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02/04/2002
-
02h53
da Folha de S.Paulo
Primeiras anotações sobre uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, durante o fim de semana, feitas pelo jornalista William Safire, do jornal "The New York Times".
Pergunta - O que fazer com [o líder palestino, Iasser] Arafat?
Ariel Sharon - Algumas pessoas se preocupam se Arafat tem dois quartos ou três, se tem eletricidade ou não. Elas não se preocupam com a israelense grávida de gêmeos que morreu nas mãos de um terrorista suicida.
Pergunta - Mas como ele pode acabar com o terrorismo se estiver isolado?
Sharon - Arafat nunca deu nenhum passo contra nenhum terrorista, nunca evitou nenhum ato de terror.
Arafat recebeu uma chance quando o general [Anthony] Zinni chegou aqui. Nós nos contivemos. Eu fiz tudo para que conseguíssemos um cessar-fogo que trouxesse, no final, uma paz verdadeira.
A única coisa que foi pedida a Arafat é que ele declarasse em árabe que deveria haver um cessar-fogo e exigisse o fim das mortes para que pudéssemos avançar para o plano Tenet [elaborado pelos EUA, visa um cessar-fogo para a retomada da confiança entre os dois lados e posterior restabelecimento das negociações de paz]. Arafat se recusou a fazer isso. Ele continua a incitar a agitação.
Apenas um líder mau e cruel pode educar crianças para cometer suicídio com histórias sobre atingir o paraíso. Assim como ensinamos nossas crianças judias a amarem a paz, ele ensina as crianças palestinas a odiar os judeus.
Pergunta - Qual é o propósito da ação militar israelense depois do "massacre do Pessach" [ataque suicida em um restaurante em Netania durante o jantar de comemoração da Páscoa judaica, que deixou 22 mortos na última quarta-feira]?
Sharon - O objetivo de nossa operação é eliminar a atividade terrorista em todos os territórios. Nós não temos nenhuma intenção de ficar, apenas de impedir essas coisas terríveis.
No último mês, houve 115 israelenses mortos e 1.656 feridos; no último ano, 401 mortos e 3.538 feridos.
Estamos criando uma zona de proteção, de alguma profundidade, na linha do que costumava ser a linha verde. Já estamos agindo nessa zona de proteção.
Nas últimas duas semanas, conseguimos impedir, prender ou nos livrar de 25 terroristas suicidas ou atiradores que estavam a caminho de matar nosso povo.
Pergunta - A presença de monitores dos EUA, como querem os palestinos, ajudaria?
Sharon - Nós concordamos com isso há muito tempo. Para ajudar o general Zinni a conseguir um cessar-fogo, concordaríamos com um grupo pequeno _apenas americanos, e apenas monitores. Se vocês trouxessem Forças Armadas, isso seria um grande erro. O que aconteceu com seus soldados no Líbano anos atrás aconteceria de novo. E a presença de soldados estrangeiros nos impediria de tomar as medidas necessárias contra os terroristas.
Pergunta - Qual é a sua reação à proposta de paz saudita apresentada na conferência árabe em Beirute na semana passada?
Sharon - Não sabemos o que há no plano saudita. Nós aceitamos as resoluções 242 e 338 da ONU, pedindo "fronteiras seguras e defensáveis", mas, tanto quanto sei, o plano saudita não inclui isso. Israel não pode voltar a ter as fronteiras de 1967. Abba Eban [ministro das Relações Exteriores de Israel durante a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e a Guerra do Yom Kippur, de 1973] as chamou há muito tempo de "fronteiras de Auschwitz". Israel não poderia existir.
E o vale do Jordão _os jordanianos jamais podem dizer isso, mas sabem que a maior ameaça ao reino hashemita seria uma fronteira comum com a entidade palestina, e é por isso que eles nos querem lá.
E você imagina, por um minuto, que poderíamos aceitar o que os palestinos chamam de direito de retornar? Isso significaria o fim de Israel como um Estado judaico democrático.
Todos falam sobre o plano saudita. Na Europa, eles o estão festejando, mas ninguém falou ainda com o país cuja segurança futura dependeria desse plano. Ninguém entre os árabes acha que já chegou a hora de falar com Israel sobre esse plano, o que nos faz ficar um pouco desconfiados. O problema agora não é afirmar uma visão, mas começar a conversar.
Estou satisfeito em ouvir que líderes árabes falam sobre visões de paz. Isso é importante, mas agora é hora de uma discussão cuidadosa sobre os detalhes entre os lados. Pedi uma reunião com eles, por meio de [vice-presidente dos EUA, Dick] Cheney, por meio de um mensageiro em Londres _nenhuma reação, nunca nenhuma resposta.
Eu disse a Cheney que estava pronto para ir e encontrar os chefes dos países árabes e elaborar com eles minhas idéias de como trazer paz à região. Estou pronto para me encontrar com quaisquer líderes árabes, secretamente ou não, para descobrir o que é possível. Em qualquer casamento, não há apenas uma noiva mas também um noivo.
Sharon telefonou para o jornalista após a entrevista para acrescentar o que ele disse considerar ser o mais importante: "Todos os países que buscam a paz deveriam rezar para que as forças israelenses tenham sucesso em sua missão, porque é apenas eliminando e erradicando o terror que chegaremos a uma paz duradoura".
