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14/04/2002 - 04h47

Arafat condena o terror e vê Powell hoje

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CLÓVIS ROSSI
da Folha de S.Paulo, em Jerusalém

O líder palestino Iasser Arafat atendeu ontem exigência norte-americana e emitiu comunicado, em árabe, no qual condena "fortemente todos os ataques que estão visando civis, dos dois lados, e especialmente o ataque que ocorreu contra cidadãos israelenses ontem (sexta-feira) em Jerusalém".

O comunicado foi divulgado pela agência de notícias palestina Wafa e lido na TV palestina. Teve como consequência a confirmação oficial do encontro, hoje, entre o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, e Arafat.

Israel considerou o comunicado insuficiente.

Na véspera, Powell havia condicionado um encontro com Arafat a uma condenação firme -e em árabe- do ataque terrorista da sexta-feira, no qual seis pessoas morreram, em pleno centro de Jerusalém.

O texto de Arafat contém "elementos positivos e interessantes", na avaliação de Powell, suficientes para que ele vá, nesta manhã, a Ramallah, 16 km ao norte de Jerusalém, onde Arafat está confinado há 16 dias em seu QG semidestruído pela ofensiva israelense.

Um encontro Powell-Arafat é tido como essencial se os EUA querem mesmo conseguir primeiro um cessar-fogo e, em seguida, reiniciar as negociações para um acordo de paz entre israelenses e palestinos.

Como Arafat também vê a reunião como vital, acabou emitindo o comunicado pedido por Powell, embora os palestinos continuem se queixando de que os Estados Unidos usam dois pesos e duas medidas, como diz o ministro da Informação, Iasser Abed Rabbo: denunciam a violência contra israelenses, mas silenciam a respeito do que Rabbo chama de "massacres" praticados pelos israelenses durante a reocupação dos territórios na Cisjordânia.

Há fatos que dão certa razão a Rabbo: Powell pediu, várias vezes, que Israel se retirasse dos territórios palestinos que começou a reocupar no dia 29.
Israel não apenas não retirou as tropas como, ao contrário, avançou ontem sobre três novas localidades palestinas (Arabeh, Hashmiya e Birqin, todas em torno de Jenin).

Em outras operações, perto de Nablus, o Exército israelense prendeu pelo menos dois homens que estavam na lista dos mais procurados por Israel. Um é Nasser Arwis, do Tanzim, a milícia do grupo Fatah, liderado pelo próprio Arafat. O outro chama-se Mohammed Hader e é apontado como dirigente importante da Tanzim em toda a Cisjordânia.

Enquanto isso, a situação humanitária nos territórios torna-se cada vez mais "severa", conforme contaram a Powell representantes da Cruz Vermelha e da UNWRA (a agência da ONU que cuida dos palestinos).

O encontro foi ontem pela manhã, no vazio deixado pelo fato de o secretário de Estado ter adiado o seu encontro com Arafat, originalmente marcado para ontem.

Rene Kosirnik, chefe da missão da Cruz Vermelha em Israel, disse a Powell que o Exército está impondo aos palestinos "uma punição coletiva". Ou seja, civis inocentes estão pagando por pecados dos grupos armados palestinos.
Kosirnik disse que as condições são especialmente ruins no campo de refugiados de Jenin, ao qual Israel impede o acesso não apenas da Cruz Vermelha mas de outras organizações humanitárias e de jornalistas.

É verdade que Powell, no encontro de ontem com a Cruz Vermelha e a UNWRA, anunciou doações adicionais de entre US$ 30 milhões e US$ 80 milhões. Mas o pessoal das duas instituições reclama que não adianta ter mais recursos se Israel continuar negando a elas acesso a certas áreas palestinas nas quais a situação é mais grave.

O foco principal de inquietações continua sendo Jenin, 103 km ao norte de Jerusalém, tanto que a União Européia emitiu nota para afirmar que "as notícias a respeito dos eventos no campo de refugiados de Jenin, se confirmadas, terão sérias consequências".

É alusão às informações dos palestinos de que houve "um massacre" no campo de refugiados, no qual teriam morrido ao menos 500 pessoas.

Israel admite elevado número de mortes palestinas, mas nega que tenham tomado a característica de massacre, mas sim fruto de duros combates com militantes armados.

"Massacre é o que aconteceu na Páscoa em Netania [alusão ao atentado terrorista que matou 28 pessoas em celebração religiosa]. Em Jenin, o que houve foi uma batalha", diz, por exemplo, o coronel Gal Hirsch, do Comando Central israelense.

Jenin continuava ontem sendo considerada zona militar fechada, o que impede a entrada de qualquer pessoa, inclusive jornalistas. Por extensão, impede uma verificação independente das alegações das duas partes.

O que é certo é que houve destruição de casas em grande quantidade, a ponto de as organizações de direitos humanos calcularem em 3.000 o número de residentes do campo que ficaram desabrigados. Dá, portanto, 20% do total estimado de 15 mil moradores antes existentes.

Outro foco de alarme é a situação na Basílica da Natividade, em Belém (10 km ao Norte de Jerusalém), na qual um grupo de entre 150 e 200 palestinos, a maioria armados, está cercado pelas tropas de Israel, na companhia de cerca de 40 padres e freiras.

Powell discutiu também a situação em Belém, com patriarcas dos três grupos cristãos que têm convento lá -católico, armênio e grego. Resta saber se, com a confirmação do encontro entre Powell e Arafat, hoje, Israel relaxará o confinamento do palestino.

 

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