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19/04/2002 - 02h31

Chávez promete desmilitarização da política venezuelana

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MARCIO AITH
enviado da Folha a Caracas

Em sua segunda aparição pública depois do golpe que o tirou do poder por 48 horas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prometeu que não usará mais seu uniforme militar e espada e pediu ao país que o ajude a "guardá-los no baú de recordações".

Com essa mensagem, Chávez instalou ontem o Conselho Federal de Governo, mecanismo destinado a buscar o diálogo e a reconciliação na Venezuela uma semana depois do golpe efêmero que o tirou do poder por 48 horas.

Os principais partidos de oposição boicotaram o evento e continuam exigindo a renúncia do presidente.

"Juro que o que realmente quero, e peço que me ajudem nisso, é guardar a espada e o uniforme. Muito mais que isso, quero colocá-los no baú de recordações", disse Chávez, um coronel hoje na reserva que liderou em 1992, ainda na ativa, um golpe fracassado contra o presidente Carlos Andres Perez.

Em 1998, Chávez foi eleito democraticamente à Presidência, mas não conseguiu livrar-se da dependência (nem do uniforme) da corporação, tendo nomeado militares para dirigir a companhia petrolífera da Venezuela, hospitais, escolas e outros postos.

Na quarta-feira, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Cesar Gaviria, havia declarado em Caracas que a sociedade civil deve fazer um esforço para afastar os militares da política e retomar o controle das instituições.

Boicote

Os três principais partidos de oposição boicotaram o evento de ontem sob a alegação de que não há reconciliação possível com o presidente no poder.

Dois deles, a AD (social-democrata) e o Copei (democrata-cristão), controlaram a política venezuelana desde 1958 até a eleição de Chávez, em 1998. O terceiro partido, Primeiro Justiça, reflete os anseios da classe média urbana que liderou as manifestações contra Chávez nos últimos meses.

No evento de ontem, Chávez falou por pouco mais de uma hora antes de passar a palavra a prefeitos e governadores presentes —vários partidários de Chávez e alguns oposicionistas moderados. Ele voltou a atacar a mídia, que fazia feroz oposição a seu governo. "O golpe não teria sido possível sem o apoio dos meios de comunicação, especialmente a TV."

Como condição ao diálogo, o presidente pediu que a oposição respeite a Constituição e seu mandato (até 2007) e não tente conspirar novamente contra seu governo. O presidente não fez referência à manifestação realizada no último dia 11 contra seu governo, na qual 15 pessoas morreram baleadas. O episódio acabou precipitando o golpe contra Chávez, executado por militares e idealizado por grupos privados.

As edições de ontem dos principais jornais de Caracas trouxeram entrevistas com Pedro Carmona, o líder empresarial nomeado presidente pela junta golpista. Negando ser um golpista, fantoche ou traidor da democracia, Carmona não negou que o empresário Isaac Pérez Recao, um dos proprietários da Venoco, companhia petroquímica da qual foi principal executivo, tenha participado da elaboração do decreto que suspendeu os Poderes no país. No entanto, Carmona disse que "não há uma relação de subordinação entre nós dois" e que não agiu por interesses econômicos, mas sim por convicção. Carmona está em prisão domiciliar.

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