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20/04/2002
-
05h20
MARCIO AITH
enviado especial a Caracas
Pedro Carmona Estanga, o líder empresarial que presidiu a junta provisória da Venezuela depois do golpe de Estado da semana passada, admitiu a participação do setor privado em reuniões reservadas que determinaram a deposição do presidente Hugo Chávez e visaram sustentar o novo governo. "Mas isso não significa que eu fosse um fantoche desses interesses", disse ele em entrevista à Folha, de seu apartamento, em Caracas, onde se encontra em prisão domiciliar. "Fui movido por convicção."
Carmona, que disse ter amigos no Brasil, reconheceu ainda que "pode ter sido um erro" não ter submetido ao resto da sociedade civil o decreto que dissolveu os Poderes logo após sua posse. "Isso pode ter gerado dúvidas."
Ele negou que sua administração efêmera (menos de 48 horas) tenha sido ditatorial: "Não diga isso. Havia aspectos questionáveis naquele decreto, mas há que se considerar a situação em que estávamos".
Leia a seguir trechos da entrevista que Carmona deu à Folha.
Folha - Há duas semanas, o sr. era visto por parte da população como símbolo de resistência ao governo Chávez. Agora, está em prisão domiciliar e o chamam de golpista. O que deu errado?
Pedro Carmona Estanga - Não sou golpista. Assumi a responsabilidade de liderar um governo provisório porque a renúncia de Chávez foi anunciada oficialmente. Se estou nesta situação é porque não sou covarde.
Folha - O sr. diz que agiu por convicção, não como instrumento de interesses privados. No entanto como explica que somente um grupo restrito de empresários e um assessor do ex-presidente Carlos Andrés Pérez redigiram o decreto suspendendo os Poderes?
Carmona - Isso é uma besteira. Agi conforme minha consciência.
Folha - Na sexta-feira de manhã, horas depois do golpe, o sr. se reuniu com os donos de emissoras de TV. Sobre o que conversaram?
Carmona - Foi uma reunião de trabalho. Reuni-me com vários setores da sociedade, inclusive com os meios de comunicação. Foi um encontro casual.
Folha - Os sr. pediu que as manifestações favoráveis a Chávez fossem censurados? Eles lhe ofereceram isso?
Carmona - Não pedi nada. Os meios tomaram suas próprias decisões.
Folha - Durante sua curta Presidência, o sr. falou com alguma autoridade da América Latina?
Carmona - Não.
Folha - O Brasil e demais países da região não o reconheceram como o presidente legítimo da Venezuela. O que o sr. acha disso?
Carmona - Esses países tomaram suas decisões com base nas informações de que dispunham. Eu tomei as minhas com as informações a que tive acesso. Quanto ao Brasil, trata-se de um país que conheço bem e admiro muito. Dediquei anos de minha vida à integração comercial do continente e viajei muito ao Brasil. Tenho muitos amigos no Brasil.
Folha - Quem são eles?
Carmona - Este não é um momento adequado para dizer.
Folha - Com que autoridades norte-americanas o sr. conversou nos últimos meses?
Carmona - Em novembro passado, liderei uma missão empresarial a Washington. Conversamos com autoridades sobre economia, mas não falamos de Chávez. No sábado passado, recebi o embaixador norte-americano em Caracas e transmiti a ele o que estava ocorrendo. Só isso. Nunca pediram nada a mim.
Folha - O sr. conversou com Otto Reich, principal funcionário do governo dos EUA para assuntos latino-americanos?
Carmona - Não, nunca.
Leia mais no especial Venezuela
Carmona nega ter sido "fantoche"
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enviado especial a Caracas
Pedro Carmona Estanga, o líder empresarial que presidiu a junta provisória da Venezuela depois do golpe de Estado da semana passada, admitiu a participação do setor privado em reuniões reservadas que determinaram a deposição do presidente Hugo Chávez e visaram sustentar o novo governo. "Mas isso não significa que eu fosse um fantoche desses interesses", disse ele em entrevista à Folha, de seu apartamento, em Caracas, onde se encontra em prisão domiciliar. "Fui movido por convicção."
Carmona, que disse ter amigos no Brasil, reconheceu ainda que "pode ter sido um erro" não ter submetido ao resto da sociedade civil o decreto que dissolveu os Poderes logo após sua posse. "Isso pode ter gerado dúvidas."
Ele negou que sua administração efêmera (menos de 48 horas) tenha sido ditatorial: "Não diga isso. Havia aspectos questionáveis naquele decreto, mas há que se considerar a situação em que estávamos".
Leia a seguir trechos da entrevista que Carmona deu à Folha.
Folha - Há duas semanas, o sr. era visto por parte da população como símbolo de resistência ao governo Chávez. Agora, está em prisão domiciliar e o chamam de golpista. O que deu errado?
Pedro Carmona Estanga - Não sou golpista. Assumi a responsabilidade de liderar um governo provisório porque a renúncia de Chávez foi anunciada oficialmente. Se estou nesta situação é porque não sou covarde.
Folha - O sr. diz que agiu por convicção, não como instrumento de interesses privados. No entanto como explica que somente um grupo restrito de empresários e um assessor do ex-presidente Carlos Andrés Pérez redigiram o decreto suspendendo os Poderes?
Carmona - Isso é uma besteira. Agi conforme minha consciência.
Folha - Na sexta-feira de manhã, horas depois do golpe, o sr. se reuniu com os donos de emissoras de TV. Sobre o que conversaram?
Carmona - Foi uma reunião de trabalho. Reuni-me com vários setores da sociedade, inclusive com os meios de comunicação. Foi um encontro casual.
Folha - Os sr. pediu que as manifestações favoráveis a Chávez fossem censurados? Eles lhe ofereceram isso?
Carmona - Não pedi nada. Os meios tomaram suas próprias decisões.
Folha - Durante sua curta Presidência, o sr. falou com alguma autoridade da América Latina?
Carmona - Não.
Folha - O Brasil e demais países da região não o reconheceram como o presidente legítimo da Venezuela. O que o sr. acha disso?
Carmona - Esses países tomaram suas decisões com base nas informações de que dispunham. Eu tomei as minhas com as informações a que tive acesso. Quanto ao Brasil, trata-se de um país que conheço bem e admiro muito. Dediquei anos de minha vida à integração comercial do continente e viajei muito ao Brasil. Tenho muitos amigos no Brasil.
Folha - Quem são eles?
Carmona - Este não é um momento adequado para dizer.
Folha - Com que autoridades norte-americanas o sr. conversou nos últimos meses?
Carmona - Em novembro passado, liderei uma missão empresarial a Washington. Conversamos com autoridades sobre economia, mas não falamos de Chávez. No sábado passado, recebi o embaixador norte-americano em Caracas e transmiti a ele o que estava ocorrendo. Só isso. Nunca pediram nada a mim.
Folha - O sr. conversou com Otto Reich, principal funcionário do governo dos EUA para assuntos latino-americanos?
Carmona - Não, nunca.
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