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18/04/2002
-
05h04
SÉRGIO MALBERGIER
da Folha de S.Paulo
Ainda não está claro se os EUA ajudaram a planejar o golpe cívico-militar contra Hugo Chávez ou se apenas tentaram evitar seu precoce fracasso. Mas uma coisa ficou escancarada: a linha dura que cuida da política do país para o hemisfério mostrou, na primeira oportunidade, que não está para brincadeira.
Todos os envolvidos na formulação da política americana para a América Latina têm como objetivo primeiro derrubar o ditador Fidel Castro, a começar pelo subsecretário de Estado para a região, o cubano-americano Otto Reich.
Chávez fez tudo o que os EUA não queriam: lutou pelo aumento do preço do petróleo, mostrou parcimônia em relação à guerrilha colombiana, criticou duramente a "guerra contra o terror". Mas o pior foi sua aproximação de Fidel quando Washington trabalha duro para isolá-lo -forçou até o México a afastar-se de sua tradicional aliança com Cuba.
Chávez passou a vender petróleo barato a Cuba, aliviando a miséria econômica da ilha. Importou médicos cubanos e implantou círculos revolucionários bolivarianos para mobilizar as massas calcados no modelo castrista.
Enquanto isso, em Washington, Reich colocava como seu número dois outro exilado cubano, Lino Gutierrez, e Emilio Gonzalez, também cubano-americano, ocupava posto no Conselho de Segurança Nacional. Eles defendem a política do "não" para Cuba, apesar de gestos cada vez mais generosos do ditador cubano em relação ao império vizinho e da crescente pressão de congressistas e empresários que querem relaxar o embargo para lucrar na ilha.
Fiel à era Reagan, a tropa de choque de Reich tem impregnada no raciocínio geopolítico a lógica da Guerra Fria, durante a qual os países ao sul do rio Grande eram vistos como personagens secundários -à exceção de Cuba- na luta contra o "império do mal" soviético, repúblicas de bananas cujos sistemas políticos podiam ser manipulados sem muito escrúpulo.
Relatos sobre o encontro que Reich teve com diplomatas latino-americanos na sexta-feira, dia do golpe, apontam como ele comparou a crise da Argentina à da Venezuela, dando a impressão de que são coisa rotineira na região.
Teve de ouvir uma lição de seus interlocutores sobre a importância do processo democrático.
Mas no que ele estava pensando mesmo era em Fidel. O ditador envenena a mente dos formuladores da política americana, e o episódio venezuelano não será a única manifestação desse veneno.
Leia mais no especial Venezuela
Análise: Cuba envenena política dos EUA
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da Folha de S.Paulo
Ainda não está claro se os EUA ajudaram a planejar o golpe cívico-militar contra Hugo Chávez ou se apenas tentaram evitar seu precoce fracasso. Mas uma coisa ficou escancarada: a linha dura que cuida da política do país para o hemisfério mostrou, na primeira oportunidade, que não está para brincadeira.
Todos os envolvidos na formulação da política americana para a América Latina têm como objetivo primeiro derrubar o ditador Fidel Castro, a começar pelo subsecretário de Estado para a região, o cubano-americano Otto Reich.
Chávez fez tudo o que os EUA não queriam: lutou pelo aumento do preço do petróleo, mostrou parcimônia em relação à guerrilha colombiana, criticou duramente a "guerra contra o terror". Mas o pior foi sua aproximação de Fidel quando Washington trabalha duro para isolá-lo -forçou até o México a afastar-se de sua tradicional aliança com Cuba.
Chávez passou a vender petróleo barato a Cuba, aliviando a miséria econômica da ilha. Importou médicos cubanos e implantou círculos revolucionários bolivarianos para mobilizar as massas calcados no modelo castrista.
Enquanto isso, em Washington, Reich colocava como seu número dois outro exilado cubano, Lino Gutierrez, e Emilio Gonzalez, também cubano-americano, ocupava posto no Conselho de Segurança Nacional. Eles defendem a política do "não" para Cuba, apesar de gestos cada vez mais generosos do ditador cubano em relação ao império vizinho e da crescente pressão de congressistas e empresários que querem relaxar o embargo para lucrar na ilha.
Fiel à era Reagan, a tropa de choque de Reich tem impregnada no raciocínio geopolítico a lógica da Guerra Fria, durante a qual os países ao sul do rio Grande eram vistos como personagens secundários -à exceção de Cuba- na luta contra o "império do mal" soviético, repúblicas de bananas cujos sistemas políticos podiam ser manipulados sem muito escrúpulo.
Relatos sobre o encontro que Reich teve com diplomatas latino-americanos na sexta-feira, dia do golpe, apontam como ele comparou a crise da Argentina à da Venezuela, dando a impressão de que são coisa rotineira na região.
Teve de ouvir uma lição de seus interlocutores sobre a importância do processo democrático.
Mas no que ele estava pensando mesmo era em Fidel. O ditador envenena a mente dos formuladores da política americana, e o episódio venezuelano não será a única manifestação desse veneno.
Leia mais no especial Venezuela
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