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24/04/2002
-
05h11
PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo
A onda de escândalos sexuais envolvendo padres norte-americanos obrigou a Igreja Católica, pouco afeita a debates públicos em torno de temas polêmicos, a tomar uma atitude, ainda que tardia e por enquanto insuficiente.
Já em 1983, surgia um dos primeiros casos nos EUA. Apesar de divulgado por um dos principais jornais católicos norte-americanos, o "National Catholic Reporter", foi praticamente ignorado pelo Vaticano. Em geral, a reação do bispo resumia-se a transferir o padre de paróquia. Justamente por isso aumenta a pressão para que o cardeal Bernard Law, arcebispo de Boston, e, de forma menos incisiva, o cardeal Edward Egan (de Nova York) renunciem.
Sobre Law, próximo ao papa devido a sua posição teológica conservadora, pesam 880 páginas de arquivos que indicariam que protegeu e até promoveu alguns padres ligados a casos de abuso sexual. Egan é acusado de acobertar abusos apesar de uma lei de 1971 obrigá-lo a reportá-los.
Em 1985, quando veio à tona a revelação de que a igreja estava pagando milhões de dólares a famílias cujos filhos haviam sido molestados por padres, o silêncio se manteve, garantido por cláusulas de sigilo. Organizações católicas afirmam que não houve um trabalho paralelo para restaurar a confiança no clero católico e proteger as crianças. A igreja se baseava em imperativos jurídico-financeiros, não pastorais, argumentam.
A princípio, a onda de escândalos sexuais foi encarada como um tema administrativo com o qual deveriam lidar em um nível local. Os bispos teriam condições de resolver os problemas em suas dioceses, acreditava o Vaticano.
O papa João Paulo 2º resolveu intervir no caso depois que uma delegação de bispos norte-americanos acenou com um pedido de socorro ao Vaticano.
Os escândalos adquiriam uma dimensão bem maior que a prevista. Dos cerca de 40 mil padres nos EUA, por volta de 5% estariam sendo acusados de abusos sexuais, segundo relatos da igreja. A polícia montou equipes especiais de investigação.
Pesquisa divulgada anteontem pela ABC News e pelo "Washington Post" revela que três quartos dos norte-americanos acham que a Santa Sé não dedicou a devida atenção às acusações de pedofilia. Indica, no entanto, que 64% acham que ainda há tempo para reparar o estrago (30% dos consultados discordam).
A mensagem é clara: o que está em jogo atualmente é a autoridade moral da Igreja Católica, que subestimou a importância da polêmica e agora precisa de transparência e ações concretas contra o grave problema.
Igreja tenta manter autoridade moral após casos de abusos
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da Folha de S.Paulo
A onda de escândalos sexuais envolvendo padres norte-americanos obrigou a Igreja Católica, pouco afeita a debates públicos em torno de temas polêmicos, a tomar uma atitude, ainda que tardia e por enquanto insuficiente.
Já em 1983, surgia um dos primeiros casos nos EUA. Apesar de divulgado por um dos principais jornais católicos norte-americanos, o "National Catholic Reporter", foi praticamente ignorado pelo Vaticano. Em geral, a reação do bispo resumia-se a transferir o padre de paróquia. Justamente por isso aumenta a pressão para que o cardeal Bernard Law, arcebispo de Boston, e, de forma menos incisiva, o cardeal Edward Egan (de Nova York) renunciem.
Sobre Law, próximo ao papa devido a sua posição teológica conservadora, pesam 880 páginas de arquivos que indicariam que protegeu e até promoveu alguns padres ligados a casos de abuso sexual. Egan é acusado de acobertar abusos apesar de uma lei de 1971 obrigá-lo a reportá-los.
Em 1985, quando veio à tona a revelação de que a igreja estava pagando milhões de dólares a famílias cujos filhos haviam sido molestados por padres, o silêncio se manteve, garantido por cláusulas de sigilo. Organizações católicas afirmam que não houve um trabalho paralelo para restaurar a confiança no clero católico e proteger as crianças. A igreja se baseava em imperativos jurídico-financeiros, não pastorais, argumentam.
A princípio, a onda de escândalos sexuais foi encarada como um tema administrativo com o qual deveriam lidar em um nível local. Os bispos teriam condições de resolver os problemas em suas dioceses, acreditava o Vaticano.
O papa João Paulo 2º resolveu intervir no caso depois que uma delegação de bispos norte-americanos acenou com um pedido de socorro ao Vaticano.
Os escândalos adquiriam uma dimensão bem maior que a prevista. Dos cerca de 40 mil padres nos EUA, por volta de 5% estariam sendo acusados de abusos sexuais, segundo relatos da igreja. A polícia montou equipes especiais de investigação.
Pesquisa divulgada anteontem pela ABC News e pelo "Washington Post" revela que três quartos dos norte-americanos acham que a Santa Sé não dedicou a devida atenção às acusações de pedofilia. Indica, no entanto, que 64% acham que ainda há tempo para reparar o estrago (30% dos consultados discordam).
A mensagem é clara: o que está em jogo atualmente é a autoridade moral da Igreja Católica, que subestimou a importância da polêmica e agora precisa de transparência e ações concretas contra o grave problema.
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