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11/04/2002 - 04h51

Ódio cresce na região, o número de mortos também

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do enviado a Jerusalém

Einav Meizlish festejaria anteontem o segundo aniversário de casamento. Por isso, estranhou muito e previu o pior quando seu marido, o oficial da reserva Danny Meizlish, 27, não telefonou logo cedo.

Danny havia sido chamado ao serviço ativo para participar da ofensiva israelense nos territórios palestinos.

No fim da tarde, os piores pressentimentos de Meizlish se confirmaram: Danny fora um dos 13 soldados israelenses mortos em combate no campo de refugiados palestinos de Jenin, 103 km ao norte de Jerusalém.

Noventa e três quilômetros mais ao sul, em Belém, a palestina Amira estava particularmente feliz no mesmo dia: nasceria o seu segundo filho.

O tio, Assaf, transportou-a no seu táxi para o hospital, aproveitando a breve suspensão do toque de recolher que as autoridades israelenses impuseram a todas as cidades palestinas reocupadas.

Parecia seguro sair nessas circunstâncias. Não foi. Assaf foi baleado por um franco-atirador israelense e morreu.

Histórias dramáticas como essas podem ser contadas aos milhares, nas décadas de conflito entre Israel e os palestinos.

Elas explicam a tremenda polarização a que chegaram as duas sociedades, polarização que parece ter atingido o auge agora.

Depõe o jornalista Thomas L. Friedman (do jornal "The New York Times"), com a inestimável experiência de quem foi correspondente em Beirute, durante a guerra do Líbano, e logo em seguida se instalou em Jerusalém, antes de iniciado o fracassado processo de paz:

"Este é o momento mais polarizado que jamais experimentei. A ira vulcânica dos dois lados -intensificada pela cobertura ao vivo da TV e pela capacidade da internet de transmitir as imediatas reações populares- é aterrorizante e está se espalhando, como lava, para fora do Oriente Médio, na Europa e além dela".

A lava vista por Friedman é, no entanto, muito mais incandescente em Israel e nos territórios palestinos.

Tão incandescente que há até uma justificação psicológica para a ação dos homens-bomba, como os que mataram o marido de Einav em seu segundo aniversário de casamento.

Vergonha
O psiquiatra palestino Eyad Sarraj, em texto recente, afirma que, desde o estabelecimento de Israel e o consequente desmantelamento dos palestinos, "um profundo sentimento de vergonha deitou raízes no psiquismo árabe".

Completa: "Vergonha é a emoção mais penosa na cultura árabe, produzindo o sentimento de que a pessoa não merece viver. O árabe honrado é o que se recusa a passar vergonha e morre com dignidade".

Para boa parte dos israelenses, "árabes honrados" têm outro nome: terroristas. E devem ser eliminados sumariamente. Basta ver o que pensa Avigdor Lieberman, líder do partido de extrema-direita Yisrael Beiteinu: "Exijo que a Mukata [o complexo em que está confinado o líder palestino Iasser Arafat] seja riscada da face da Terra, com todos os que estão dentro". Dentro, estão mais de cem pessoas, inclusive alguns militantes estrangeiros que vieram se solidarizar com Arafat, como o brasileiro Mário Lill, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Detalhe: até recentemente, o partido de Lieberman fazia parte do governo.
Há, entre os israelenses, quem não fique só na retórica incendiária: um grupo clandestino que se intitula "Lágrimas de Viúvas e Órfãos" matou dez palestinos e feriu 20, em ataques diretos, como vingança pelos atentados praticados em Israel.

Envenenamento
A causa, segundo Moshe Gorali, colunista do jornal "Haaretz": "O interminável confronto com a população palestina envenena a sociedade israelense com grandes doses de racismo, violência e ultranacionalismo".

Componentes presentes também do outro lado, o que torna muito pouco provável que Amira e Einav tenham sido as últimas palestina e israelense a chorar seus mortos.
(CR)


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