Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/04/2002 - 06h09

Empresários negam participação no golpe contra Chávez

Publicidade

ROGERIO WASSERMANN
da Folha de S.Paulo

A participação de Pedro Carmona, 60, que presidia a principal associação empresarial da Venezuela, a Fedecámaras, durante o golpe que tentou derrubar o presidente Hugo Chávez foi "pessoal" e não teve o apoio da instituição.

Quem afirma é o presidente em exercício da Fedecámaras, Carlos Fernandez, 52. "Somos empresários, não participamos de atividades políticas", afirma ele, que se disse "surpreendido" pelo anúncio de que Carmona assumiria a Presidência e com o decreto que dissolveu os Poderes.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem por Fernandez à Folha, por telefone.

Folha - Qual a posição da Fedecámaras sobre a atual situação de Pedro Carmona?
Carlos Fernandez -
A família do dr. Carmona e ele próprio nos pediram que nos mantenhamos à margem de dar declarações. A única coisa que posso falar sobre ele é que está bem, mas está preso e seria levado hoje [ontem] à tarde à Justiça, para ser indiciado.

Folha - E como o sr. viu a participação dele no golpe que tentou derrubar o presidente Chávez?
Fernandez -
O que podemos dizer, como instituição, como Fedecámaras, é que participamos dos atos de protestos, reclamando, fazendo reivindicações sobre a situação na estatal petrolífera, a PDVSA. Nossos protestos eram pacíficos e legítimos. Daí em diante não houve nenhuma participação da Fedecámaras. Nós somos empresários, não participamos de atividades políticas.

Folha - Então a participação de Carmona no golpe foi pessoal?
Fernandez -
Totalmente pessoal. Todos ficamos surpreendidos, na noite de quinta-feira, quando o general Lucas Rincón [comandante das Forças Armadas" anunciou ao país que havia pedido ao presidente sua renúncia. Depois apareceu o dr. Carmona. Supomos que foram buscá-lo, ante um vazio de poder que se produziu.

Folha - E qual sua opinião sobre as atitudes que o governo provisório tomou?
Fernandez -
Ficamos bastante surpreendidos com o decreto que foi lido. Devo reconhecer que talvez pelos momentos eufóricos ou de emoção que ele pudesse ter naquele ato, cometeu o erro de assinar esse decreto sem tê-lo conhecido e analisado.

Folha - E qual a posição da Fedecámaras agora, com a volta do presidente Chávez ao poder?
Fernandez -
Esperamos um chamado à unificação e à revisão das atitudes antagônicas que vinham se manifestando. Que baixe o tom no qual se dirige ao país. E que encontre uma saída à crise por meio de mudanças profundas em matéria econômica, de política fiscal, de ataque à corrupção. Enfim, uma série de elementos que vínhamos solicitando ao governo nacional e que em nenhum momento foram atendidos. Esperamos que a situação que se apresentou na semana passada seja suficiente e tenha força para levar a uma verdadeira retificação.

Folha - Vocês ainda desejam a renúncia do presidente?
Fernandez -
Os elementos que nos levaram a fazer os protestos seguem presentes até o dia de hoje. A única coisa que vimos é a recondução da direção da PDVSA. Sobre as 49 leis polêmicas, corrupção, política fiscal e monetária, seguem presentes. Esperamos que, no transcurso dos dias, comecem a ser dados sinais, não só de palavras, que nos permitam ver que existem essas mudanças.

Folha - E os srs. mantêm a aliança com a CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela)?
Fernandez -
Nossa posição segue sendo a mesma. Se a sociedade civil nos acompanha, logicamente é bem-vinda. Assim como podemos apoiar algumas decisões que a sociedade civil tome nesse sentido, desde que siga nossas linhas básicas de pensamento.

A sociedade civil ainda está se manifestando, mas está fortemente fraturada, como as Forças Armadas. Por isso, necessitamos de um grande consenso nacional.


Leia mais no especial Venezuela
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade