizada ano passado na África do Sul.
Porém os EUA abandonaram a conferência alegando discordar da discussão sobre relacionar o sionismo a racismo.

Com agências internacionais

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