Leia mais no especial Oriente Médio
"Não temos intenção de ficar", diz Sharon
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Primeiras anotações sobre uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, durante o fim de semana, feitas pelo jornalista William Safire, do jornal "The New York Times".
Pergunta - O que fazer com [o líder palestino, Iasser] Arafat?
Ariel Sharon - Algumas pessoas se preocupam se Arafat tem dois quartos ou três, se tem eletricidade ou não. Elas não se preocupam com a israelense grávida de gêmeos que morreu nas mãos de um terrorista suicida.
Pergunta - Mas como ele pode acabar com o terrorismo se estiver isolado?
Sharon - Arafat nunca deu nenhum passo contra nenhum terrorista, nunca evitou nenhum ato de terror.
Arafat recebeu uma chance quando o general [Anthony] Zinni chegou aqui. Nós nos contivemos. Eu fiz tudo para que conseguíssemos um cessar-fogo que trouxesse, no final, uma paz verdadeira.
A única coisa que foi pedida a Arafat é que ele declarasse em árabe que deveria haver um cessar-fogo e exigisse o fim das mortes para que pudéssemos avançar para o plano Tenet [elaborado pelos EUA, visa um cessar-fogo para a retomada da confiança entre os dois lados e posterior restabelecimento das negociações de paz]. Arafat se recusou a fazer isso. Ele continua a incitar a agitação.
Apenas um líder mau e cruel pode educar crianças para cometer suicídio com histórias sobre atingir o paraíso. Assim como ensinamos nossas crianças judias a amarem a paz, ele ensina as crianças palestinas a odiar os judeus.
Pergunta - Qual é o propósito da ação militar israelense depois do "massacre do Pessach" [ataque suicida em um restaurante em Netania durante o jantar de comemoração da Páscoa judaica, que deixou 22 mortos na última quarta-feira]?
Sharon - O objetivo de nossa operação é eliminar a atividade terrorista em todos os territórios. Nós não temos nenhuma intenção de ficar, apenas de impedir essas coisas terríveis.
No último mês, houve 115 israelenses mortos e 1.656 feridos; no último ano, 401 mortos e 3.538 feridos.
Estamos criando uma zona de proteção, de alguma profundidade, na linha do que costumava ser a linha verde. Já estamos agindo nessa zona de proteção.
Nas últimas duas semanas, conseguimos impedir, prender ou nos livrar de 25 terroristas suicidas ou atiradores que estavam a caminho de matar nosso povo.
Pergunta - A presença de monitores dos EUA, como querem os palestinos, ajudaria?
Sharon - Nós concordamos com isso há muito tempo. Para ajudar o general Zinni a conseguir um cessar-fogo, concordaríamos com um grupo pequeno _apenas americanos, e apenas monitores. Se vocês trouxessem Forças Armadas, isso seria um grande erro. O que aconteceu com seus soldados no Líbano anos atrás aconteceria de novo. E a presença de soldados estrangeiros nos impediria de tomar as medidas necessárias contra os terroristas.
Pergunta - Qual é a sua reação à proposta de paz saudita apresentada na conferência árabe em Beirute na semana passada?
Sharon - Não sabemos o que há no plano saudita. Nós aceitamos as resoluções 242 e 338 da ONU, pedindo "fronteiras seguras e defensáveis", mas, tanto quanto sei, o plano saudita não inclui isso. Israel não pode voltar a ter as fronteiras de 1967. Abba Eban [ministro das Relações Exteriores de Israel durante a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e a Guerra do Yom Kippur, de 1973] as chamou há muito tempo de "fronteiras de Auschwitz". Israel não poderia existir.
E o vale do Jordão _os jordanianos jamais podem dizer isso, mas sabem que a maior ameaça ao reino hashemita seria uma fronteira comum com a entidade palestina, e é por isso que eles nos querem lá.
E você imagina, por um minuto, que poderíamos aceitar o que os palestinos chamam de direito de retornar? Isso significaria o fim de Israel como um Estado judaico democrático.
Todos falam sobre o plano saudita. Na Europa, eles o estão festejando, mas ninguém falou ainda com o país cuja segurança futura dependeria desse plano. Ninguém entre os árabes acha que já chegou a hora de falar com Israel sobre esse plano, o que nos faz ficar um pouco desconfiados. O problema agora não é afirmar uma visão, mas começar a conversar.
Estou satisfeito em ouvir que líderes árabes falam sobre visões de paz. Isso é importante, mas agora é hora de uma discussão cuidadosa sobre os detalhes entre os lados. Pedi uma reunião com eles, por meio de [vice-presidente dos EUA, Dick] Cheney, por meio de um mensageiro em Londres _nenhuma reação, nunca nenhuma resposta.
Eu disse a Cheney que estava pronto para ir e encontrar os chefes dos países árabes e elaborar com eles minhas idéias de como trazer paz à região. Estou pronto para me encontrar com quaisquer líderes árabes, secretamente ou não, para descobrir o que é possível. Em qualquer casamento, não há apenas uma noiva mas também um noivo.
Sharon telefonou para o jornalista após a entrevista para acrescentar o que ele disse considerar ser o mais importante: "Todos os países que buscam a paz deveriam rezar para que as forças israelenses tenham sucesso em sua missão, porque é apenas eliminando e erradicando o terror que chegaremos a uma paz duradoura".
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