Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/04/2002 - 05h18

Chávez se ausenta de festa por segurança

Publicidade

da Folha de S.Paulo

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, cancelou ontem sua primeira aparição pública desde o golpe que o tirou do poder por dois dias, no fim de semana passado, alegando razões de segurança. Chávez participaria das comemorações oficiais pelo 192º aniversário da independência da Venezuela.

Com muitos moradores de Caracas fora da cidade por conta do feriado nacional, apenas poucas centenas de pessoas apareceram na praça Bolívar para as celebrações promovidas pelo governo.

O presidente evitou comparecer à cerimônia de ontem apesar da forte presença policial e militar. O efetivo de segurança fazia a patrulha em meio a vendedores ambulantes, pôsteres de Chávez, de Che Guevara, Fidel Castro e Simon Bolívar, além de cópias das leis de reforma agrária e de hidrocarbonetos, parte de um pacote com 49 leis que enfureceu as lideranças empresariais e de trabalhadores e que levou à decretação de greves gerais em dezembro e na semana passada.

Chávez ainda enfrenta uma forte ofensiva da oposição, que o responsabiliza pelas mortes do dia 11 de abril e alega que ele teria manifestado intenção de renunciar durante a crise na noite daquele dia.

O advogado e coronel do Exército Julio Rodríguez Salas, que participou das negociações entre o presidente e os militares, afirmou, em entrevista ao jornal "El Nacional" que Chávez teria aceitado renunciar se o deixassem se exilar em Cuba.

O jornal publicou uma reprodução do manuscrito que teria sido escrito por Chávez anunciando que abandonava o cargo e destituía o vice-presidente, Diosdado Cabello. O manuscrito tem data de 13 de abril, quando Pedro Carmona já havia sido empossado como presidente provisório, e foi redigido em La Orchila, onde Chávez foi detido. O texto, com muitas rasuras, não foi assinado.

Porta-vozes do governo colocaram em dúvida a autenticidade do manuscrito.

Relações com os EUA
Chávez afirmou ontem que as relações do país com os EUA estão "perturbadas", mas que espera que as informações sobre supostas relações do governo americano com os líderes golpistas sejam falsas.

"Peço a Deus que todas essas informações que estão surgindo não sejam certas. Não quero acreditar em tudo o que sai na imprensa, prefiro olhar as coisas com muita prudência, com muita calma, ratificando como princípio que nós não queremos que essas relações se deteriorem", disse.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovou ontem uma resolução alertando que a excessiva polarização da sociedade venezuelana ameaça a estabilidade do país.

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, pediu a Chávez que atenda seus pedidos por uma reconciliação nacional e o respeito aos princípios democráticos.

O chanceler venezuelano, Luis Alfonso Dávila, rejeitou a proposta de Powell para que o secretário-geral da OEA, Cesar Gaviria, atue como um mediador na Venezuela. "Nós podemos ter cometido erros. Mas não há prisioneiros políticos, jornais fechados ou propriedades confiscadas", afirmou.

Para o ministro da Defesa, José Vicente Rangel, a resolução da OEA exagerou sobre a suposta militarização da sociedade venezuelana sob o governo de Chávez.

Ele argumentou com sua própria nomeação como o primeiro civil a ocupar o cargo de ministro da Defesa e com o fato de Colin Powell ser um militar. "Ninguém diria que o presidente Bush está tentando militarizar a política americana", afirmou.

Ajuda
O ditador cubano, Fidel Castro, afirmou ontem que procurou a ajuda de mais de duas dezenas de países para ajudar Hugo Chávez e evitar que ele morresse durante o golpe que tentou derrubá-lo do poder.

Em um comunicado publicado ontem, Fidel afirmou que sua Chancelaria contatou missões diplomáticas estrangeiras em Cuba e na Venezuela na madrugada do dia 12 para evitar que Chávez "se imolasse dentro do palácio presidencial de Miraflores, como estava propondo, junto aos 300 membros da Guarda de Honra que o acompanhavam".

Chávez considera Fidel um amigo e aliado. Os dois conversaram por telefone pelo menos uma vez durante a crise da semana passada, segundo o chanceler cubano, Felipe Pérez Roque.

O premiê espanhol, José Maria Aznar, havia dito anteriormente que Fidel havia pedido ajuda à Espanha para levar Fidel a Cuba e para proteger a embaixada cubana em Caracas.

Desde que Chávez chegou ao poder, em 1999, a Venezuela se tornou o principal parceiro comercial de Cuba, com mais de US$ 1 bilhão em negócios ao ano. Por meio de um acordo bilateral, a Venezuela fornece até 53 mil barris por dia em termos preferenciais. Centenas de cubanos estão na Venezuela para intercâmbios culturais e esportivos, e venezuelanos recebem tratamento de saúde gratuito em Cuba.


Leia mais no especial Venezuela
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade